Nascido e criado no campo, o senegalês Ely Manel Fall fala do carinho que tem pela cultura gaúcha
Diariamente, quem passa pela rua Ramiro Barcelos, uma das principais no Centro de Montenegro, provavelmente já se deparou com a figura muito conhecida. Enquanto os hits internacionais do momento embalam as compras em grande parte do comércio, é da barraquinha de acessórios do senegalês Ely Manel Fall, 28, que tocam os maiores sucessos da música nativista e tradicionalista gaúcha, um hábito que já faz parte da rotina do vendedor ambulante que se considera gaúcho de coração.
De jeito simpático e um pouco tímido, o rapaz conta que, assim como muitos dos africanos que hoje vivem em Montenegro, ele também veio em busca de uma vida melhor. “Cheguei ao Brasil procurando ter melhores condições para viver e, principalmente, poder ajudar minha família que ficou no Senegal”, comenta o jovem, que não imaginava encontrar tanta semelhança entre o Rio Grande do Sul e sua terra de origem, o que logo lhe despertou um carinho especial pelo Estado.
“Me chamou à atenção a forma como as pessoas gostam do meio rural, o encanto com os cavalos e como lidam com o gado. Isso lembra muito minha terra porque nossa cultura do campo também é assim”, disse Fall. “Eu cresci no campo, cultivando muitas das coisas que também são produzidas aqui, como amendoim, milho e alguns legumes.”
Com letras que retratam e analtecem o homem campeiro, as músicas tradicionalistas e nativistas se tornaram uma das maiores paixões do rapaz que, é claro, tem a sua favorita: “Tenho orgulho de ser campeiro”, do cantor e compositor Baitaca. “Eu nasci e cresci no campo. Por isso gosto tanto dessa canção e sempre coloco essas músicas, essa é uma forma de me manter próximo da minha cultura”, comenta Fall, que ainda revelou outro segredo. “Eu adoro chimarrão, tanto que tenho cuia, bomba e erva em casa, e sempre que posso faço um em casa.”
Entre uma venda e outra, o africano conta que deixou a filha de 5 anos, a mãe, o pai e os três irmãos na África. “É muito difícil ficar longe, mas eu os ajudo com o meu trabalho”, disse o rapaz, que chegou a Montenegro em 2015. “Assim que cheguei, no mês dezembro, lembro que estava tendo uma festa tradicionalista no Parque Centenário. Achei tudo muito lindo e fui bem recebido”, relembra o senegalês, que contou com a hospitalidade do povo gaúcho para lidar com a saudade da família e da adaptação no novo país.
Uma rica troca de cultura, afeto e respeito
Desde que chegou em Montenegro, o senegalês Ely Manel Fall conta com o apoio e carinho de diversas pessoas no seu processo de adaptação. Mas, entre elas, uma é mais que especial: é a autônoma Adriane de Vargas Prisco, quem ele hoje considera como uma segunda mãe. “Ela mora aqui”, disse ele, apontando para o coração.
Filha de rotariano, a montenegrina revela que sempre buscou ajudar todos a sua volta, e foi por conta dessa visão mais empática de mundo que se aproximou do rapaz. “Ele veio de longe e enfrentou muitos desafios. E, mesmo tendo pouco, eu o ajudo como posso e o considero como meu filho mais velho”, disparou Adriane, acrescentando que, tanto a filha Sabrina Prisco Malta, de 9 anos, quanto o esposo Jailson dos Santos Malta já o consideram parte da família.
“Todo mundo lá em casa gosta e respeita os que costumes dele, principalmente os religiosos. Acho que existe, de certa forma, uma troca cultural, onde tanto ensinamos quanto aprendemos com ele”, comenta Adriana. “Ele já fez comida para nós e nós já fizemos um churrasco gaúcho para ele e até uma festinha de aniversário. Foi lindo. Não sabíamos, mas foi a primeira da vida dele”, disse, emocionada.