Dezenas de produtores rurais e outros atores envolvidos na produção primária na região estão reunidos nesta quinta-feira, dia 26, no Centro Comunitário Católico de Brochier para participar do VII Seminário de Agroecologia do Vale do Caí. Com palestras, rodas de conversa e troca-troca de sementes e mudas, o evento, que não acontecia deste 2014, destaca a importância de uma produção sustentável e sem agrotóxicos e dos benefícios dela para a saúde.
Pela manhã, o tema da agroecologia e saúde foi abordado em palestra do engenheiro agrônomo e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) no Campus Bento Gonçalves, Luis Carlos Diel Rupp. Segundo ele, uma produção agroecológica evita o uso de químicos, que são perigosos para a saúde e o meio ambiente.
“Quando o agricultor deixa de usar agrotóxicos ele se livra de uma grande fonte de contaminação, de poluição e de problemas de saúde”, resumiu. Luis ressaltou que existem diversos trabalhos acadêmicos e pesquisas que comprovam que muitos dos químicos presentes em defensivos agrícolas são tóxicos e cancerígenos.
O engenheiro agrônomo ressaltou que é possível ter grandes cultivos de forma sustentável. “Existem exemplos no Brasil e no mundo todo de que é possível fazer agricultura orgânica desde a pequena escala do agricultor familiar até a grande escala”, enfatizou.
O professor destacou, ainda, a importância de o seminário debater o tema de agroecologia e saúde. Apesar de observar que a agricultura não é o único vilão no que tange as mudanças climáticas e que os agrotóxicos não são as únicas fontes de exposição a químicos da população, Luis apontou que mais precisa ser feito. “Nós estamos mergulhados num mar de químicos que são comprometedores, mas a agricultura pode fazer mais do que está fazendo para defender o meio ambiente”, defendeu.
Membro da Organização de Controle Solidário (OCS) Cultivar, de Brochier, e também atuando na Ecocitrus, o engenheiro agrônomo Daniel Büttenbender afirmou que a agroecologia vem crescendo bastante ultimamente e que a retomada do seminário regional é importante neste contexto. “Para deixar a população mais informação o seminário é aberto e todos podem participar, mas também é um momento onde os grupos que trabalham na agroecologia se fortalecem, se encontram e trocam ideias”, disse.
Enfatizando a necessidade de debater o tema, o gerente regional da Emater, Carlos Lagemann disse que é necessário reavaliar a frequência do seminário e desafiou os grupos organizados de produtores agroecológicos a realizar mais vezes o evento, colocando a Emater à disposição. “Eventos como esse no enchem de orgulho”, afirmou. O prefeito de Brochier, Clauro Josir de Carvalho, também reforçou a importância de o seminário ser realizado mais seguidamente. “A produção do alimento é a mais importante que a gente tem”, realçou.
Após o almoço, a programação retorna às 13h30min com palestra sobre a Portaria 52/2021 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e problematização sobre produção fora do solo e sementes e mudas na produção orgânica. Na sequência, às 14h, serão debatidos avanços e soluções para essa problematização. O debate segue, com participação do público, a partir das 14h30min. Às 15h serão dados os encaminhamentos do seminário, seguido de momento de troca-troca de sementes e mudas. O encerramento está previsto para as 16h.
Seminário atraiu públicos diferentes
O VII Seminário Regional de Agroecologia do Vale do Caí atraiu entusiastas da produção agroecológica de diferentes histórias. Estavam presentes produtores que sempre realizaram o manejo agroecológico em suas propriedades, aqueles que aderiram mais recentemente e, ainda, estudantes.
Aos 75 anos, Martin Henrique Maurer se fez presente no seminário. Produzindo citros e também tendo cultura de subsistência em sua propriedade que fica na divisa entre Santos Reis, em Montenegro, e Macega, em Maratá, lembrou que a terra que ele cultiva sempre foi bem preserva pelos antepassados.
Anos atrás, o produtor rural chegou a usar agrotóxicos, mas após quase se envenenar resolveu partir para a produção orgânica e agroecológica. “Na verdade, eu acho que eu nasci um pouco com isso (de produzir agroecológicamente)”, ponderou. Também sócio-fundador da Ecocitrus, Martin reforçou que a agroecologia é muito importante para o mundo. “É uma forma de não sairmos fora do equilíbrio da natureza”, assegurou.
Se de um lado havia a experiência, de outro havia quem queria aproveitá-la. Foi o caso das estudantes brochienses Graziela Schumacher, 18 anos, e Jovana Georg, 17 anos, que estudam na Escola Família Agrícola da Serra Gaúcha, em Caxias do Sul. “É para complementar o que a gente aprende na escola e para aprender mais e aprofundar os conhecimentos. É sempre melhor agregar um pouco mais de conhecimento”, comentaram.
Busca por vida saudável e diversidade
Por preconizar uma plantação sem uso de agrotóxicos, a agroecologia tem relação direta com uma busca por uma vida saudável. E foi atrás de uma melhora na qualidade de vida que a produtora rural Loraine Von Muehlen, 61 anos, apostou na produção agroecológica em sua horta orgânica em Novo Paris, em Brochier, que transformou-se numa agroindústria de produtos minimamente processados.
“Optei por melhorar a minha qualidade de vida e fiz disso uma profissão”, enfatizou. Segundo ela, o consumo de alimento sem agrotóxicos traz mais saúde para as pessoas. Nesse sentido, a diversificação também é importante e esteve presente no evento por meio do troca-troca de sementes e mudas. Ali, os participantes puderam trazer sementes ou mudas e levaram outras para casa. “O que elas não têm ou não conhecem elas levam para diversificar”, ressaltou Loraine, que estava de responsável pela organização do troca-troca.
Agroecologia x produção orgânica
Uma polêmica em torno do tema da agroecologia é a produção orgânica. Conforme explicou o engenheiro agrônomo Daniel Büttenbender, existe uma legislação que define o que é uma produção orgânica. No entanto, uma produção agroecológica envolve relações mais amplas, sendo um cultivo onde o ambiente é considerado como um todo. “Eu sempre digo: eu posso ser orgânico sem ser ecológico. A agroecologia é um respeito ao ciclo real que acontece na natureza. As interações são levadas em conta: os micro-organismos, as espécies, a diversidade”, colocou Daniel.