Semana da Agricultura Familiar aborda agroflorestas

Manejo agroflorestal e gestão rural das pequenas propriedades foram os temas do primeiro dia da programação

Começaram ontem as atividades da 1ª Semana Municipal da Agricultura Familiar. O evento é uma proposição da vereadora Josi Paz (PSB), que agora está incluído no Calendário Oficial do município para ocorrer anualmente. De acordo com Josi, ele nasceu de uma vontade dos produtores rurais montenegrinos, que pediam mais apoio e valorização às boas práticas no segmento.

Antes de conhecer as terras, Luís Laux (D), junto do pai (E), contaram um pouco da história da produção

Com realização da Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural (SMDR), e apoio da Câmara de Vereadores e da Emater, a primeira atividade da programação, que vai até sexta-feira (27) foi uma visita à propriedade da família Laux, em Faxinal, para a apresentação do conceito de manejo agroflorestal – prática já aplicada por alguns produtores do município.

Em termos gerais, a agrofloresta consiste em culturas que são plantadas em meio à mata nativa. Ali, no meio das árvores, os alimentos cultivados recebem sombra; usufruem da matéria orgânica que cai da mata; e ficam mais protegidos de pragas e de intempéries climáticas. Na propriedade visitada, são 28 hectares de citros plantados neste sistema.

Ontem, mesmo com a chuva, cerca de 15 pessoas participaram da visita, vindas de diferentes localidades de Montenegro para conhecer mais sobre a aplicação. Equipados com botas e guarda-chuvas, eles fizeram uma caminhada pelas terras, realizando paradas para receberem instruções e fazerem questionamentos aos proprietários e especialistas presentes.

Dono das terras, Luís Carlos Laux lembrou que, desde quando a família passou a trabalhar com os citros, atuaram “contra a maré”, sem utilizar os herbicidas e fungicidas que estavam em alta, lá no início dos anos 90. Ali, e com parceiros, os Laux desenvolveram o primeiro projeto com certificação orgânica do Estado. O manejo agroflorestal começou a ser pensado no ano 2000 e posto em prática em 2002, diante de uma necessidade da produção.

Com os presentes, Luís recordou que, em 1994, foram registradas as primeiras aparições da pinta preta – um fungo que ataca a casca e a folha dos citros, levando à perda de valor. Contrária ao uso dos fungicidas, a família passou a estudar formas de combater a praga. Na propriedade ecológica, eles acabaram notando que, nas bordas – onde haviam árvores plantadas para evitar a chegada de contaminação das terras vizinhas – a incidência da pinta era mais baixa, por causa da sombra. Começou-se, então, a conceber a transferência daquilo para dentro do pomar.

Diante da agrofloresta resultante da ideia, o agricultor ressaltou que é preciso uma mudança de percepção do produtor que quer se apropriar do manejo diferenciado. “É preciso quebrar essa imagem e esse parâmetro de pomar que a gente tem, com ele limpinho e só com o arvoredo de frutas”, disse. “O sistema agroflorestal choca à primeira vista, pois a imagem do pomar sempre vem daquele jeito. Quando a gente vai mudar de sistema, tem que trabalhar primeiro a cabeça”.

Novos agricultores atentos às pautas do evento
Dentre os participantes, estava a futura agricultora Márcia de Oliveira. Aos 45 anos, a técnica de enfermagem está se preparando para, junto do marido, que trabalha nos Correios, mudar-se para a localidade de Pesqueiro e dedicar-se à prática rural. Eles já têm a propriedade. “É mais pelo sossego e por ali não ser tão longe da cidade”, explica. O casal pretende trabalhar com a citricultura e com a piscicultura.

Atenta às explicações dadas nas terras dos Laux, Márcia diz que pretende trabalhar só com orgânicos e que, para os citros, deve aplicar o manejo agroflorestal desde o início da produção. Quanto à lida com os peixes, ela adianta que a propriedade trabalhará com carpas e destaca o apoio que recebeu da SMDR, que a colocou a par do treinamento de piscicultores oferecido no Centro de Treinamento de Agricultores, repassou orientações e viabilizou a abertura do açude. O casal também contou com algumas isenções através de leis federais e estaduais de incentivo aos pequenos produtores.

Gestão rural foi tema de palestra no campus da Unisc
As principais atividades da tarde ocorreram no campus Montenegro da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Lá, 17 participantes reuniram-se com especialistas da instituição em uma palestra sobre gestão rural nas propriedades de agricultura familiar. O evento foi ministrado pelos professores Cidonea Machado Deponti e Fernando Fontoura, profissionais que integram o Núcleo de Extensão Tecnológica e Gestão Rural para a Agricultura Familiar da Unisc.

Em uma sala de aula da universidade, produtores aprenderam sobre a importância da gestão

Desde as 13h30, os participantes receberam instruções sobre a importância da visão econômica dentro das propriedades, com “pinceladas” sobre estratégias de mercado e identificação de nichos; a preocupação com a sucessão das terras; e a necessidade de um bom controle do dinheiro que entra e sai do negócio familiar, a partir de uma boa definição dos custos fixos e variáveis. “Até que ponto vocês conseguirão se desenvolver sem fazer esses controles?”, instigou o professor Fernando.

Cidonea detalhou o trabalho do Núcleo, que oferece oficinas gratuitas para a aplicação dos conceitos da Administração e da Contabilidade na prática da vida rural. “O Núcleo vem tentando trabalhar com a perspectiva de conhecer as propriedades e fazer esse acompanhamento. Para que possamos construir com o que vocês têm de conhecimento, junto com o que a gente tem e que vocês se tornem autônomos nisso”, disse.

Após a palestra dos docentes, dois graduandos da universidade, que também são agricultores, contaram como foi, na prática, a aplicação dos conceitos aprendidos em aula dentro da propriedade em que trabalham. Dentro das atividades da 1ª Semana Municipal da Agricultura Familiar, ainda, seguiu-se uma visita à propriedade da família de Rodrigo Faria e Raul Schütz, em São José do Sul. A programação segue até sexta-feira.

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