Foram 26 horas sem luz em Serra Velha e 44 horas em Bom Jardim
Não é de hoje que o abastecimento de energia elétrica deixa a desejar no interior de Montenegro e região. A demanda é antiga e se mostrou ainda existente durante a Virada do ano. Na localidade de Bom Jardim, no trecho que pertence à Brochier, teve residências que ficaram 44 horas sem luz, desde às 15h do dia 31 de dezembro até as 11h desta quinta-feira, dia 2.
Na Serra Velha, em Montenegro, foi menos, mas igualmente problemático: 26 horas sem energia, das 14h do dia 31 até por volta das 16h da quarta-feira, dia 1º. Por lá, até chegou a faltar de novo, perto das 17h, com o abastecimento sendo retomado só às 21h.
Em meio ao calorão, passar todo esse tempo sem um ventilador foi um desafio; e a preocupação com a conservação dos alimentos congelados, então, foi constante.
Nessa manhã, em meio a tanta espera, o morador de Bom Jardim, Marlon Machado, colocou seu freezer no reboque do carro e levou o equipamento até a casa da mãe, no centro do Município, para aproveitar a luz. Usou a oportunidade para recarregar os celulares da casa antes que ficasse incontactável.
“Nós não sabemos mais o que fazer. Cansamos de ligar (para a RGE)”, desabafou ele, em contato com a reportagem da casa da mãe, ainda na manhã desta quinta. “Não é a primeira vez que acontece. Quando um galho voa, desarma as facas. É questão de vinte minutos de serviço só para religar.”
A equipe só chegou para resolver o problema por volta das 11h, muito depois das previsões de normalização dadas ao morador durante o plantão. Machado conta que primeiro lhe disseram que resolveriam até as 19h30 do dia 31, depois até as 16h do dia 1º, e assim foi. Já para a cunhada, Maira da Rosa, que também estava em contato com a RGE, uma das atendentes chegou a afirmar neste dia 2 que, pela manhã, não havia nenhuma solicitação de serviço para a localidade.
Foi preciso criatividade para driblar o problema
Com os familiares todos organizados para comemorar o final de ano juntos, Marlon Machado e os parentes organizaram, em Bom Jardim, uma grande fogueira para iluminar o pátio e poderem celebrar a entrada de 2020. No dia 1º, fizeram um churrasco ao meio dia e, com medo de que a carne sobressalente estragasse, assaram mais um pouco no fim da tarde. “Pelo menos assada, ela não estraga”, conta o morador. O que sobrou foi junto com o freezer para a casa da mãe, no centro de Brochier.
Com a falta de luz na Serra Velha, também foram necessárias alternativas. Na Igreja Assembleia de Deus, é um costume reunir os conhecidos para uma confraternização de Réveillon na noite do dia 31. O grupo precisou se virar para não ficar no escuro. “Tivemos que usar lâmpadas de emergência e uma iluminação ligada na bateria de automóvel”, contou Jorge Diego de Oliveira. “Um calor insuportável. As crianças e os idosos são os que mais sofrem. Como ficar em um ambiente fechado sem, no mínimo, um ventilador?”
Por lá, segundo o morador, a falta de luz foi causada pela queda de uma árvore de eucalipto sobre a rede. Mas o problema é antigo. Em novembro passado, Serra Velha ficou quatro dias sem energia. A comunidade chegou a fazer um abaixo-assinado e procurou o Procon Municipal. A demanda culminou em dois processos abertos contra a RGE: um cobrando esclarecimentos sobre as demoras nos atendimentos; outro sobre os prejuízos causados.
Um dos agravantes é que muitas das residências do interior dependem de poços com motor elétrico, sem ter água encanada. Acabam sem nem ter o que beber quando há falta de luz.
ATUALIZAÇÃO – O QUE DIZ A RGE SOBRE O CASO: “Há equipes realizando atendimentos de falta de energia em localidades do interior do município, principalmente em Serra Velha e Bom Jardim. As ocorrências constam no roteiro e estão sendo atendidas. A energia vai sendo restabelecida aos clientes conforme os trabalhos de recomposição da rede são concluídos. A distribuidora ressalta que a principal causa de falta de energia na região é o toque de vegetais sobre a rede. É possível perceber, ao longo do alimentador que leva energia até Serra Velha, por exemplo, a presença de árvores de grande porte que estão fora da faixa de domínio da rede e que, por isso, não podem receber qualquer ação de parte da RGE. Em dias de fortes ventos, como os registrados neste feriado, partes ou as árvores inteiras acabam danificando cabos e outros componentes da rede. Por isso é importante que, ao plantar qualquer árvore, os moradores analisem o espaço e projetem o crescimento daquela muda. Recomenda-se que perto de redes elétricas ou mesmo do ramal de ligação do cliente – o fio que sai do poste e vai até a casa ou prédio – não se plante árvores de maior porte. Espécies de médio e grande porte devem ser plantadas, preferencialmente, em praças e espaços que comportem o seu desenvolvimento pleno a fim de não gerar conflitos com as estruturas do contexto urbano em geral (redes de energia elétrica, água, internet, calçamentos, etc.).”