EL NIÑO favorece a ocorrência de precipitações com altos volumes
O inverno de 2023 deve apresentar um índice elevado de chuvas e ser menos rigoroso em termos de temperaturas em todo o Rio Grande do Sul. Nos próximos meses, o evento El Niño favorecerá a ocorrência de precipitações regulares, com altos volumes acumulados ao longo do segundo semestre. Vinícius Lucyrio, meteorologista da Climatempo, explica que o fenômeno deve iniciar, de fato, ao longo do inverno. Ele se caracteriza pelo aquecimento das águas do oceano Pacífico na região equatorial, entre a América do Sul e a Oceania.
Segundo o meteorologista, o fenômeno, mesmo distante, afeta a circulação atmosférica de modo a deixar o Sul do Brasil com mais umidade. “No Sul, este aumento da chuva se deve pela intensificação dos fluxos de ar quente e úmido que chegam à região, em especial no Rio Grande do Sul, que em contraste com o ar mais frio e seco de origem polar deixam as condições favoráveis para a ocorrência de chuvas volumosas e mais temporais, com maior propensão a enchentes”, detalha.
Ainda conforme ele, o aumento da chuva ocorre principalmente entre a segunda metade do inverno e ao longo da primavera, quando o contraste térmico é maior. Ele explica que a tendência para este ano é de chuvas mais frequentes e intensas, com risco para transtornos no Rio Grande do Sul. “Este risco é maior em áreas do oeste e norte gaúcho, mas todo o estado estará sujeito a acumulados superiores à média histórica. Entre setembro e novembro é quando são esperados os maiores volumes de chuva”, afirma.
O Boletim do Clima elaborado pelo Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro), da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), também aponta a previsão. “Nos próximos meses, a efetivação do evento El Niño favorecerá a ocorrência de precipitação regulares, com altos volumes acumulados ao longo do segundo semestre”, avalia o coordenador do Simagro, meteorologista Flávio Varone.
O boletim também mostra que as temperaturas máximas deverão ficar próximas ou ligeiramente acima da média no mês de junho e inferiores à normalidade nos meses de julho e agosto. Já as temperaturas mínimas deverão apresentar valores superiores ao padrão climatológico nos meses de junho e julho, e inferiores à média na maioria das regiões no decorrer do mês de agosto.
Prefeitura conserta redes quebradas
Canos muito antigos e desgastados, ligações mal feitas e a trepidação provocada por carros e caminhões provocam danos à rede pluvial da cidade com frequência. No mês de maio, a Diretoria de Serviços Urbanos fez 37 recuperações de rede – mais de uma por dia – em diversos pontos.
A erosão provocada pelos danos na tubulação ocorre tanto nas calçadas quanto nas ruas, causando transtornos e colocando em risco pedestres e motoristas. De acordo com o diretor Wesley Simões, ainda existe um grande número de consertos a realizar porque, ao longo da última década, os investimentos neste tipo de melhoria ficaram muito aquém do necessário. “Estamos trabalhando muito, em todos os bairros, mas o desafio é grande”, destaca.
Cada vez que um duto da rede pluvial se rompe, ocorre uma acomodação do terreno. O cano entope e não dá vazão à àgua da chuva, provocando alagamentos. Na superfície, surgem os buracos, que podem levar a graves acidentes. Em alguns locais, é preciso abrir “crateras” com vários metros de profundidade e diâmetro, com máquinas pesadas, para localizar o dano, fazer o conserto, cobrir o terreno e, depois, providenciar a pavimentação.
Como Montenegro é uma cidade muito antiga, em alguns bairros, a rede pluvial tem várias décadas. As comunidades foram crescendo, mas os canos são os mesmos, embora a pressão sobre eles tenha aumentado muito. Além disso, ruas que há cerca de 20 ou 30 anos quase não tinham movimento, hoje possuem grande fluxo de veículos e até de caminhões. A trepidação provocada por essa movimentação está na raiz de muitos desses danos.
Wesley explica que, havendo mais de um buraco em extensões curtas, tenta-se fazer a substituição dos canos em todo o trecho. Estes trabalhos são realizados desde 2021, mas foram intensificados em virtude da previsão de fortes chuvas para o segundo semestre, por conta do fenômeno El Niño. Trabalhos foram realizados nos bairros São Paulo, Santa Rita, Rui Barbosa, Centenário, Centro, Aeroclube, São Pedro, Bela Vista, Olaria, Progresso, Zootecnia, Timbaúva, Santo Antônio, Panorama, São João, Senai, Faxinal, Porto dos Pereira e Germano Henke.
Montenegro se prepara para previsão
Os impactos da previsão podem ser grandes para o Vale do Caí. Em Montenegro, a Secretaria Municipal de Viação e Serviços Urbanos está trabalhando no desassoreamento dos Arroios São Miguel e Olaria e, nos próximos dias, deve iniciar uma ação de limpeza no banhado do bairro Imigração. O objetivo é prevenir os alagamentos e os danos aos moradores das proximidades em caso de enxurradas. A previsão de chuvas mais intensas torna a ação ainda mais necessária. De acordo com o secretário municipal de Viação e Serviços Urbanos (SMVSU) Neri de Mello Pena, o Cabelo, os trabalhos iniciaram há cerca de 30 dias e devem levar ainda mais um mês para serem concluídos. “A gente vai executando por etapas, à medida em que saem as licenças ambientais”, explica.
A limpeza é feita com o uso de uma escavadeira hidráulica e caminhões para o transporte do material. Segundo o diretor de Serviços Urbanos da SMVSU, Wesley Simões, em dois dias de limpeza, foram retirados 300 metros cúbicos de sedimentos. “Esse material dificulta o escoamento das águas e reduz o fluxo de drenagem das águas pluviais”, destaca. A comunidade pode e deve colaborar para não agravar o problema. Uma dica simples é nunca jogar lixo nos mananciais, ou mesmo nas ruas, onde a própria chuva se encarrega de levá-los para a tubulação e os cursos d’água.
Já Carlos Ferrão, coordenador da Defesa Civil de Montenegro, afirma que a cidade conta hoje com um Plano de Contingência e também o Plano de Abrigamento, pensando já em enxurradas e possíveis enchentes. Segundo ele, o de abrigamento será no ginásio do bairro Cinco de Maio, devido à melhor logística, e o Gabinete de Crise no Corpo de Bombeiros. Ele ainda afirma que até o final do ano deve iniciar a obra para troca de tubulação no bairro São João, mas que, por enquanto, não há mais bairros com previsão para troca. Por fim, Ferrão ressalta que “a Defesa Civil hoje em Montenegro é operacional e está preparada para qualquer evento crítico e demais sinistros”.
Agropecuária pode ter impactos
Valmir Michels, técnico em agropecuária e extensionista rural da Emater/RS em Montenegro, afirma que não só para este período, mas em todos, deve-se apostar em uma boa cobertura de solo, evitando erosão e também para garantir a preservação das áreas de produção.
Segundo ele, o nível das chuvas pode afetar as plantações, dependendo do seu estágio. Porém, ressalta que as precipitações são fundamentais. “É cedo para fazer algum prognóstico, mas precisamos nos recuperar deste déficit hídrico. Nossos mananciais estão baixos”, assinala.