Frustração com durabilidade, além de poupar dinheiro, é fator que pesa na decisão entre restaurar ou comprar novo
Diferente da indústria dos Estados Unidos, a confecção de calçados no Brasil possui a largura de bicos padronizada, ou seja, ela não leva em conta os diferentes formatos de pés e dedos. Lesões, dores e problemas estão muito ligados ao tipo de calçado que você usa.
Para resolver esses problemas e também restaurar calçados com defeito é que ainda existe a profissão de sapateiro. Embora as sapatarias não sejam tantas em comparação às lojas, elas ainda são a preferência para muita gente que sente no bolso a falta de durabilidade do produto. Porém, quem trabalha nesta área acredita que muito em breve ela se extinguirá. Mas enquanto ainda está sendo exercida, os profissionais se empenham para manter um serviço de qualidade e confiável.
O casal Rejane da Silva Schweig, 49 anos, e Luciano Henrique Schweig, de 44, são donos da Sapataria Central e sabem bem como é essa rotina. Eles concordam que possuem pouca concorrência na cidade, mas isso não quer dizer que não há empenho em cada trabalho. “Os locais que prestam esse serviço diminuíram bastante aqui em Montenegro. Acho que além de nós, tem mais umas duas ou três. Mesmo assim é essencial fazer tudo com muita dedicação e com o melhor material possível”, declara.
Para comprovar a qualidade no atendimento ao cliente, eles oferecem 30 dias de garantia em relação ao conserto realizado.
Luciano conta que a profissão já está há cinco gerações em sua família, tendo início com seu tataravô, mas tudo indica que ele será o último dos Schweig a trabalhar com sapatos. “A profissão está sendo extinta de pouco a pouco por falta de interesse. Nenhum dos meus parentes pretende trabalhar em meu lugar e a minha filha já declarou que não pretende ser sapateira também”, conta.
A perda de qualidade no material fabricado pelas indústrias calçadistas também é um fator que entristece o casal, pois muitos produtos simplesmente são descartáveis, sem possibilidade de conserto.
Para montenegrinos, a categoria é essencial
Em apenas 30 minutos, tempo em que a reportagem do Ibiá esteve na Sapataria Central, cinco pedidos de conserto foram realizados e uma entrega efetuada, todas de mulheres. De fato, não faltam clientes e, de acordo com Rejane, o maior público é de pessoas de classe média do gênero feminino.
Uma delas é a administradora Adriana Houderbaum, 46 anos, que levou suas sapatilhas, botas e um par de calçados da filha para arrumar. Em apenas 30 minutos, tempo em que a reportagem do Ibiá esteve na Sapataria Central, cinco pedidos de conserto foram realizados e uma entrega efetuada, todas de mulheres. De fato, não faltam clientes e, de acordo com Rejane, o maior público é de pessoas de classe média do gênero feminino. Uma delas é a administradora Adriana Houderbaum, 46 anos, que levou suas sapatilhas, botas e um par de calçados da filha para arrumar. Ela afirma que a profissão é muito importante e gera menos despesas com calçados. “É muito mais barato para mim pagar pelo conserto de um sapato que eu já tenho e já me acostumei a usar do que comprar um novo”, garante. Um dos problemas que ela enfrentou na sapatilha, por exemplo, foi a formatação do calçado, que, mesmo sendo da numeração de seu pé, ficou desconfortável após poucos meses de uso. Dona Cerly Mauch, de 75 anos, é cliente da sapataria há mais de uma década. Ela diz que ter um sapateiro na cidade é ótimo, mas acredita que a profissão acabará em breve. “Tudo hoje em dia é descartável. Não é lucro para as fábricas fazerem calçados que durem ou que possam ser consertados. Por isso acho que logo não haverá mais sapateiros”, comenta. Como ela participa de muitas festas, leva seguidamente calçados gastos para que o casal faça alguns reparos. Dona Irene Lemes, de 74 anos, está ansiosa pelo conserto de sua bota. Ela não costuma sair muito de casa, mas afirma que de vez em quando precisa levar os calçados para o conserto. “É bem mais barato do que comprar um novo e o serviço é muito bem feito”, garante. Ela também já confia seus produtos nas mãos de Luciano e Rejane há cerca de dez anos e lamenta a falta de mais sapatarias na cidade. “Lembro que haviam muitas, mas foram fechando com o passar dos anos. Uma pena”, comenta.
Muito trabalho no inverno
Nesse meio, a dedicação é algo que não pode faltar. Rejane conta que ela e seu esposo já contaram com funcionários, mas acabaram optando por tocar o negócio apenas a dois. “É preciso se dedicar ao máximo. O atendimento no balcão já conta muito. Há pessoas que vêm aqui muitas para receber atenção e não podemos negar isso a elas, pois já foram, são ou provavelmente serão nossos clientes”, comenta.
O horário de trabalho estabelecido por eles é das 8h às 12h e das 13h30min às 18h, mas na prática não é bem assim. “Já até fizemos um espaço em casa para alguns consertos básicos, mas quando tem muita coisa o Luciano, principalmente, chega a trabalhar até a uma hora da madrugada. Eu não fico tanto para fazer o serviço da casa e também para não deixar nossa filha sozinha”, conta. Na maioria das vezes o casal trabalha 12 horas por dia. O motivo é que nem sempre há tanto serviço. “No inverno costuma aparecer muito, mas no verão nem tanto. Diminui pela metade a procura”, explica.
Nem só sapato conserta o sapateiro
Como os pedidos caem bastante no verão, Rejane e Luciano começaram a atender mais demandas. A costura de malas e bolsas entrou na lista das atividades na sapataria. “Precisamos nos atualizar conforme o mercado. Nosso principal serviço é o conserto de sapatos, mas o pessoal já sabe que oferecemos mais”, conta. Colchões infláveis e piscinas de casa também estão na lista dos materiais que o casal oferece conserto. “Porém procuramos sempre manter uma qualidade e, se vemos que não tem como consertar, nem pegamos”, completa.
Saiba mais
O sapateiro conserta, fabrica e faz diversos trabalhos na área de calçado. Na maioria das vezes, a matéria-prima é o couro, que é utilizado para confeccionar ou consertar calçados.
Atualmente, os sapateiros cuidam de diversos outros acessórios utilizados pelas pessoas, como bolsas, carteiras, cintos, jaquetas. O sapateiro utiliza ferramentas antigas, como pé de ferro, martelo, agulha com linha e cera. Rejane e Luciano pintam, redimensionam, costuram, colam e fazem outras diversas funções nos produtos.