Agricultura. Seca afetou pomares e reduziu colheita no Vale do Caí em 50%
O escritório regional da Emater/RS-Ascar em Lajeado finalizou o balanço da cultura de citros no Vale do Caí, confirmando o prejuízo causado pela seca. Neste ano de 2020, o Vale do Caí teve perdas de até 50% da produção de citros. No comparativo com a safra do ano passado, a queda foi de 35%. No caso das bergamotas, a safra estimada em 109 mil toneladas foi reduzida para em torno de 71 mil toneladas.
O Engenheiro Agrônomo Marcos Schafer, atual responsável pela área de fruticultura na Emater Regional Lajeado, confirma que o prejuízo foi causado, unicamente, pela estiagem ocorrida no Verão de 2019/ 2020. A falta de chuva afetou severamente as bergamotas de ciclo precoce e do ciclo normal. Já nas variedades de ciclo médio a tardio, mais valorizadas no mercado, as perdas não ultrapassaram os 30%. Este percentual varia sensivelmente de município para município, em função da má distribuição das chuvas no período.
Com relação às laranjas, a produção inicial foi estimada em 55.434 toneladas no início da safra. Com a seca, as perdas chegaram a 20%, o que representa uma colheita real, em torno, de 47.118 toneladas. Quanto à Lima Ácida Tahiti – mais conhecido como limãozinho da caipirinha -, a previsão de colher 10.825 toneladas teve recuo de 30%. Portanto, a produção colhida foi de apenas 7.577 toneladas.
O balanço da autarquia aponta diferenças fundamentais na colheita de um ano para o outro. A safra de 2019 foi normal, enquanto 2020 ficará conhecida por suas perdas em virtude da falta de água, pois não houve outros fenômenos climáticos (geadas, tornados, granizo) e os efeitos de pragas e doenças foram quase inexistente.
Quantidade compensada com qualidade
O recuo em termos de quantidade acabou sendo compensado em qualidade dos frutos. Marcos Schafer explica que a avaliação de características interna e externa foi de frutas muito boas nesta safra. Externamente pela cor e brilho da casca; e na polpa com uma maior concentração de açúcares e melhor equilíbrio com a acidez. “Propiciando uma sensação mais prazerosa ao paladar”, descreve o extensionista.
Em contrapartida, o tamanho foi menor em relação às frutas colhidas em anos anteriores. Inclusive, parte da produção, principalmente de laranjas, não atingiu tamanho suficiente para ser comercializado como ‘de mesa’, e foi para a indústria de esmagamento (essência e suco). Isso ocorreu também nas bergamotas, mas em menor quantidade. Este setor pagou R$7,00 por caixa, enquanto a fruta de mesa tem valor de até R$30,00.
Menor quantidade elevou o preço
O que trouxe alento ao setor foi a reação do mercado seguindo a ‘Lei da Oferta e da Procura’. Em função da alta qualidade, mas com menor oferta de frutas cítricas, os preços foram muito bons. “Em muitas situações, foi o dobro do ano anterior e permanecendo por mais tempo”, recorda Schafer.
O melhor resultado foi para laranjas e bergamotas de ciclo médio e tardio. A laranja Valência de mesa, por exemplo, variou de R$ 17,00 até R$ 25,00 a caixa de 25 quilos. Entre as bergamotas, a variedade Pareci foi vendida por R$ 35,00 a 40,00 a caixa de 25 quilos; e a Montenegrina foi comercializada com preços entre R$45,00 até 50,00 a caixa de 25 quilos. O limão Tahiti, que inclusive permaneceu com preços elevados por mais tempo este ano, teve variação no mercado entre R$22,00 até R$80,00 a caixa de 25 quilos.
Segundo Schafer, para agricultores que têm as variedades Pareci ou Montenegrina como principal produção, o preço compensou as perdas de volume e até superou a renda do ano anterior. Mas, onde predominam as variedades de ciclo normal, a renda foi menor do que em 2019.
Expectativa de recuperação é boa
Ainda é cedo para criar perspectiva em relação a recuperação dos pomares, tampouco falar em “super safra”. Mas, se confirmar o diagnóstico de que não haverá seca, a projeção é de uma safra satisfatória em 2021, como aponta a extensionista do Escritório Montenegro da Emater, Luísa Leupolt Campos.
“A florada foi muito intensa, as árvores estão bastante carregadas com frutinhas (verdes)”, revela. Inclusive, será um período de muito trabalho no raleio, que já deve iniciar no final de dezembro nas variedades ‘japonesas’. Luisa observou inclusive a ocorrência de florada em mais de um período, o que resultará em frutas de diferentes tamanhos.
Outro fator positivo foi a baixa mortandade de árvores. “De qualquer forma, as plantas conseguiram se recuperar”, comemora. Isso se deve às chuvas deste segundo semestre. Todavia, se de fato ocorrer uma segunda seca no período de um ano, isso será um desafio às plantas. Já seus impactos dependerão da intensidade e da duração.
Produção no Vale do Caí
– As bergamotas para fins comerciais são cultivadas por 2.196 famílias, em 13 municípios;
– As laranjas são produzidas nos 20 municípios do Vale por 1.373 famílias de agricultores.
– O limão Tahiti é produzido por 398 agricultores famíliares em 16 municípios da região.
*Dados: Emater/RS-Ascar