Rodrigo Corrêa: “O Vale precisa de representação”

Disposto a defender os interesses da região em Brasília, Rodrigo Corrêa é o único candidato de Montenegro a disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados, pelo PCdoB. Casado e pai de dois meninos, é cria dos movimentos comunitário e sindical. Também já foi conselheiro tutelar e este é seu terceiro teste nas urnas. Corrêa concorreu a vereador duas vezes: em 2008, pelo PT; e em 2016, pelo PC do B, mas não se elegeu. É com ele que o Jornal Ibiá abre hoje uma série de entrevistas com os candidatos de Montenegro nestas eleições.

JI – Não é difícil fazer campanha num cenário em que seu candidato (Lula) está impugnado e o país experimenta severa divisão entre direita e esquerda?
Rodrigo –
Pra nós, o Lula é um preso político. Diante desta decisão do STF, os candidatos serão Haddad e Manuela. É do processo tu colocar o nome à disposição. Todas as candidaturas, sendo na majoritária ou na proporcional, são julgadas. No Brasil todo, foram mais de 100 candidatos cassados nas proporcionais. O Lula é um preso político e ele tem os direitos dele, de acordo com a nossa visão jurídica. Outro grande debate é a diferença do projeto que a gente defende para o desenvolvimento do Brasil.

JI – O senhor acredita que o Lula é realmente inocente?
Rodrigo –
Não é direito meu fazer uma análise da vida de cada um, se eu acho ou não. A Justiça vai ter que fazer o seu papel. Seria desrespeitoso eu opinar simplesmente no achismo, né? Nós temos que acreditar na justiça, mas nós podemos questionar a justiça também e tem até quarta ou quinta instância, lá no Supremo, para dizer se a pessoa é culpada ou não. É isso que a gente questiona. São 17 pessoas condenadas em segunda instância pela Lava Jato e elas estão soltas. Por que o Lula está preso?

JI – Quais são, na sua opinião, as principais necessidades do Vale do Caí?
Rodrigo –
Eu acredito que tem uma questão muito pertinente, que são as cheias. Estudo feito por uma empresa contratada pelo governo indicou várias obras no Caí, Harmonia e Montenegro. Hoje seriam da ordem de R$ 100 milhões em diques, canal extravasor, comportas… Então, isso é uma questão muito importante e histórica que a gente tem que enfrentar. Outra questão são as estradas para o escoamento da produção, que também demandam recursos. Nós defendemos a duplicação da 240 e da 287. Está morrendo gente, pai de família, mãe de família e crianças. Fora a questão dessa Transcitrus, que tem que melhorar para todo o escoamento da produção. A gente aborda muito a questão do pequeno agricultor. Precisa levar esse discurso e esse debate para a Câmara Federal e mudar a representatividade para poder amadurecer esse discurso. Um deputado federal hoje, em 2018, por exemplo, tem quase R$ 15 milhões por ano de emendas parlamentares para mandar para a região. Faria uma enorme diferença no orçamento das prefeituras.

Jornal Ibiá – Quais os critérios na hora de dividir este dinheiro?
Rodrigo
– No primeiro momento, a divisão por necessidades macroeconômicas do município e os grandes problemas, onde tu consegue sentar com todos os prefeitos e ver quais são as prioridades. Num segundo momento, eu já defendo, depois de uma grande discussão, o fim das emendas parlamentares. Acabou se tornando um vício, porque tem deputado que manda R$ 80 mil para uma cidade, R$ 50 mil para outra, só para ele dizer que ajudou a cidade, para angariar votos. Se a gente quer mudar a política, então tem que acabar com esses vícios.

JI – Hoje, grande parte dos impostos que são gerados nas cidades acaba indo para Brasília e não retorna na proporção das responsabilidades que os municípios assumem. Qual é a sua posição em relação a essa concentração?
Rodrigo –
Quase 65% vão para o Governo Federal, em torno de 20% ficam no Estado, o resto no município. A despesa tá ficando muito mais pros municípios. Precisamos fazer valer a Lei Kandir, porque não é só pagar muito imposto. A questão é que se recebe ele de volta numa quantia menor. A Lei Kandir, por exemplo, tirou milhões e milhões de Reais do nosso Estado. Então, a gente quer fazer valer a Lei Kandir para trazer recursos. Defendemos o fim do imposto sobre o consumo e a taxação dos lucros, dividendos e das grandes heranças. Não dá mais para o município absorver a saúde, a SAMU e os hospitais. O Governo Estadual está com verbas atrasadas e quem perde é a população. Um deputado federal tem que propor um debate. O mandato dele tem que agir para além da ideologia, para além do partido e para além do seu interesse pessoal. É preciso chamar os três senadores do Estado, os mais de 30 deputados federais que serão eleitos e fazer um grande debate para fortalecer o Estado e discutir com o presidente que for eleito.

JI – De que forma o senhor vai ajudar as comunidades a enfrentar a violência?
Rodrigo –
Os nossos quarteis estão quebrados. Tem tanques que não funcionam, não tem manutenção, não tem combustíveis. A minha intenção é aumentar o incentivo, fechar as fronteiras para drogas e armamentos, propor políticas para o Paraguai, que facilita muito a compra de armas e muitas delas vêm parar no Brasil. Então, devemos fazer algo em torno destes três problemas: armas na fronteira; drogas como cocaína pura, por exemplo; e os cigarros. Internamente, falando do estado e do Brasil, eu acho que é uma questão de tecnologia, inovação para a polícia, passando também por melhores salários e a gente vai ter que defender mais orçamento para a polícia. Outra questão que nós não podemos esquecer é a reforma do Código Penal. A impunidade tem que acabar, pois se o cara pegou 10 anos de cadeia, é 10 anos de cadeia.

JI – Como será sua relação com os prefeitos da região?
Rodrigo –
Tu tens que sentar e dialogar, ver as necessidades, independente se o cara é do PP, PSDB, PT ou PCdoB. Tu tens que tratar com respeito, ver as prioridades e trazer recursos para sanar os problemas mais graves do município. Também teremos o conselho do mandato, onde prefeitos estarão participando e buscando, juntos, resolver ou minimizar os problemas que temos nas cidades do Rio Grande do Sul.

JI – Como o Rodrigo se posiciona em relação à liberação do uso de armas?
Rodrigo –
É preocupante. Esse porte não é negado, mas é muito caro devido às taxas. Tem o aluguel da sala, o cara que vai treinar; a arma é cara. Tem as questões psicológicas e a necessidade do cidadão ter uma arma ou não, porque isso tem que ficar bem claro. Eu proponho um grande debate real e hoje meu pensamento é que não são todos os cidadãos que estão preparados para ter arma. Sou contra a população ter arma de acordo com a maneira como está sendo discutido o armamento. A minha posição é que se avalie outros investimentos em segurança.

JI – Rodrigo Correia votaria a favor de uma legislação mais flexível ao aborto?
Rodrigo –
As pessoas misturam religião nestas discussões. Eu sou um cristão, mas temos que olhar como gestores para a questão do aborto. Ninguém vai fazer um aborto porque quer e as pessoas precisam ter mais informações. Neste ponto, se for em relação à saúde pública, eu sou a favor. Se quisermos avançar como sociedade, teremos que saber separar o que é gestão pública. A gestão pública é feita para todas as pessoas e não para uma igreja. O fundamentalismo religioso é perigoso no mundo todo.

JI – Como o senhor pretende, como congressista, ajudar a qualificar o atendimento médico pelo SUS?
Rodrigo –
Temos que discutir a humanização da medicina e oportunizar que mais pessoas sejam médicos, dentistas e enfermeiros. Dificilmente alguém que se forma na capital vai para uma cidade como São Pedro das Missões, de 3 mil habitantes, porque ele vai ganhar pouco. Agora, se tu oportunizar a uma pessoa lá daquela região se formar em Medicina e aí, dentro de um projeto, ela ter que prestar serviço novamente na mesma região, tu vais, de forma homogênea, colocar pessoas nas menores cidades do Brasil prestando serviço de qualidade para o SUS. Em Montenegro, eu defendo uma UPA 24 horas.

ACOMPANHE AS ENTREVISTAS
Para deputado federal
– 18 de setembro – Rodrigo Corrêa

Para deputado estadual
– 19 de setembro – Chacall
– 20 de setembro – Márcio Müller
– 25 de setembro – Nei da Kombi
– 26 de setembro – Paulo Azeredo
– 27 de setembro – Waldir Kleber

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