Está impraticável. Caminhoneiros reivindicam redução no preço dos combustíveis
As manifestações dos caminhoneiros seguiram ontem, 22, em todo o país. Em Montenegro, houve pontos de paralisação durante o dia, na RSC-287 e na BR-386. Apesar de algumas brechas, ali não era dada passagem aos caminhões em geral. Veículos pequenos e os de carga, que transportavam mercadorias vivas ou perecíveis, eram liberados. São esperadas novas paradas hoje.
As lideranças reivindicam melhores preços nos combustíveis. Nos últimos 18 dias, o diesel teve valor ajustado por sete vezes; a gasolina, onze.
O caminhoneiro Vagner Teixeira avalia o custo do frete, diante dos aumentos do valor dos combustíveis. “Enquanto um carro, com um litro, faz cerca de 15 quilômetros, o caminhão faz dois quilômetros com um litro de óleo diesel”, explica. Hoje, o preço do diesel está, em média, R$ 3,70, enquanto a gasolina custa cerca de R$ 4,40 o litro.
“É praticamente inviável trabalhar hoje”, afirma o motorista. “São 18 pneus rodando. Hoje, o pneu de um caminhão é quase dois mil reais. O custo do diesel aumentou muito. É muito caro fazer a manutenção de um caminhão”.
Em uma viagem de dois mil quilômetros (média de viagem de ida e volta entre o porto de Santos/SP e São Sebastião do Caí), Vagner calcula que gastava cerca de R$ 2.800,00 em combustível. Hoje, com o diesel a R$ 3,70, esse valor vai para R$ 3.700,00, somente em combustível. “O frete não acompanhou esse aumento. A conta não fecha. A gente está pagando para trabalhar”, diz. “Não é somente pelos motoristas que nós estamos paralisados. É por toda a população. Esse valor acaba sendo repassado no preço final dos produtos. Então se hoje o arroz, o feijão e outros produtos estão caros, esses aumentos do combustível também têm impacto”, afirma, pedindo apoio da população às mobilizações.
Motoristas pararam no perímetro urbano de Montenegro
Na RSC-287, houve um ponto de paralisação em frente às Lojas Taqi. A fila dos caminhões parados alcançava, de um lado, a rótula do bairro Cinco de Maio e, de outro, a empresa Unyterra. Ali, durante todo o dia, o Comando Rodoviário da Brigada Militar acompanhou as atividades.
De acordo com o Sargento Norberto, foi feito um acordo com os organizadores para que os bloqueios durassem o período de uma hora, sem obstrução da pista. Os caminhoneiros eram parados no acostamento e iam sendo liberados, em lotes, conforme este tempo passava. “A Brigada esteve acompanhando para garantir a segurança dos manifestantes e para evitar problemas caso alguém resolvesse não parar”, afirmou o policial.
No local, a causa dos caminhoneiros teve forte apoio dos produtores rurais da região, que compareceram em número maior do que na segunda-feira. “Nós precisamos dos caminhoneiros para a viagem da bergamota pra fora. Essa é uma causa que é de nosso interesse também. Se isso não surtir efeito, vai ter que faltar comida ou o que for necessário”, declarou o produtor Elicio Krug, da localidade de Alfama.
Durante a reportagem na manifestação, um caminhoneiro tentou furar o bloqueio. Depois de certa confusão, teve a passagem permitida sob gritos e uma salva de palmas irônica dos manifestantes.
Parada também no trecho montenegrino da rodovia federal
Na BR-386, a paralisação se deu, em Montenegro, no Posto 27 – no quilômetro 417 da rodovia. Ali, os manifestantes fecharam uma das pistas com cones para dar entrada aos caminhões no pátio do posto. Poucos metros antes, um pneu foi queimado no início da tarde, sinalizando que era necessária atenção no trecho.
Quando algum caminhão era avistado, alguns corriam para a pista para avisar da parada. Nem todos o faziam de bom-grado. Alguns pisavam no acelerador do veículo para passar rápido pelo local na pista que estava livre. Outros eram pressionados com gritos, cediam e realizavam a parada.
O caminhoneiro Paulo Gomes reconhece o absurdo dos preços dos combustíveis, mas, sendo empregado de empresa, estava parado no posto contrariado. “Eu carreguei em Porto Alegre e estou à só 60 quilômetros de casa, em Estrela. Não sei qual é a lógica de trancar desse jeito”, disse. Ele contou que viu o caminhão de colegas com o para-brisa quebrado. Para ele, a única forma efetiva de uma manifestação seria trancar as rodovias por completo.
Na Federal, os manifestantes à frente da parada optaram por não se identificar. Afirmaram que a paralisação não tem apoio do sindicato da classe e que a exposição de seus nomes poderia lhes trazer problemas futuros. A orientação que tinham – eles colocaram – era de manter parados os caminhões até que o posto estivesse lotado, liberando, assim, a saída gradativamente.
Em São Sebastião do Caí, a ERS-122 teve caminhões parados
Em São Sebastião do Caí, seguiu a paralisação na ERS-122. Os caminhoneiros foram convidados a juntar-se ao movimento, estacionando os veículos nas laterais da rodovia. Aqueles que optavam por não aderir tinham passagem liberada. Não houve trancamento da pista de rolagem.
De acordo com o Tenente Torres, comandante do Pelotão de Motos do Comando Rodoviário da Brigada Militar, a manifestação seguiu sem grandes intercorrências. “Nós orientamos os manifestantes e fizemos um acordo sobre como a mobilização seria conduzida. Nos horários combinados a pista está sendo totalmente liberada”, explica.
O comando rodoviário contou entre quatro e seis quilômetros de filas em cada lado da rodovia. A organização divulgou cerca de 10 quilômetros para cada lado. O porta-voz do movimento, João Roberto Cardoso, garante que a mobilização dessa terça-feira foi maior do que a de segunda-feira. “Gente que ontem [segunda-feira] não acreditava no movimento, hoje veio até aqui para prestar apoio”, ressalta ele.
O produtor rural Anor Inesio Horn, de São Sebastião do Caí, foi um dos que se juntou à manifestação nesta terça-feira. “Não tem mais como trabalhar. Se hoje a gente botar tudo na ponta do lápis, estamos pagando para trabalhar. Não tem mais como pagar as contas”. O produtor levou suas máquinas agrícolas para a pista. Ele parou o trator na lateral da rodovia para representar a classe, que também sente o impacto da alta dos combustíveis. “Do jeito que está indo esses últimos meses, tem mais vantagem estar parado do que trabalhando. Mas se parar de trabalhar, vamos deixar de por comida na mesa para os filhos”, avalia.
Petrobras diz que não mudará política de reajuste
Desde julho do ano passado, a Petrobras tem reajustado seus preços com maior frequência, seguindo as tendências do mercado internacional. O valor tem subido e, em menor grau, descido constantemente. Hoje, 23, por exemplo, houve uma diminuição do preço nas refinarias. Diante da pressão das manifestações, o governo federal se encontrou com o presidente da empresa, Pedro Parente, ontem. Ele afirmou que não pretende mudar a política de reajuste.
Parente frisou que a redução do valor hoje não teve relação com as paralisações e, sim, com a queda do dólar. “O Banco Central interveio com mais intensidade no mercado ontem, houve uma redução de câmbio e isso foi refletido no preço de hoje”, disse. Mesmo com a diminuição, não é garantido que o valor chegue ao consumidor.
Michel Temer já discutiu o tema com ministros, e a primeira ação foi anunciada na noite de ontem pelo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia. Ele afirmou que o governo fechou acordo com o Congresso para “zerar” a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) dos combustíveis. Mas apenas depois que a aprovação de um projeto que reonera a folha de pagamento de setores da economia seja aprovada por deputados e senadores.
Andressa Kaliberda
Denis Machado