A volta às aulas é um momento de muitas novidades para as crianças, sejam marinheiras de primeira viagem ou veteranas. Nesse período do ano, o início da vida escolar, uma nova turma ou troca de instituição são mudanças que podem causar impactos diretos não apenas para os pequenos, mas também aos pais e educadores. Para que o processo de adaptação ou readaptação à vida escolar não se torne uma experiência traumática, cuidados especiais são necessários para a nova rotina.
É tudo muito novo para algumas crianças. Os colegas são desconhecidos, a professora também não tem um rosto familiar, o ambiente é completamente diferente e, por isso, o momento pode ser desafiador. “Na Educação Infantil, onde as crianças têm o primeiro contato com o ambiente escolar, é ainda mais importante a integração com as professoras e os colegas, proporcionando um ambiente seguro e acolhedor”, orienta a diretora do Departamento de Educação da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC), Claudia Mombach.
Para a especialista, a adaptação e readaptação à nova rotina requer tempo e paciência. Afinal de contas, a criança acabou de vivenciar um período de muita diversão ao lado da família durante as férias. A primeira sugestão é conversar com os pequenos sobre a importância da escola. “Deve fazer parte da preparação inicial das crianças, conversas entre pais e filhos sobre o tempo que elas ficarão na escola, a importância de estudar e a quantidade de amigos que os pequenos irão rever ou conquistar”, enfatiza Cláudia, que é pedagoga e pós-graduada em psicopedagogia. “Na volta da escola, não pode deixar de perguntar como foi o dia, o que aprendeu e o que fez, sempre demonstrando grande interesse no que os pequenos relatam”, acrescenta a especialista.
Na casa da bióloga Caroline Casseres, o trabalha é em dobro. Mãe dos gêmeos Miguel e Manuela de 3 anos e 3 meses, ela conta que a adaptação dos dois filhos na escola foi ainda mais desafiador porque o processo de aceitação de cada um foi diferente, além das mudanças que ela também sentiu. “Eles entraram ano passado e nunca tinham ficado com outra pessoa antes, foram três anos somente comigo todos os dias, ou seja, foi uma adaptação para mim também”, explica a bióloga.
“Na primeira semana era uma hora por dia de adaptação. Nesse período, a Manuela ficou super tranquila, mas o Miguel chorava desesperado todo o tempo que ficava lá, enquanto eu aguardava no carro na frente da escola – chorando também – escutando ele me chamar. Foi de cortar o coração, mas sabia que era para o bem e que era preciso”, recorda Caroline, afirmando que, até hoje, o filho tem episódios de choro. “É um processo que nunca termina”, acrescenta.
Processo de adaptação é individual
Em meio às mudanças que chegam com o retorno da vida escolar das crianças, tanto os pais quanto os professores devem compreender que cada criança passa por um processo individual de adaptação. É o que afirma a Coordenadora da Educação Infantil Rochele Macagnan. “Enquanto umas podem se acostumar rápido com o convívio entre outros colegas e adultos, outras podem chorar para ganhar a atenção dos educadores ou simplesmente por estranhar o ambiente”, explica a pedagoga.
De acordo com a coordenadora, a fase em que os pais permanecem as primeiras horas com os filhos na escola faz toda diferença no processo de adaptação. “Até que eles se acostumem com o espaço e os profissionais, essa passagem é crucial para as crianças perderem o medo de permanecer na escola e se sentirem seguras para aprender e conviver com os outros”, enfatiza Rochele.
Confiança entre escola e família é fundamental
O cuidado na fase de adaptação das crianças no período de volta as aulas é essencial, pois é nessa fase que os pequenos são inseridos na vida em comunidade. Para Rochele Macagnan, a escola precisa respeitar o tempo das famílias e orientá-las para que o processo seja saudável para todos. “As crianças precisam se adaptar ao novo, às rotinas da escola e às separações diárias da família. Isso faz parte do crescimento social e emocional dos pequenos”, comenta a pedagoga. “É nesse período em que se estabelece um vínculo entre as crianças, a escola e os pais, dessa forma, se o processo não for adequado, poderá haver conflitos entre as três partes”, alerta.
Mãe da pequena Maria, de 1 anos e 8 meses, a autônoma Natália Stieh conta que a forma como ela e a filha foram acolhidas pela escola foi fundamental para que as duas se sentissem mais seguras. “O que foi determinante foi justamente o fato de eu conhecer o pessoal da escola – muitas eu conheço de fora -, além disso, também estudei lá, e a Maria quando entrou, ficou na salinha da tia Elaine, que também cuidou de mim”, revela Natália. “Hoje a Maria adora ir para a creche”, comemora.
A pedagoga ainda lembra que a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental também é um momento muito importante, assim como do 5º para o 6º ano. E no caso de mudança de escola, é necessário um período para adaptação.
Algumas sugestões:
-É fundamental que a família conheça o funcionamento da escola, para que tenha segurança no ambiente onde deixará seu filho;
– A família deve deixar o caminho aberto para a criança compartilhar suas experiências na escola, usando incentivos como: “Filho, você vai passar algum tempo lá e depois pode me contar tudo o que você fez. Eu vou adorar saber sobre o seu dia!”;
– Por mais que o processo seja doloroso no início, demonstre segurança na sua escolha em deixar seu filho(a) na escola;
– Acompanhe as tarefas do seu filho(a) e conheça a programação da escola;
– Sua ansiedade pode prejudicar seu filho(a). Por isso é importante transmitir calma e segurança aos pequenos;
– Aproveite o momento para incentivar a autonomia da criança e comemore suas conquistas.