Quando estimuladas a serem independentes, as crianças desenvolvem melhor capacidade para resolver conflitos
Quando nasce um bebê, com ele, nascem também os pais que, juntos, assumem a responsabilidade de garantir a sobrevivência de um ser humano que chega ao mundo totalmente indefeso. Conforme ele vai crescendo, essa dependência em relação ao pai e à mãe diminui gradativamente. A ssim, a criança passar a ter autonomia sobre suas próprias ações, ou pelo menos deveria.
De acordo coma psicóloga Roberta Nedel, especializada em psicologia da criança e do adolescente, é na infância que elas começam a ficar mais independentes e a imitar determinados comportamentos daqueles que as cercam.
“Para se desenvolver, os filhos devem ser estimulados a crescer e a aprender a fazer coisas que antes não conseguiam realizar sozinhos. Assim, rotinas e deveres do dia a dia podem ser ensinados (e até cobrados) para que a criança aprenda e desenvolva sua independência”, recomenda a especialista.
Para a dona de casa Luciana Ribeiro, 24, essa é uma tarefa rotineira em sua residência. Mãe de dois meninos, Isaias e Giovane Lopes Machado, de 4 e 2 anos, respectivamente, ela conta que estimula a autonomia dos dois a partir de pequenas iniciativas. “Para dormir e comer, existem horários certos. Assim, os meninos acabam aprendendo que, nesse momento, eles não podem realizar outras atividades”, relata Ribeiro. “Estabelecer limites é indispensável durante esse processo”, diz a mãe.
Para começar a instigar o senso de responsabilidade entre as crianças, a psicóloga orienta que os pais as introduzam nas tarefas por meio daquilo que está mais perto delas. “Guardar os próprios brinquedos, aprender a tirar sua própria roupa ou comer sem o auxílio de adultos são habilidades a serem ensinadas desde bem cedo”, afirma Roberta Nebel.
São atitudes como essas que, aos poucos, a dona de casa tenta inserir na rotina dos filhos. “Se os meninos brincam e espalham brinquedos pela casa, eu mostro que depois eles terão que juntar e guardar tudo. Às vezes, o mais novo se esconde quando percebe que tem algum tipo de obrigação, mas cabe a nós, os responsáveis, ensinar esses princípios desde agora”, enfatiza Luciana.
De acordo com a psicóloga, pequenas iniciativas como essas possibilitam a construção do senso de responsabilidade, organização, cuidado, independência, regras e limites entre as crianças, o que reflete positivamente na confiança, na autoestima e na segurança em relação às próprias capacidades.
Responsabilidade e suas limitações
A psicóloga Roberta Nedel explica que, quando se trata de encarregar as crianças de determinadas tarefas, é importante considerar alguns aspectos, como a idade, limitações físicas e emocionais, além de supervisionar e elogiar. “Conforme a criança for crescendo, pode ir assimilando e incorporando novas e mais complexas tarefas ao seu dia a dia, como por exemplo, arrumar sua cama, ajudar a por a mesa, organizara mochila da escola, regar plantas e ajudar a cuidar de um animal de estimação”, aconselha a profissional.
Na casa da atriz e professora Janaína Kremer, essa distribuição de afazeres é imprescindível, já que a família é pequena. Mãe de dois meninos, Francisco e José Motta, 11 e 15 anos, respectivamente, no dia a dia ela procura atribuir uma função para cada um de acordo com as capacidades dos filhos. “Enquanto o mais velho lava a louça, o mais novo seca”, explica Janaína. “Eles precisam entender desde agora que, para viver em comunidade, é preciso assumir e partilhar algumas obrigações. Isso é importante para o processo de crescimento deles”, acredita a mãe.
Aos 11 anos, uma rotina de gente grande
Quando o assunto é responsabilidade na infância, o estudante Francisco Motta, 11, tem propriedade para falar. Com uma agenda cheia de compromissos, durante a semana, ele se divide entre a escola, futebol, inglês e aula de guitarra. “As quartas-feiras são o dia mais corrido, porque se eu atrasar em um lugar, atraso todo o resto”, relata o garoto, empolgado em compartilhar sobre o seu dia a dia.
A atriz e professora Janaína Kremer, mãe do estudante, comenta que embora a rotina seja intensa, isso faça parte do processo de desenvolvimento do filho. “Deixei que ele fizesse suas próprias escolhas, experimentando e aprendendo a lidar com a responsabilidade dessas decisões”, comenta a atriz.
A psicóloga Roberta Nedel ressalta que é importante reconhecer que cada ser humano é único. “Devemos respeitar a etapa do desenvolvimento no qual cada criança se encontra, comparando a evolução dela com ela mesma e, assim, estimular para que a evolução das suas habilidades aconteça de forma saudável.”
Autonomia na infância é saudável
Tornar-se autônomo exige que a criança desenvolva a capacidade de tomar decisões, fazer escolhas e assumir as consequências destas escolhas. A psicóloga Roberta Nedel salienta que o desenvolvimento da autonomia na infância vai possibilitar o aprimoramento da capacidade de resolver conflitos ao longo da vida.
A atriz e professora Janaína Kremer, mãe de dois meninos, revela que a proteção em excesso nunca foi prioridade na educação dos filhos. “Entre ser pais ditadores e superprotetores, existem milhões de possibilidades. É nesse momento que nós devemos buscar um equilíbrio entre os extremos”, comenta.
Roberta acrescenta que os pais precisam autorizar a criança para que ela vá experimentando, crescendo e se desenvolvendo. “As crianças precisam ser estimuladas para crescerem saudáveis, enfrentar os obstáculos e conseguir encontrar soluções por conta própria. Neste sentido, a superproteção impede que a criança desenvolva recursos internos para lidar com a vida”, conclui.