Manifestação em Porto Alegre pediu a volta da cogestão e flexibilização da bandeira preta
Afrouxamento dos cuidados e a circulação de uma variante do coronavírus que, estudos apontam, é mais transmissível do que a que circulava desde o ano passado são os principais responsáveis pelas altas taxas de contaminação e internação hospitalar que ocorrem hoje. Justificando a decisão como alternativa para reverter o quadro, o governo do Estado determinou, desde o início do mês, a categoria de Bandeira Preta; suspendendo a cogestão e fechando empresas de atividades consideradas não essenciais. E nessa quarta-feira, 10, representantes dos setores afetados foram às ruas para pedir reconsideração da decisão. Defenderam a essencialidade de todas as atividades e o entendimento de que não foi no comércio ou nos serviços que o vírus se espalhou.
“No comércio, todo mundo sabe como se comportar. Vai ter uso de máscara, higienização de mãos e, pelo que eu sei, 90% do comércio tem esses cuidados”, avalia o empresário Robson Santos. “É depois, em casa, que tu relaxa, dá um beijo, dá um abraço, cumprimenta; vai visitar um familiar, vai numa praça, num parque, num lugar aberto e não tem os devidos cuidados. São esses outros fatores que acabam intervindo e fazendo com que o grande aumento de contaminações esteja acontecendo.” A demanda principal, nessa linha, foi pela volta da cogestão, que possibilitava que os municípios colocassem em prática protocolos mais flexíveis do que os da bandeira vigente; e que permitissem que, de alguma forma, as empresas pudessem voltar a atender presencialmente e com cuidados.
A pauta foi levada de Montenegro ao governador Eduardo Leite por uma carreata de cerca de vinte carros que se dirigiu até a Capital no início da tarde. Em Porto Alegre, o grupo se uniu a outros manifestantes de diferentes partes do Estado – placas mostravam gente da Serra e até do Litoral – que, em frente ao Palácio Piratini, entoavam frases como “Fora Leite”, “Meu trabalho é essencial para minha família” e “Nos deixe trabalhar”. O policiamento precisou ser reforçado no entorno da sede do governo estadual, mas, no geral, a manifestação foi pacífica. Centenas de pessoas se reuniram.
Empresas já passam por dificuldades
“A gente entende a situação do vírus, mas eu tenho funcionários meus dizendo que não têm dinheiro para pagar aluguel”, relata o empresário Paulo Schneider. “Têm alguns em situação de despejo já e que não têm dinheiro para botar comida em casa. Aí complica. Se a gente pudesse trabalhar com um ou dois funcionários, com a venda eu já conseguiria, pelo menos, pagar o salário dos demais ou fazer um rateio para não deixar ninguém sem dinheiro.”
“A receita do empresário está bloqueada, mas os boletos, os aluguéis, as obrigações continuam chegando”, complementa Robson Santos. “Isso aí causa um ambiente de apreensão em que todos os empresários ficam sem saber como é que vão manter o seu negócio perante essa pandemia.” O empresário montenegrino aponta que, no primeiro fechamento do ano passado, muitos dos comerciantes e prestadores de serviço queimaram as reservas que tinham para manter suas operações sem poderem trabalhar. Agora, estão sem isso e, por enquanto, com rasas medidas de auxílio para minimizar o impacto da bandeira preta. “Nós temos doze colaboradores que a gente não sabe até o final do mês como vai fazer pra pagar o salário”, pontua. Não havendo alterações, o fechamento vale até o dia 21.
Estado critica aglomeração na Capital
Ainda na quarta-feira, o governo do Estado emitiu uma nota sobre a manifestação em Porto Alegre e outras que ocorreram em diferentes cidades do Rio Grande do Sul. Veja a seguir:
“O governo entende as manifestações contrárias às restrições para conter a disseminação do coronavírus, mas lembra que o cenário atual da pandemia não é oportuno, do ponto de vista sanitário, para realizar aglomerações.Na terça-feira, 9, o Estado registrou um recorde de 275 mortes pela Covid-19 em nosso território. Mesmo com o governo tendo ampliado o número de leitos de UTI em 136%, o Estado tem a capacidade de ocupação das UTIs esgotada, inclusive com pessoas em situação grave à espera de leito.
Esse contexto impõe que o Rio Grande do Sul adote medidas restritivas para diminuir a circulação de pessoas, como fizeram, com sucesso, países como Alemanha, Reino Unido, Itália, França, Espanha, entre outros. Por fim, o governo reitera que a realização de aglomerações, com pessoas sem máscara, inclusive, em nada ajuda o Estado a superar esse momento. Pelo contrário: amplia a circulação do vírus, coloca vidas em risco (incluindo as de quem participa dessas atividades), atrasa a retomada econômica, que é de interesse de todos, e fortalece aquele que deveria ser o inimigo em comum da sociedade gaúcha: o vírus.”
VEJA MAIS IMAGENS: