Casulo Recreo é local de acolhimento em Montenegro
O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) divulgou um diagnóstico detalhado sobre a população de rua no Estado. O levantamento, realizado com o apoio do governo estadual, da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (FAMURS) e de movimentos sociais, coletou dados de 76,65% dos municípios gaúchos por meio de um formulário eletrônico.
O relatório revela que 14.829 adultos vivem em situação de rua no Rio Grande do Sul. No entanto, este número pode ser maior, pois cidades importantes como Esteio, Parobé, Tramandaí e Viamão não responderam ao questionamento. Porto Alegre, Pelotas, Caxias do Sul, Canoas, Gravataí e Capão da Canoa apresentaram os maiores números de pessoas em situação de rua, com 2.371, 3.937, 1.497, 1.311, 799 e 668 indivíduos, respectivamente.
Em Montenegro, cinco pessoas foram identificadas vivendo nas ruas, enquanto São Sebastião do Caí e Brochier não registraram moradores de rua. Triunfo contabilizou três pessoas em situação de rua, e outras cidades da região, como Maratá, Pareci Novo e São José do Sul, não apresentaram nenhum caso.
O diagnóstico também abrange a situação de crianças e adolescentes, identificando 365 jovens em situação de rua no Estado, sendo Porto Alegre o município com maior concentração. Além disso, 131 famílias foram encontradas vivendo nas ruas, com a maioria localizada em Porto Alegre, Santa Maria, Bento Gonçalves e Pelotas.
O relatório destaca a oferta de alimentação e abrigo. Embora 81,82% das cidades com população de rua ofereçam serviços alimentares, a maioria (49,38%) o faz por meio de organizações da sociedade civil, revelando a insuficiência da oferta pública. Quanto aos serviços de alta complexidade, 60,18% dos municípios respondentes não dispõem de abrigo, albergue, casa de passagem ou república, deixando muitas pessoas sem proteção noturna adequada.
Em termos de serviços da média complexidade, 69,62% dos municípios possuem Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), e 51,11% têm Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). No campo da saúde, 99,12% dos municípios possuem Unidades Básicas de Saúde, mas apenas 7,89% contam com consultórios de rua, uma modalidade essencial para o atendimento da população de rua.
Local de acolhimento em Montenegro
Montenegro conta com uma estrutura de apoio para pessoas em situação de rua: o Casulo Recreo. Segundo o Secretário Municipal de Desenvolvimento Social, Cidadania e Habitação, José Vitor Cardoso, o Município possui um convênio permanente com a instituição para acolher essas pessoas. Além disso, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) também desempenha um papel fundamental no atendimento a essa população.
Otávio Furtado, diretor do Casulo Recreo, conta que a história da instituição iniciou ainda no final dos anos 1990. “Nós ganhamos essa casa, que era invadida por moradores de rua, e o proprietário na época cedeu para nós. Mais tarde, compramos a casa, isso por volta de 1996. Fizemos um movimento junto com a Prefeitura, pois havia um grupo grande de moradores de rua na Praça Rui Barbosa. Então começamos a trabalhar em um projeto com a Prefeitura e, como tínhamos esse lugar no Centro, começamos a acolher esses moradores, oferecendo banho, cama e comida”, relata.
Otávio explica que a experiência do Recreo com alcoolismo e drogadição ajudou na abordagem. “Todos os moradores de rua usam álcool quase que totalmente, pois perderam suas famílias e não têm onde morar, acabando nas ruas. Começamos a acolhê-los e muitos criaram um vínculo de apoio conosco, entrando em um discurso de recuperação. Um médico começou a trabalhar conosco, e muitos moradores de rua começaram a sair dessa situação”, comenta.
O trabalho no Casulo Recreo atualmente vai além de fornecer abrigo temporário. “Somos uma casa de passagem e fazemos um trabalho diferenciado. Durante o tempo que as pessoas ficam aqui, oferecemos suporte psicológico, assistência social e ajuda para organizar as confusões que estão vivendo”, ressalta Otávio.
Vera Maria Lopes, assistente social do Casulo Recreo, destaca a equipe é multidisciplinar, contando com psicóloga, cozinheira, educadora social e coordenador. “Atualmente, temos 10 pessoas no local, incluindo acolhidos da enchente. As pessoas chegam de várias maneiras, e aqui têm um banho, refeição e um lugar tranquilo para dormir”, afirma.
O Casulo Recreo também acolhe pessoas com medidas protetivas que não têm para onde ir e aquelas que perderam o direito à moradia. “Não são só moradores de rua que acolhemos. Há uma responsabilidade em relação às pessoas em vulnerabilidade. A demanda por moradia aumentou, especialmente após as enchentes”, destaca Vera. Junto com a rede do município, que inclui Caps, Cras, Creas e o Centro do Imigrante, reuniões mensais acontecem para discutir caso a caso. “É através dessa rede que as pessoas podem sair da situação de vulnerabilidade,” conclui Vera.