Relato dos efeitos do Greening na citricultura

Alerta. São Paulo já precisou derrubar 300.000 hectares de pomares doentes

Na eminência da mais letal doença da citricultura chegar ao Rio Grande do Sul, o Ibiá foi buscar relato direto do “cinturão citrícola” de São Paulo (ligado a Minas Gerais), onde a Greening já colocou no chão quilômetros de pomares. “A última estimativa da Fundecitrus, em 2022, aponta que 24,42% das laranjeiras estão infectadas”, relatou o pesquisador, Renato Bassanezi, especialista do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus São Paulo).

O percentual corresponde a cerca de 48 milhões, dos 193 milhões de pés de laranja plantados naquela região. E como a doença não tem cura, a única forma de mitigar a proliferação é cortando e queimando as árvores doentes. Com este procedimento, entre 2005 (ano da descoberta) até 2021, o cinturão perdeu, oficialmente, mais de 61 milhões de plantas de variedades de citros. Bassanezi descreve 17 anos de prejuízos, com redução de 650.000 hectares de cultivo em 2000, para 390.000 hectares em 2022.

Ele descreve ainda o prejuízo de produção, com perda de qualidade nas frutas e replantio de pomares; prejuízo de manuseio, devido a necessidade semanal de pulverizar veneno para eliminar o inseto vetor da bactéria; e prejuízo econômico à região, inclusive devido a decisão de agricultores afetados abandonarem a citricultura.

Fatores que em São Paulo resultaram em aumento de 25% no custo de produção. Sobre as perdas nas vendas, Bassanezi ilustra usando a indústria de extração de suco, produção que fica inviabilizada se mais de 25% de frutas de um lote estiverem doentes. Outro alerta diz respeito a um verdadeiro “ciclo da morte”; pois, ao se obrigar a substituir pomares, o produtor se expõe ainda mais à bactéria da Greening, que prospera com mais vigor em plantas novas. “Nem começam a expressar seu potencial produtivo”, descreve.

Característica do Vale do Caí é desfavorável
Para mensurar os efeitos, é necessário trazê-los à realidade das pequenas propriedades do Vale do Caí, onde, para a maioria dos citricultores, derrubar 200 pés já significaria seu pomar inteiro. Também por isso, o técnico paulista afirma que se tornou imperativo criar um sistema coletivo de prevenção à entrada da doença. “Essa prevenção é feita primeiro com uso de mudas sadias”, declara, ao reforçar que não há cura ou variedade produtiva resistente a Greening.

Cigarra Psilídeo carrega bactéria durante toda sua vida

A segunda ação é a eliminação imediata da planta doente, evitando que as ninfas da cigarra-vetor se alimente da seiva contaminada, carregando a bactéria consigo até a vida adulta. E, reforça Bassanezi, esta deve ser uma ação coordenada em grupo, na qual sequer um citricultor pode deixar de realizar o controle. “Seu pomar contaminado será responsável pela destruição e todos os pomares ao redor de sua propriedade”, sentencia.

Não por acaso, essa é mais grave doença nesta cultura, inclusive se espalhando rapidamente. O técnico explica, porém, que a proliferação depende de variáveis, como condições climáticas para reprodução do inseto vetor; das ações de controle dos agricultores; e da distribuição dos pomares pela região. “Quanto mais tiver, mais plantas potencialmente hospedeiras para a bactéria teremos”, explica, para salientar a dificuldade de controle em grandes áreas, mas de donos diferentes.

Saiba como detectar o Greening
Após o cinturão citrícola identificar a presença do Greening, em 4 ou 5 anos já havia pomares totalmente tomados pela doença em sua forma severa. Segundo estudos, em um cenário sem qualquer controle, em 7 a 10 anos um pomar é dizimado, virando Endemia, como ocorreu na China, África do Sul e no estado Norte Americano da Florida. A orientação aos agricultores é ficar de olhos atentos, sendo que os primeiros sintomas surgem somente, aproximadamente, 9 meses após a infecção; período em que, todavia, a planta já é transmissora.

Sintomas no pomar

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