Regulamentação do uso de celulares em sala de aula em debate

ALUNOS, professores e diretoria opinam sobre a utilização do aparelho em Montenegro

A regulamentação do uso de celulares e smartphones em salas de aula do Ensino Fundamental e Médio movimentou as discussões da Câmara dos Deputados nas últimas semanas. O Projeto de Lei nº 104/2015, de autoria do deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS) e que estabelece diretrizes para tecnologias em ambientes de ensino do País, tramita na Comissão de Educação, onde aguarda a apresentação do parecer do relator, o deputado Diego Garcia (Republicanos-PR) – o que deverá ocorrer dentro dos próximos dias.

De acordo com Alceu, é necessário definir um conjunto de regras para que o celular não seja proibido, mas melhor aproveitado no processo de ensino-aprendizagem. “Se uma criança ou jovem está com a sua atenção retida em uma tela de celular, é porque ali está um espaço de descoberta e vida. Ferramentas como essa, que instigam a curiosidade, devem estar aliadas à pesquisa, orientação e realização de tarefas. Se isso não ocorre, evidentemente que requer um regramento”, justifica o deputado.
Países como Finlândia, Holanda e Suíça – que ostentam os melhores indicadores na área da educação no mundo – já possuem regulamentação a respeito do assunto. Atualmente, uma em cada quatro nações baniu ou tem políticas públicas sobre uso de celulares em sala de aula. No Brasil, ainda não há legislação para este fim.

Em Montenegro, uso divide opiniões
Júlia Kuhn Santos, 15, é estudante do 1º Ano do Ensino Médio na Escola Estadual Técnica São João Batista, em Montenegro. Para ela, a utilização de celulares em sala de aula pode ser problemática. Júlia conta que na instituição, o celular pode ser utilizado como meio de pesquisa para trabalho, mas tem a consciência de que muitas vezes a regra não é respeitada. “Acredito que os professores e direção poderiam colocar regras mais rígidas para não ter o uso do celular, porque é uma distração.

A concentração nos estudos é fundamental, porque tu está na escola para isso”, pontua. Ela também defende outras maneiras para realização de pesquisas que tirem o foco do celular. “Na nossa escola a gente tem computadores para usar, então os celulares poderiam ficar com os professores. Quando precisamos buscar algo mais concreto e científico também podemos usar os livros, porque temos uma biblioteca bem grande. O celular não deveria entrar em sala de aula”, opina.

Júlia, do primeiro ano, e Ana Laura, do terceiro, do Ensino Médio na E.E. Técnica São João Batista

Já Ana Laura Pilger, 17, estudante do 3º Ano do Ensino Médio na escola, é a favor do uso de celulares em sala de aula. Conforme ela, desde a pandemia, o uso dos smartphones são quase que indispensáveis em sala. “Nós o usamos para tudo. Nos acostumamos muito com esse uso e agora quando tem alguma atividade que a gente não pode pegar o celular ficamos perdidos, desnorteados e sem saber o que fazer com essa pressão de tirar o celular de perto”, expõe.

Além disso, para Ana Laura, o celular é mais ágil e prático na resolução de atividades. “Quando não sabemos de algo, é muito mais fácil pegar o celular para conferir do que pegar um livro, olhar o sumário, coisa que eu acho que hoje em dia tem gente que nem sabe fazer ainda. Ficamos tão acostumados que meio que não dá para imaginar ficar sem”, destaca. Ainda, em sua opinião, os professores também já se acostumaram com a situação. “Eles já passam atividades de pesquisa direto no telefone, então acho que a escola está adaptada à realidade”, conclui.

Juliana Cabreira Bender, diretora da escola

Escola deve ter normativa para o uso em 2024
A diretora da escola, Juliana Cabreira Bender, explica que o uso do celular como uma ferramenta pedagógica é um grande desafio dentro da escola, que debate muito sobre o assunto. “O celular hoje é uma ferramenta de trabalho, onde existe uma série de aplicativos, locais de pesquisa e funcionalidades que podemos acessar. Isso vem a ajudar e contribuir para aprendizagem dos alunos”, explica. Ela afirma que o desafio é manter o foco dos alunos durante o uso do celular.

Em sua visão, no Ensino Fundamental, os jovens ainda não estão totalmente preparados para esta realidade, enquanto no Ensino Médio, cada vez mais se tem trabalhado o foco enquanto o celular é utilizado. “Na mesma medida que o celular é uma ferramenta excelente que vai te dar possibilidades, também tem uma série de distrações como os jogos e as redes sociais. Esta interação com o aparelho tem que ser organizada de maneira que o foco seja a sala de aula”, assinala. Juliana relata que na maioria das vezes os alunos têm dificuldade em entender o desligamento do que é externo dentro da sala. “Isso tem muito a ver com como o professor organiza sua aula e as combinações que vai fazer com os alunos”, diz.

A diretora conta que na última reunião pedagógica da escola o assunto foi muito debatido. Ela adianta que, até o fim de 2023, a instituição seguirá “educando” quanto ao uso dos smartphones para, em 2024, lançar uma normativa própria da escola quanto ao emprego deste uso. “Vamos lançar só o ano que vem para amadurecer bem este processo. Nestes próximos meses de aula a gente vai perceber as positivas e as negativas, com foco em combater as negativas e potencializar as positivas”, adianta.

Mariana, professora da área de Humanas, defende o bom uso do aparelho

O desafio de utilizar o celular como ferramenta em sala
Mariana Schossler, professora da área de Humanas no São João, destaca que o celular pode ser uma ferramenta pedagógica muito importante, mas deve ser um aliado do professor e dos alunos. “Nós, enquanto professores, temos um aplicativo para fazer registros de chamada, então faz parte da nossa vida. Para prepararmos uma aula e buscarmos o material acaba sendo muito mais prático e rápido através do celular também”, argumenta. Além disso, ela afirma que a geração que está na escola atualmente já nasceu com o uso do celular muito popularizado.

Ainda assim, é fundamental que as instituições ensinem como e quando o instrumento deve ser utilizado em sala de aula. “Faz parte da vida deles. Por isso temos que aproveitar as potencialidades que o aparelho oferece. É muito mais do que acessar a informação, mas ensinar os alunos como usá-la. Não adianta eu achar que achei a informação e ter uma fake news”, acrescenta. Ela conta que por experiência própria, vê atividades virtuais serem bem mais aceitas do que as à moda “antiga”, com folhas e materiais nos cadernos. “Se eu levo livro para os alunos, tem uma certa resistência. Se eu mando o mesmo material em um PDF, por celular, parece que anima eles”, conta.

A escola utiliza o aplicativo Class Room, sistema de gerenciamento de conteúdo para escolas que procuram simplificar a criação, a distribuição e a avaliação de trabalhos de maneira virtual. “É uma ferramenta útil, mas que eles precisam aprender a como e quando usar. Há combinações para o uso em sala de aula e é importante que sejam seguidas”, conclui.

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