Registro em madeira de uma fase econômica

150 Anos. Casa da Atafona é de quando a produção de farinha dominava

Os 150 anos completados por Montenegro no último dia 5 de maio são alicerçados no empreendedorismo, no trabalho e em aspectos peculiares, alguns pouco conhecidos. Entre os fatores que compõem o surgimento desta comunidade está o econômico, que nem sempre foi baseado nas indústrias, no comércio e na plantação de citros. Antes eram os moinhos de grãos que dominavam “a roda” das colônias e distritos.

Na localidade de Santos Reis, o casal Martin Henrique Maurer, 75 anos, e Iara Regina Sebastyani Maurer, 67, conservam uma relíquia desta época. Conhecida como Casa da Atafona, a engenhoca de madeira movida pela força d’água ainda funciona. Maurer conta que a propriedade pertenceu ao seu bisavó materno, Leopoldo Kunz; todavia, a primeira utilidade da estrutura foi como serraria movida pela força d’água.

Maurer caminha sob as engrenagens de madeira do moinho ainda todo original

No início do Século XX foi adaptada para o trabalho de moagem, especialmente de Mandioca, para produção de farinha. “Foi o auge das atafonas. Acredito que foi na época da segunda guerra mundial”, recorda. A exportação para suprir a escassez na Europa em conflito teria sido fundamental. Segundo o agricultor, há registros de cerca de 300 agroindústrias desta natureza na Montenegro que ainda contava com seus distritos (depois emancipados).

Nas atafonas com roda d’água eram moídos ainda milho e trigo; além de amendoim para extração de óleo, usado como combustível em lampiões. Maurer recorda ainda da extração de óleo de Linhaça, que servia como selador da madeira de móveis e máquinas de serviço. “E a maioria (dos moinhos) nesta região com origem alemã era movida com roda d’água”.
Ele comenta que aqueles imigrantes vieram de áreas pobres das cidades alemãs, não sendo tão experientes na agricultura e pecuária, mas ótimos na construção de “engenhocas”. Essa habilidade foi salutar, pois deu excelente lucratividade para quem teve uma atafona.

Agricultor transformou a casa onde cresceu em museu da região e sua economia


Casa da Atafona foi sucesso e ainda tem potencial turístico

A propriedade que hoje pertencente ao casal Maurer tem mais de 150 anos, estando ativa economicamente nos tempos da Freguesia de São João do Monte Negro. Já a estrutura da atafona data do início do Século XX, passando por indispensáveis reformas, com substituição da roda d’água e seu eixo em madeira por peças de ferro. O restante é original, criando um ar bucólico que desperta curiosidade em quem visita.

A preservação transformou a Casa da Atafona em ponto turístico e espaço para eventos, dentro da Rota Sabores e Saberes. O casal perdeu a conta, mas foram milhares de pessoas com quem conviveu em “um dia de volta ao passado”, inclusive celebridades, jornalistas e visitantes de outros países. “A gente conseguiu dar alegria! Foi muito gratificante”, comentou, ao ressaltar as lições de cidadania, preservação ambiental, cultura e história.

Famíla Maurer: Edeli; Martin; Gleci, e os pais Wilibaldo e Lélia

Mas então veio a pandemia, combinada com a idade avançada do casal. Sozinhos, Martin e Iara conseguem receber apenas pequenos grupos e mediante agendamento. Ainda assim, a recepção só é possível graças ao trabalho conjunto com a Agência de Turismo Belo Sul. A diretora e guia turística, Andrisa Mariano, explica que realiza o agendamento e providência a logística com buffet. Os anfitriões se encarregam apenas da recepção, contando a história gravada nas madeiras.

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