Refluxo gastroesofágico: cuidado com seus hábitos!

Você sabia que o refluxo gastroesofágico afeta aproximadamente 25 milhões de brasileiros? O dado trazido pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD) mostra que a doença é mais comum do que se imagina, mesmo algumas pessoas ainda achando que os sintomas não indicam “nada demais”. O refluxo consiste no retorno do conteúdo gástrico, sejam gases, líquidos ou sólidos, para o esôfago. Ele pode ocorrer em diversos momentos do dia, principalmente no período após as refeições e em recém-nascidos.

O refluxo acontece no esôfago, um dos órgãos do sistema digestório. Trata-se de um tubo muscular oco com 3 centímetros de diâmetro e cerca de 25 centímetros de comprimento, com duas válvulas (esfíncteres): uma na parte superior, na junção com a faringe; outra na inferior, no ponto em que o órgão se comunica com o estômago.

Toda vez que mastigamos e engolimos um alimento, ele passa pela faringe e, para entrar no esôfago, o esfíncter esofágico superior se abre para permitir a entrada do bolo alimentar, que vai continuar seu caminho rumo ao estômago, onde ocorre a digestão. Assim que o bolo alimentar chega ao estômago, o esfíncter esofágico inferior se fecha para evitar que o suco gástrico “volte” para o esôfago, provocando irritação em suas paredes. No refluxo gastroesofágico, os alimentos e o suco gástrico fazem o caminho inverso e retornam para o esôfago.

Quando esse processo se torna crônico, significa que a pessoa desenvolveu a chamada doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). A doença acomete ambos os sexos e é mais frequente em quem tem mais de 40 anos, embora possa aparecer em qualquer idade.
A doença, que afeta crianças e adultos, é um dos motivos mais frequentes que levam o paciente ao consultório de um gastroenterologista. É uma doença crônica que limita bastante a qualidade de vida do paciente e pode intervir em várias atividades diárias. O problema desaparece espontaneamente na maioria dos casos.

Os fatores de risco para a doença são a obesidade, pois os episódios tendem a diminuir quando a pessoa emagrece; refeições volumosas antes de deitas; aumento da pressão intra-abdominal e ingestão de alimentos como café, chá preto, chá mate, chocolate, molho de tomate, alimentos ácidos, bebidas alcoólicas e gasosas. Para diagnosticar o refluxo gastroesofágico, o médico leva em conta os sinais clínicos e os resultados de exames como a endoscopia digestiva alta e a pHmetria esofágica.

Causas e sintomas
As causas do refluxo podem estar ligadas a alterações no esfíncter que separa o esôfago do estômago, que deveria funcionar justamente como uma válvula para impedir o retorno dos alimentos. Outra causa é a hérnia de hiato provocada pelo deslocamento da transição entre o esôfago e o estômago, que se projeta para dentro da cavidade toráxica. Ainda, a fragilidade das estruturas musculares existentes na região também é possível causa.

Os sintomas são azia ou queimação que se origina na boca do estômago, mas pode atingir a garganta; dor torácica intensa que pode ser até mesmo confundida com a dor da angina e do infarto do miocárdio; tosse seca e doenças pulmonares de repetição, como pneumonias, bronquites e asma.

Recomendações
– não se automedique se tiver episódios repetidos de azia ou queimação. Procure assistência médica para diagnóstico e tratamento adequados;
– evite alimentos e bebidas, especialmente as alcoólicas, que favorecem o retorno do conteúdo gástrico;
– fique longe do cigarro;
– procure perder peso;
– não use cintos ou roupas apertadas na região do abdome;
– não se deite logo após as refeições;
– distribua os alimentos em pequenas quantidades por várias refeições (café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar);
– faça refeições mais leves. Sente-se e coma sem pressa, mastigando bem os alimentos;
– aumente a salivação com gomas de mascar ou balas duras. A saliva pode aliviar a dor.
– não coloque o bebê na cama assim que acabar de mamar. Mantenha-o em pé no colo até que elimine o ar que deglutiu durante a amamentação.

Como tratar o refluxo?
O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico. O clínico inclui a administração de medicamentos que diminuem a produção de ácido pelo estômago e melhoram a motilidade do esôfago. Paralelamente, o paciente recebe orientação para perder peso, evitar alimentos e bebidas que agravam o quadro, fracionar a dieta, não se deitar logo após as refeições e praticar exercícios físicos.

A cirurgia pode ser realizada de maneira convencional ou por laparoscopia e está indicada nos casos de hérnia de hiato, para os pacientes que não respondem bem ao tratamento clinico ou quando é necessário confeccionar uma válvula antirrefluxo. Ela é sempre um procedimento adequado, quando a repetição do refluxo gastroesofágico provoca esofagite grave, uma vez que a acidez do suco gástrico pode alterar as células do revestimento esofágico e dar origem a tumores malignos.

Nos bebês
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o processo é mais frequente em bebês pequenos porque eles se alimentam com frequência e estão quase sempre no momento pós-refeição, além de terem uma alimentação líquida e ingerirem um grande volume de leite. O refluxo pode causar regurgitações (as famosas “golfadas”, que geralmente são em pouca quantidade e o bebê não precisa fazer esforço) e vômitos (que exigem maior esforço do bebê) após as mamadas ou refeições.

Basicamente, se o bebê está ganhando peso adequadamente e não apresenta outros sintomas, o refluxo não é motivo para preocupação. Os episódios de refluxo começam a ficar mais evidentes a partir do segundo mês de vida e raramente surgem após os seis meses. A condição geralmente se resolve espontaneamente até os dois anos de idade

Em casos de refluxo, não deite o bebê logo após as mamadas; troque a fralda antes das mamadas; evite fumar próximo do bebê (mesmo o fumo passivo pode piorar o refluxo); e evite a superalimentação (alimentar o bebê em excesso). Pode ser difícil identificar quando o bebê está sendo alimentado em excesso, mas o pediatra saberá avaliar melhor esse aspecto.

Vale destacar que mesmo bebês que têm refluxo devem dormir de barriga para cima, pois a posição reduz o risco de morte súbita. Quando o bebê está de barriga para cima e regurgita, o leite retorna para o estômago. Quando ele fica de lado, o líquido do estômago pode ser aspirado para o pulmão.

O que comer?
A alimentação saudável é uma chave para o controle do refluxo e para oferecer bem-estar às pessoas atingidas por essa complicação do trato digestivo. Ao elaborar a dieta, o indivíduo deve dar preferência aos alimentos integrais e aumentar a ingestão de fibras. Frango, atum, salmão e carnes magras são as melhores escolhas para compor as proteínas da dieta para combater o refluxo. Iogurte e kefir (um tipo de leite fermentado com muitos benefícios para a saúde) são excelentes para equilibrar as bactérias saudáveis do estômago, ajudando na digestão dos alimentos.

As gorduras saudáveis, como óleo de coco e abacate, também são grandes aliadas para amenizar os sintomas do refluxo. Legumes como alcachofra, pepino, abóbora e aspargo possuem propriedades que também ajudam a cuidar do trato digestivo. Amêndoas, água de coco, vinagre de maçã, gengibre, salsa e erva-doce são outros alimentos que não devem faltar na dieta para pacientes com refluxo gastroesofágico. É importante lembrar que comer muito nas refeições piora significativamente os sintomas do refluxo, gerando ainda mais pressão sobre o esfíncter e atrapalhando a digestão correta. Por isso, recomenda-se ingerir pequenas porções durante as refeições diárias.

Refluxo na gravidez
Durante a gravidez, o corpo da mulher passa por uma série de transformações. Essas mudanças, embora necessárias para o desenvolvimento saudável do bebê, podem causar alguns efeitos colaterais indesejados. O refluxo é um deles. A principal razão pela qual as gestantes são mais propensas ao refluxo ácido é a alteração dos níveis hormonais. O aumento do hormônio progesterona relaxa os músculos do corpo, inclusive o esfíncter esofágico inferior. Este músculo, localizado entre o estômago e o esôfago, funciona como uma válvula que impede que o ácido estomacal suba para o esôfago. Quando relaxado, permite que o ácido reflua, causando a sensação de queimação tão associada ao refluxo.

Fotos: freepik

Além das mudanças hormonais, à medida que o bebê cresce e o útero se expande, há um aumento da pressão sobre o estômago. Esse espaço reduzido pode empurrar o conteúdo do estômago para cima, potencializando os episódios de refluxo.

Uma dica inicial é repensar seus hábitos alimentares. Fracionar as refeições em porções menores e mais frequentes pode fazer uma enorme diferença. Evitar alimentos que desencadeiam o refluxo, como aqueles picantes, ácidos ou muito gordurosos, também é benéfico. Além disso, vale a pena ficar atenta à postura ao se deitar, optando por manter a cabeça elevada, o que pode prevenir o refluxo noturno.

Seja paciente e atenta às necessidades do seu corpo. Identifique o que funciona para você e siga as orientações médicas para garantir a saúde sua e do seu bebê. Em breve, você encontrará maneiras eficazes de amenizar o refluxo e tornar a gravidez uma experiência ainda mais prazerosa.

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