Reencontro e perdão através das páginas do jornal

Missão. Reportagem do Ibiá permite filha localizar o pai após 12 anos

Quando promove felicidade, especialmente como canal de conexão entre pessoas, o jornalismo cumpre uma de suas missões. Este foi o papel do Ibiá no reencontro de Lucimar Ortiz da Rosa, 31 anos, com seu pai, José Carlos Nunes da Rosa, 77, separados há 12 anos, unicamente, por consequência dos atos dele. E neste caso, o Jornal permitiu ainda o perdão, e a oportunidade de arrepender-se dos erros.

A jornada iniciou em fevereiro de 2019, quando foi publicada a entrevista na qual a filha pedia ajuda para localizar em Montenegro seu genitor. Mas apenas em junho de 2020, a montenegrina que alugou casa a José Carlos contatou-a para informar que ele havia retornado à Cachoeira do Sul e moraria perto do enteado (irmão de Lucimar). A leitora do Ibiá teve este ato de empatia, e saiu de cena sem tornar sua identidade pública.

A filha se surpreendeu em saber que o pai estava tão perto, praticamente um vizinho no bairro ao lado, onde poderia visitá-lo a pé. Ainda mais comovente foi saber que chegou em outubro passado. “Por ironia, eu casei um novembro, e nem imaginava que meu pai estava aqui”, comentou, ao revelar que sonhava ser conduzia ao altar pelo seu braço.

Mas seu problema continuava devido ao fato dela ter rompido relação com o irmão, após a morte da mãe deles há dois anos. Sua alternativa foi vasculhar o bairro. “Saí perguntando, pessoa por pessoa”, explicou. Por sorte, o segundo morador abordado o conhecia e a levou até o portão do pai. A procura acabava naquele 14 de junho.

Reencontro na porta
A jovem avalia o destino, que lhe reaproximou do pai em meio a pandemia, onde a ordem é ficar afastado, sobretudo dos idosos. E o primeiro ato do reencontro teve o simbolismo da imagem de José – ainda distante – surgindo emoldurada por uma janela. Mesmo de relance, a filha foi capaz de concluir que ele não havia mudado nada.

Foi um gatilho para emoções que a paralisou em frente à porta, com o coração disparado. E descreve como surreal o instante em que ouviu a voz responder “já vai”, após o esposo dela ter batido. “E quando ele abriu a porta foi lindo”, descreve Lucimar, ao comparar com a euforia que provou no nascimento de cada um de seus três filhos.

A mascara de segurança ao Covid-19 evitou reconhecê-la, e obrigou uma iniciativa. “A primeira coisa que tive vontade de fazer, foi dizer ‘oi pai’. E logo o abracei e comecei a chorar muito”.

Naquele domingo, o perdão já foi oferecido e a ausência de ódio revelada. O primeiro diálogo foi para apresentar-lhe o genro, falar do casamento de véu e grinalda e dizer que era avô de uma menina de 11 anos, e dois meninos, de seis e de dois anos. Desta vez era o avô que chorava.

“Eu agradeço muito a vocês. Muito mesmo! Foi a mão de Deus que fez vocês escreverem aquela reportagem”, agradeceu Lucimar, sem esquecer-se da boa alma montenegrina.

Lembrança do bom pai
A reaproximação será gradual, e baseada em diálogo. Uma clemência que será julgada. Lucimar tinha 18 anos e carregava nos braços a filha com 45 dias de vida quando os pais brigaram. Nas palavras dela, José estava “tomado de ciúmes” por Rosita da Graça Ortiz, sentimento agravado pelo álcool, quando incendiou a casa com as mulheres dentro.

A própria filha chamou a polícia e acusou o pai; que foi preso, julgado e condenado. Acontece que paralelo a dor, ela carrega marcas do carinho paterno, que não conseguia apagar.

A Lucimar menina era muito ligada ao pai, que, até o dia do crime, considerava “exemplar” e “um porto seguro”. Sentimentos que justificam as lágrimas no banco das testemunhas, onde reiterou as acusações e o amor. Hoje, quer compreender e recomeçar, percebendo como pais marcam, para sempre, os filhos.

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