Redes sociais podem ser mais nocivas para meninas

Segundo estudo, crianças que utilizam esses meios podem ter seu bem-estar psicológico reduzido na adolescência

O efeito do uso das redes sociais pode ser mais prejudicial para meninas do que para meninos. É o que afirma um estudo publicado pela Universidade de Essex, no Reino Unido, no qual foi coletado dados de quase 10 mil famílias entre os anos de 2009 e 2015.

Na pesquisa, as crianças envolvidas tinham em torno de 10 anos no início das investigações e 15, ao final. O estado mental delas foi avaliado em duas fases, sendo a primeira a felicidade que sentiam em diferentes áreas de suas vidas – família, escola, amigos, etc. – , além dos desafios sociais e emocionais que enfrentavam.

No período de avaliação, as meninas utilizaram as redes sociais com maior frequência do que os meninos, e em decorrência dessa exposição, sua saúde mental pode ter sido afetada. Aos 10 anos, 10% delas passaram pelo menos uma 1 hora nas redes, enquanto 7% deles fizeram o mesmo. Conforme o tempo passou, essa disparidade cresceu e aos 15 anos, nesse mesmo intervalo de duração, 43% das garotas ficaram online, já eles, apenas 31%.

De acordo com o estudo, enquanto aos 10, as meninas apresentaram níveis de felicidade inferiores aos garotos, ao longo dos anos, elas também demonstraram maiores dificuldade emocionais e sociais que eles. Apesar de a relação causa e efeito não ter sido linearmente estabelecida, os autores da pesquisa acreditam que a chave da questão pode ser a forma com que garotas usam esses meios, afirmando que elas tendem a fazer mais comparações entre si e com os outros. Já os meninos, apontam os pesquisadores, usam o tempo online para investir em jogos, por exemplo.

A psicóloga Adriana Bandeira, atribui parte desse resultado ao contexto cultural em que as meninas estão inseridas. “Elas estão mais vulneráveis às exigências impostas do que se compreende por feminino”, comenta, destacando que é necessário um cuidado especial ao fazer uma diferenciação entre ambos os gêneros.

“Vale ressalvar que as redes sociais interferem de igual maneira com os garotos, sempre dependendo da forma como é utilizada. As exigências ao masculino, hoje, determinam a impossibilidade de homens constituírem-se conforme suas escolhas desejantes, com um mínimo de satisfação no trabalho, no amor e na vida. Assim os meninos são convidados a exercerem papéis também determinados e isso lhes causa grande sofrimento.”, salienta a psicóloga.

Dialogar e monitorar. Esse é o segredo da professora Ledi Pohren, para que os dois filhos façam um bom uso desses recursos digitais. Mãe da Giovana e do Eduardo Pohren, 10 e 13, respectivamente, ela conta que percebe a forma como cada um é influenciado pelas redes sociais. “É bem visível como eles recebem e consomem essas informações de maneira diferente. O Eduardo tem sempre o mesmo foco, que são os games, já ela, eu noto que há uma certa vulnerabilidade naquilo que ela ver e passa a gostar”, afirma.

Mídias sociais e a realidade

Amanda se preocupa com as imposições que as redes podem ter sobre as filhas Ana Laura e Ana Carolina. foto: arquivo pessoal

Como parte uma sociedade globalização, as redes sociais se tornaram uma ferramenta de grande relevância a partir desse contexto. Para a psicóloga Adriana Bandeira, os efeitos do uso desses recursos dependem da forma como as pessoas utilizam.

“A partir desse processo de mundo globalizado, a imagem da felicidade deixar de ser um ideal e passar a ser compreendido como uma coisa a ser capturada, tendo seus aportes nos objetos de consumo, nas formas físicas inatingíveis, ou seja, num homem inexistente enquanto na sua incompletude. Isso afeta homens e mulheres, meninos e meninas”, destaca Bandeira.

No dia a dia, a secretária Amanda Gehlen, percebe essa imposição de vida e comportamento. Mãe de duas meninas, a Ana Laura e Ana Carolina Gehlen, 8 e 16 anos, respectivamente, ela se mostra preocupada com essas influências. “Ao observar minha filha mais velha com as amigas, percebo que elas são bem mais influenciadas por esses padrões. Querendo ou não, a mídia acaba mostrando um modelo de vida e felicidade que nem sempre é real, o que pode acabar frustrando os adolescentes”, conta a secretária.

Por menos horas online

De acordo com Cara Booker, autora da pesquisa, passar muitas horas online nas redes sociais pode ter um resultado ainda mais grave. “Claro que os jovens precisam de acesso à internet para a lição de casa, assistir TV e conversar com os amigos. Mas eles provavelmente não precisam de duas, três horas conversando, compartilhando e se comparando uns com os outros nas mídias sociais todos os dias”.

A pequena Giovana ainda não tem conta nas redes sociais, mas utiliza a da mãe sob supervisão

A felicidade como possibilidade através do consumo e das imagens midiáticas é uma forma importante para conseguir compreender todo esse processo, conforme explica a psicóloga Adriana Bandeira. “Para as meninas, as comparações são parte do que culturalmente esperam das mulheres, numa super valorização de características existentes em todos. Assim, surge a opressão e repetição de violência instigada pelos meios de consumo como, formas de emagrecimento, roupas da moda, celulares, músicas, maneiras de agir e de portar-se e etc.”, destaca, acrescentando que todas essas formas de alienação restringem o sujeito e o que ele almeja enquanto existência, de acordo com padrões sociais.

Redes, bem-estar psicológico e social
Mas é possível utilizar as redes sociais sem prejudicar o bem-estar psicológico e social? Sim! De acordo com a psicóloga Adriana Bandeira, qualquer coisa que chega até as pessoas sem filtro e sem pedir licença deve ser interrogado. “Eu me refiro ao que vem da televisão, das redes sociais, das determinações do imaginário de nossa sociedade atual. Assim, são os adultos que pretenderiam ensinar a questionar o que e como lidamos com o que nos é ofertado. Isso testemunha a existência do outro e de si mesmo. Na adolescência, os limites fazem bem, desde que tenham sentido”, conclui Bandeira.

Últimas Notícias

Destaques