Após análises, relatório deve ser entregue pela perícia em até 90 dias
Passava das 21h desta terça-feira, 26, quando foram iniciados os trabalhos da perícia na casa onde viviam Thaiane Oliveira, 29 anos, e Perci Brietzke, 31, em Capela de Santana. O horário foi escolhido para simular as condições de luminosidade da madrugada de 24 de julho, data em que Thaiane foi morta pelo companheiro, que é policial militar. Ele disse em depoimento que atirou por engano, achando que a esposa era um invasor na residência. Nesta terça, a reconstituição no local buscou testar essa tese.
Foram duas etapas. Primeiro, a perita criminal do Instituto-Geral de Perícias (IGP), Bárbara Cavedon, coletou novo depoimento de Perci na delegacia do Município. Em seguida, ele foi levado de volta à casa – a primeira vez desde o crime – para reproduzir o passo a passo de como tudo teria se passado naquela noite. Thaiane foi representada por uma policial militar de estatura parecida com a finalidade de confirmar se seria viável a forma como os acontecimentos foram colocados pelo esposo.
“E a gente vai fazendo fotografias que ilustram esse relato”, explica a perita. “Depois, nós fazemos uma análise com todos os exames periciais que já foram feitos para verificar a respeito da viabilidade. Caso essa dinâmica não seja cabível, nós apresentamos esses pontos de incongruência.” O relatório pericial da reconstituição deve ser entregue no prazo de 30 a 90 dias para o delegado Rodrigo Zucco, que é o responsável pelas investigações.
Ele também acompanhou os trabalhos do IGP, em Capela. “Nenhuma hipótese foi descartada”, garantiu, ainda no local. “O que vai nos trazer elementos de convicção para a conclusão do inquérito é o laudo feito a partir da noite de hoje.”
Em setembro, Zucco já havia dado o inquérito como concluído, colocando que indiciaria Perci por homicídio culposo, sem intenção de matar. Dias depois, porém, ele anunciou que ainda solicitaria a reconstituição. “Exatamente pela questão da luminosidade da residência”, justificou na noite de terça. “Era uma noite chuvosa, tarde da noite. A casa estava sem luz do ponto de vista que era uma noite chuvosa e com muitos relâmpagos; e a família resolveu desligar o disjuntor. Todas essas circunstâncias foram simuladas e reconstituídas.”
Esposo se apresentou bastante abalado durante a simulação
A atividade da perícia na Rua Um do bairro Jardim Capela teve início com a residência do casal iluminada apenas pelos faróis das viaturas policiais. Em determinado momento, a perita pediu que tudo fosse desligado. De portas fechadas, e na escuridão, ocorreu a maior parte da reconstituição. De acordo com o delegado Zucco, simulando também a existência dos celulares e da lanterna que Thaiane teria usado quando se deparou com o marido antes do disparo.
Havia um questionamento anterior sobre uma janela encontrada quebrada na residência, mas, segundo o delegado, esse ponto não foi levado em conta. “Ela não influencia na questão do disparo da arma de fogo, da luminosidade do local e das circunstâncias que envolveram o crime”, explicou.
De volta ao local, o delegado contou que Perci estava bastante abalado. Em choque, ele chegou a ficar internado por duas semanas no Hospital da Brigada Militar, em Porto Alegre, logo após o fato. Ele não chegou a ser preso.
“Ele encontra-se, ainda, conforme o próprio declarou, sedado”, relatou Zucco. “Está tomando muitos remédios e não estava muito bem fisicamente para fazer todo o levantamento do local. Mas o pessoal do IGP foi brilhante em seu trabalho. Tiveram muita paciência com o policial e eu acredito que tenhamos coletado todos os elementos necessários para a conclusão do inquérito.”
Limitada à calçada em frente à residência, a reportagem pôde ver o esposo de Thaiane quando a simulação chegou à área externa. Com o uso da dublê da vítima, foi recriado o momento em que Perci saiu com ela nos braços pela porta da frente. Com a voz embargada, ele parecia bastante abalado pela situação.
O QUE RELATA O AUTOR DO DISPARO: Na noite de 24 de julho, estava tendo um temporal. Perci Brietzke disse à polícia que havia, por isso, desligado o disjuntor da residência. Ele contou que acordou na madrugada, assustado com um barulho muito forte, levantou-se e pegou sua arma em um bidê, do lado da cama. Teria ido até o hall de entrada da sala quando visualizou uma lanterna vindo em sua direção. Disse que deu ordem para que essa pessoa parasse, mas, como ela não parou, efetuou um único disparo. Só quando a lanterna caiu no chão que ele teria verificado de que se tratava da própria esposa.
Advogado da família acompanhou a perícia
Bastante abalada, a família de Thaiane optou por não acompanhar os trabalhos da perícia. Mandou o advogado, Luis Augusto Hörlle, que esteve na delegacia acompanhando o depoimento de Perci e também entrou na casa no momento da reconstituição. “A família buscou o amparo de advogado por essa questão de o crime ter ocorrido sem ou com vontade de quem o cometeu”, colocou. “Vamos aguardar o inquérito policial que vai, dentro do que foi feito, dar uma conclusão. O que ela busca, acima de tudo, é justiça.”
VEJA EM VÍDEO