Rap significa em inglês “Rhythm and poetry”, que traduzido é ritmo e poesia. Apareceu primeiramente na Jamaica, por volta dos anos 60 e foi levado para os Estados Unidos, no começo dos anos 70. O ano oficial de sua chegada no Brasil foi em 1986, em São Paulo. Apenas pessoas da periferia curtiam esse estilo na época, e o preconceito sempre existiu. As pessoas de fora não gostaram logo de cara, pois o consideravam muito violento e pertencente apenas à periferia. Também frequentavam os locais de rap, os dançarinos de breakdance, do hip hop. Por isso que o rap e o hip hop têm tudo a ver.
Valorização da periferia e voz da minoria
Nos dias de hoje, cada vez mais o rap e o hip hop estão se difundindo e seguem conquistando mais admiradores. Dentre eles, Pedro José da Silva, 52, o conhecido MC Pedrão, que desde 1983 se dedica ao hip hop. Ativista social natural de São Leopoldo, ele reside em Montenegro há 19 anos e desde 2000 vem trazendo cultura para a cidade em forma de muita rima boa e ritmo.
MC Pedrão conta que o gosto “pela coisa” surgiu cedo, incentivado por ouvir vozes como Racionais, Ndee Naldinho e Public Enemy. “Desde os meus treze anos que tenho gosto, porque o rap me fala o que eu sinto e vejo”, sublinha. Ele explica que o rap passa longe de apenas sons e rimas bem colocadas. Se trata de uma ideologia de vida. “Simplesmente quero o melhor para nós e para a comunidade”, pontua.
O MC comenta que o maior intuito do rap é dar voz às minorias. “Além de valorizar a periferia, queremos dar voz aos excluídos. Nós somos a voz deles, que podem se sentir sempre representados pelo rap e pelo hip hop. A gente do movimento quer o bem do branco, do preto, do homem, da mulher”, destaca.
Guerreiros da Perifa
MC Pedrão, além de amante do movimento, é apoiador de rappers locais, como o grupo “Guerreiros da Perifa”, o qual se intitula um empresário. O grupo é formado por Éder Chávez Appel, 35, mais conhecido por Dwedy, e Júlio César de Souza Pereira, 28, o JC. O “Guerreiros da Perifa” surgiu em 2010 e desde lá continua na correria na luta contra o preconceito e em busca por igualdade.
Dwedy conta que o rap entrou e sua vida nos anos 90, quando ele tinha apenas 9 anos, e que a identificação foi de cara. “Eu sempre fui um ouvinte, mas mais ou menos em 2004 comecei a escrever sons autorais junto com meu parceiro de vida e rap, o JC. Aí conheci o MC Pedrão e comecei a assimilar que era cultura hip hop”, relembra.
Ele diz que a partir de 2014 o grupo não parou mais, participando de festivais, coletâneas de rap e shows, que abriram os caminhos. Atualmente, eles têm dois CD’s físicos e estão em processo de produção para o terceiro trabalho que sairá nas plataformas digitais. Nesse ano, o grupo lançou uma música no Youtube, nomeado “Diversos Sufocos”.
JC também começou a escrever suas próprias rimas na adolescência e afirma que ele e o companheiro de grupo já são rap antes mesmo de perceber. “Nós que somos da periferia e da raça negra já somos rap desde que nascemos, pelo preconceito, pela desigualdade, pelas barreiras que enfrentamos”, pontua. Ele destaca que nas letras de rap, se identifica e encontra um meio de poder abordar esses assuntos de forma artística e cultural. “Isso nos torna multiplicadores de informação e do resgate social”, salienta.
Mulher tem todo o espaço no movimento
Na semana passada, MC Pedrão teve a iniciativa de realizar uma batalha de rap na Praça Rui Barbosa e o evento teve grande importância para a cultura da cidade. Dentre os competidores, uma garota decidiu representar o feminino do rap e se deu bem entre os outros, todos homens. Michele Gressler, de apenas 17 anos, ganhou todas as batalhas por quais passou no dia com muita coragem e também talento.
Ela lembra que, infelizmente, ainda não temos muitas meninas que representem no rap, pelo menos não em Montenegro, mas deixa o incentivo para quem gosta do movimento e se intimida. “A vida é uma caminhada e o primeiro passo é o mais importante para seguir em frente. Eu só curto muito o rap, hip hop, grafite e batalhas, mas não tenho nenhuma experiência. Meus amigos estavam me mandando tentar participar da batalha, isso me deu mais coragem e eu fui, mesmo nervosa. O incentivo é muito importante”, pontua.
MC Pedrão destaca a satisfação em ter mulheres inseridas no meio. “É um orgulho. O que queremos é cada vez mais mulheres no rap, na dança, no grafite, como DJs e até dando palestras. Isso que o hip hop busca: Dar espaço respeitando a diferença que for de cada indivíduo independente também de cor, religião e opção sexual”, finaliza.