Insegurança alimentar grave é um dos grandes problemas dessa parcela da sociedade
A insegurança alimentar grave – quando há privação grave no consumo de alimentos – atingiu 4,6% das residências do Brasil, o que equivale a 3,1 milhões de lares. Isso significa que 10,3 milhões de pessoas moram em domicílios nessa situação, sendo que 7,7 milhões estão na área urbana e 2,6 milhões na rural.
O levantamento é resultado da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018: Análise da Segurança Alimentar no Brasil, realizada pelo IBGE entre junho de 2017 e julho de 2018, divulgados neste mês. A piora na alimentação das famílias brasileiras foi de 42% desde a última pesquisa realizada, em 2013, quando 7.225 milhões de pessoas se encontravam em insegurança alimentar grave. Nesta conta entram apenas os moradores em domicílios permanentes, ou seja, são excluídas do levantamento as pessoas em situação de rua.
Em Montenegro a situação não é muito diferente da nacional. Segundo a Secretaria Municipal de Habitação, Desenvolvimento Social e Cidadania (SMHAD), nos últimos anos houve uma estabilização na insegurança alimentar, porém com a pandemia do novo coronavírus foram cerca de mil inscrições novas no Cadastro Único da cidade.
Morando em um casebre de apenas um cômodo na Estrada do Calafate, na localidade de Vendinha, em Montenegro, Eva da Silva, de 73 anos, é um dos milhares de brasileiros que vivem em insegurança alimentar. A montenegrina, que se sustenta com a pequena pensão do marido falecido e cestas básicas do município, precisa “se virar” para se alimentar no fim do mês. “O meu rancho agora é só dois pacotinhos de massa e um pouquinho de arroz. Eu ganhei duas panelas, e um vizinho me trouxe duas coxinhas de galinha”, conta.
Colchão, fogão de chão e um tanque de lavar roupas. Essas são algumas das poucas coisas que a casa de Eva comporta atualmente. Os poucos alimentos que recebe e precisam de refrigeração são levados para a residência do filho, Lúcio, que mora no mesmo terreno que a mãe, junto com a sua família.
Afastados da cidade, Eva que possuí dificuldades para se locomover nem sempre consegue pegar o ônibus e buscar a sua cesta, e depende da ajuda dos filhos ou da Assistência Social. Com a voz embargada, ela relata que antes da pandemia a situação já não era boa, e que só veio a piorar. “Eu tenho umas coisinhas minhas, mas estão na localidade de Passo da Pimenta e é muito longe, não tenho como buscar”, diz.
De acordo com Eva, um fogão a lenha e uma geladeira estão na sua antiga casa, mas ela não tem nem como ir buscar e nem onde colocar na sua atual morada. “Lá era muito longe, não passava ônibus e eu não tinha como pagar uma corrida”, comenta.
Para quem tiver interesse em ajudar a montenegrina com telhas, madeiras, material de construção, alimentos ou produtos de higiene basta entrar em contato com o seu filho Lúcio pelo número (51) 992527965.
600 cestas básicas entregues por semana
Segundo os dados da SMHAD, no mês de agosto já eram 1.983 famílias em situação de extrema pobreza (até R$ 89 per capita) em Montenegro. Ao todo, no Cadastro Único, são 4.324 famílias inscritas, do qual 472 estão em situação de pobreza (de R$ 89 até R$ 178), 893 são baixa renda (R$ 178,01 até 1/2 salário mínimo) e 976 acima de baixa renda.
O que antes era em torno de 200 cestas básicas por semana, com a pandemia do novo coronavírus atingiu cerca de 600. “Nos últimos anos, tinha uma procura e a gente conseguiu dar uma organizada para que fossem feitos os encaminhamentos, e muitas pessoas deixaram de sair da linha da pobreza. Mas com a pandemia aumentaram muito os casos de insegurança alimentar”, explica a diretora de Assistência Social, Mônica Müller.
A pesquisa realizada pelo IBGE aponta que o nível de maior restrição no acesso aos alimentos aparece com mais frequência nos domicílios localizados na área rural do Brasil, sendo 7,1% nessas localidades, três pontos percentuais acima do observado na área urbana (4,1%). No município o interior também é onde há mais pessoas em extrema pobreza. “São pessoas em situação de pobreza mesmo, que não têm nem pra comer e não têm como vir buscar. Eles não estão conseguindo nem ter o acesso a essa busca da alimentação, então a gente está conseguindo entregar”, fala Mônica. Segundo ela, a demanda está em dia graças a recursos Estaduais e Federais.
Lares chefiados por mulheres
Mais da metade dos domicílios brasileiros com insegurança alimentar grave são chefiados por mulheres, segundo o levantamento do IBGE. O homem é a pessoa de referência em 61,4% dos domicílios em situação de segurança alimentar. Já nos domicílios em condição de insegurança alimentar grave as mulheres predominam com 51,9%.
Em Montenegro grande parte dos lares em extrema pobreza são chefiados por mulheres, e segundo a SMHAD a maioria dos registros do Cadastro Único são de mulheres com seus filhos. “Se ela não tem uma rede boa com mãe e família, ela não consegue ir trabalhar, ai não tem com quem deixar as crianças. Isso vem a acarretar, porque ela não consegue trabalhar e fica sem renda nenhuma, e dentro dos benefícios é o que acontece” fala Mônica.
Cestas básicas de imediato
Com a pandemia da Covid-19, o CRAS está realizando levantamentos e acompanhamentos de todas as famílias que entram em contato ou são identificadas pela rede. Segundo a diretora de Assistência Social, profissionais também estão sendo contratados para ajudar na demanda.
De imediato, o que é oferecido pela SMHAD é o fornecimento de cesta básica pra todos que solicitam. Caso você ou alguém conhecido necessite, é preciso ir no CRAS Borboletas, que fica localizado na rua La Salle, n° 9, no bairro Municipal, das 8h às 16h30.
Doações de alimentos e produtos de higiene e limpeza também são aceitas no momento. Para os interessados basta ir até a Secretaria Municipal de Habitação, Desenvolvimento Social e Cidadania (SMHAD), localizada na rua Cel. Apolinário de Moraes, 1705, das 8h às 12h e das 13h30 às 16h30 e entregar os mantimentos.