Ver-se bonita, sensual e arrasadora. Esta é a razão que leva cada vez mais mulheres a realizar ensaios sensuais. Não exibir-se para amigas. Muito menos provocar o namorado. É a beleza presente no corpo feminino transformada em arte através da fotografia. Imagens que retratam as chamadas mulheres reais, dispostas a descobrir beleza das próprias curvas.
Não há um perfil da mulher que busca fazer um ensaio sensual, nem idade específica, ou, ainda, determinado padrão de beleza. Ela deve sim estar disposta a explorar o próprio encanto e descobrir-se. Em março desse ano, “num apê” aqui de Montenegro, como ela mesma conta, Jhosy Garcia, de 25 anos, posava para Adriana Schönell, depois de ter desperto um desejo antigo ao ficar sabendo que ensaios desse tipo estavam ocorrendo pela cidade. A conversa tomou forma e elas colocaram em prática.
Jhosy jamais atuou como modelo. Ainda assim, ela nega qualquer constrangimento. “Nem haveria por que. A ‘Adri’ estava tão animada quanto eu, então logo de início me soltei e curti o momento”, diz Jhosy. Fotos feitas para ela e ninguém mais. “Apenas pra mim. Não quis agradar ninguém que não a mim mesma”, enfatiza. Motivação semelhante a de Gabriela Dahmer Coitinho, 27 anos. “Ensaio sensual é algo pessoal, algo que devemos fazer por nós e para nós, acima de tudo. Nada melhor do que se amar e se sentir bem”, diz Gabriela, que foi fotografada por Douglas Costa, num ensaio dividido em duas fases. A primeira ocorreu em estúdio, em dezembro de 2016 e, a final, em externas realizadas numa propriedade privada e na cascata do Maratá.
Bem resolvida, Gabriela conta que adora seu corpo e empolgada aceitou o convite de Douglas. “Eu imediatamente adorei a ideia”, relata. Apesar de não ser modelo, Gabriela trabalha com sua imagem. Ela atua como influenciadora digital, o que lhe ajudou a relaxar para as fotos. Mesmo assim, o frio na barriga esteve presente. “Como ensaio sensual foi a primeira experiência e, admito, na primeira sessão estava um pouco acanhada, mas o Douglas e a mulher dele (que esteve presente durante as fotos) me deixaram super a vontade, foram conversando comigo e, no segundo, eu já estava bem mais solta”, diz.
A rotina de Patricia Rigon Müller, de 23 anos, não tem nada a ver com modelar. A professora de matemática clicada por Mayara Lima em maio desse ano colocou suas curvas plus size à mostra sem nenhum constrangimento. “Eu ouvi sobre o projeto da May. E já tinha ficado sabendo de outras meninas que fizeram. E elas estavam toda s num padrão de beleza. Decidi fazer para quebrar isso. Fazer por mim. E para que outras meninas vejam que podem também”, revela.
À época das fotos Patricia estava namorando, mas o parceiro não influenciou em nada a decisão. Na verdade, ele só ficou sabendo depois. “Ele perguntou por que eu não falei antes, mas, bom…fiz as fotos pra mim. Pela minha autoestima. E gostei”, conta. As imagens foram realizadas na casa de uma amiga de Patricia, no centro de Montenegro.
Eu me A-M-O
Parece constrangedor a algumas mulheres dizer claramente que consideram seu corpo bonito. Muitas, sequer veem a própria beleza ao olhar-se. E há aquelas que sequer encaram o espelho. Fazer um ensaio em homenagem ao próprio corpo é lutar contra isso.
“Acima de toda produção, a mulher deve se amar do jeito que é. Insegurança e autoestima baixa são ainda grandes problemas nas nossas vidas e isso precisa ser trabalhado”, diz Jhosy Garcia. Só de encarar um ensaio sensual já é sinal de que a mulher está amando o próprio corpo. “Sim, me considero uma mulher bonita.
Acredito que se não nos sentirmos bem com a gente, se não nos vermos bonitas, se não nos amarmos, ninguém mais pode ser capaz de ver isso, não de forma tão pura. Então me considero bonita à minha maneira, com minha total singularidade e sou vaidosa, bastante até”, conta Gabriela Dahmer.
Gordinha ou pluse size são termos que não incomodam Patricia Rigon Müller. Tudo porque hoje ela está de bem com o próprio corpo. Hoje. No passado foi diferente. Ela passou por um processo de desconstrução sobre o padrão de beleza e hoje consegue encarar com tranquilidade o seu corpo e ver-se linda. “Quando mais jovem ouvi muito ‘nossa você é tão bonita de rosto, porque não emagrece?’, como se fosse algo simples. Não é assim e eu não preciso emagrecer para ser bonita”, diz.
Patricia carrega no rosto uma cicatriz, fruto de um acidente ocorrido em 2002, quando um cachorro lhe mordeu a face. Nas fotos, a marca aparece. Por que ela não sente necessidade de lutar contra essa marca. Ela aceitou-se como é, mantendo a vaidade e o prazer em se arrumar, mas não deixando de sentir-se bonita por determinada característica.
Sem vergonha do próprio corpo
Seja por questões culturais ou padrões estéticos equivocados, grande parte das mulheres cresceu nutrindo vergonha do próprio corpo. Isso ocorre independente da altura, peso ou qualquer outra característica. Olham-se no espelho e não veem a própria beleza. A reação da sociedade às fotos é o que costuma barrar muitas mulheres. Mas Patricia, Jhosy e Gabriela souberam filtrar o que realmente interessava.
Gabriela conta que seu pai jamais fez comentário algum sobre as fotos, positivo ou negativo. Já a mãe adorou. E os amigos ofereceram apoio. “Sei que entendem, respeitam e admiram o trabalho”, resume. Nas redes sociais também surgiram comentários. A grande maioria elogios, pessoas falando da sua coragem por fazer as fotos e ainda por cima postar, sem vergonha alguma. Mas também vieram os maliciosos e outros julgando. “Dizendo que não me valorizo, que não tenho idade para tais coisas. Eu tento ignorar a maioria, mas quando respondo é para mostrar que não há motivo para me envergonhar, pelo contrário, é me respeitando e valorizando como sou que faço isso.”
A exposição de Patricia nas redes sociais foi mais moderada. É que trabalhando em escola e com adolescentes, foi necessário tomar alguns cuidados. Ela conta que o retorno vindo de família, amigos ou desconhecidos foi positivo. “A maioria pensa que fez pra marido, o que incomoda. Mas em geral reagiram bem”, diz. “Houve quem enviasse mensagem com assédio. E eu cortei”, complementa. Ela mostra orgulho das fotos e defende que o importante é como a mulher se vê e não a reação dos outros. “São fotos sensuais, não vulgares. E quando vi o resultado pensei: UAU! Ficou perfeito”, enfatiza.
Na hora dos cliques, descontração é fundamental. Jhosy conta que a fotógrafa, entusiasmada, a deixou totalmente à vontade pra escolher tudo. Figurinos, poses, local, até a playlist que tocou enquanto fotografava era escolha dela. “Me mostrava as fotos, elogiava, ria comigo. Tudo contribuiu pra experiência ser maravilhosa”, diz Jhosy.
Da família e amigos, só vieram reações simpáticas ao ensaio. Mas alguns comentários invasivos também chegaram. “Relevei devido à felicidade pela grande maioria, que percebe que nosso corpo é: arte. Nossas formas são arte. E não é pelas partes que estão mais ou menos à mostra que ele deve ser sexualizado”, destaca Jhosy, enfatizando que Adriana Schönell conseguiu captar exatamente isso, a beleza e a poesia que há no corpo.
Esse tal empoderamento
Ações de fortalecimento feminino e de valorização da autoestima têm tudo a ver com o empoderamento. É quando a mulher está mais fortalecida para enfrentas as dificuldades sem se deixar impactar por pequenas coisas. Patricia Müller garante que as fotos têm a ver com esse seu momento de liberdade e empoderamento. “Ninguém vai me dizer se é feio ou bonito. Eu me olho no espelho e me vejo bonita”, destaca, como que num grito de liberdade.
Não importam os quilinhos a mais, as estrias, varizes e muitas celulites, garantem as meninas. “Não se sintam reprimidas pela opinião da sociedade, é só uma opinião e ela diz mais sobre quem as dá do que sobre ti mesma”, diz Gabriela. “É sobre empoderamento. Amor próprio. Luz. Não importam os padrões estéticos. A beleza é a mulher se aceitar como é, se amar e se deixar ser amada sem medo”,complementa Jhosy.
Por trás das câmeras
O ensaio sensual não é um trabalho fotográfico como qualquer outro. Envolve confiança entre a mulher que está se despindo, das roupas, mas também dos próprios pudores e cobranças quanto ao seu corpo. Os fotógrafos que aceitam esse desafio garantem ser um trabalho especial. Ao menos três profissionais montenegrinos têm projetos de trabalho voltados a mostrar toda a beleza e a sensualidade feminina.
Douglas Costa conta que começou a desenvolver os ensaios sensuais a fim de encontrar uma fotografia mais pura e verdadeira. “Quando uma mulher expõe o seu lado mais escondido da sociedade é onde eu vejo a fotografia mais verdadeira entre o fotógrafo e a sua cliente”, diz. A confiança tem de existir desde o princípio, mas vai se fortalecendo conforme os cliques ocorrem. “Eu e as meninas nos conhecemos, dividimos inseguranças, rimos e, se precisar, choramos juntas. Os ensaios acontecem tão naturalmente que às vezes parece que estamos mais conversando do que fotografando”, diz Mayara Lima.
É uma grande responsabilidade ao fotógrafo, que lida com a, justa e onipresente, vontade feminina de estar bonita e confortável com o seu corpo. “Nesses ensaios íntimos, o mais importante é a pessoa se sentir, se ver, linda! É demonstrar a personalidade dela, os traços, a beleza como ela é! E nós fotógrafos temos esse poder, de não apenas conhecer diversos ângulos, mas trazer a tona a autoestima, o autoconhecimento. Fazer desse momento algo especial, que tenha significado. E conhecer a mulher que está ali”, coloca Adriana Schönell. Todo para eternizar em imagens o que a mulher é de verdade, real, sem subterfúgios que ofusquem a sua verdadeira beleza.