Quando a tecnologia vira brinquedo para as crianças

Jovens que nasceram após o ano de 1995 amadurecem mais lentamente, são menos propensos a dirigir e a trabalhar, chegam à universidade e ao mercado de trabalho com menos experiências, mais dependentes e com dificuldades de tomar decisões. Isso porque cresceram em um ambiente mais seguro e se expõem menos a situações de risco. É o que defende a escritora Twenge, em seu novo livro “iGen: Por que as crianças superconectadas estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos felizes – e completamente despreparadas para a vida adulta”.

É, de longe, um tema polêmico, já que a tese faz parte de observações que nem sempre são reais no ambiente que cerca muitas famílias. Logo, o conceito não pode ser tomado como verdade absoluta. Afinal, todas as regras possuem exceções. De qualquer forma, não há como negar que a superexposição à tecnologia envolve riscos.

Segundo o médico pediatra Sérgio Siebel, esse assunto é abordado como sendo dependente da cultura local, das influências familiares, das facilidades que a criança tem com relação ao acesso à internet e do tempo que os pais se dedicam e ela. “Torna-se um risco quando a criança prefere um telefone a um brinquedo. A utilização dos eletrônicos deve ser regrada com o mínimo de tempo ao dia, senão o interesse maior será, certamente, pelo aparelho. Eles são muito atrativos”, explica o profissional.

Qualquer criança que tem uma infância normal cresce na rua, jogando bola, brincando de boneca, montando barraca dentro de casa e fazendo festas do pijama. Se seu filho não tem esses hábitos, preocupe-se. “A tecnologia pode prejudicar no momento em que não se tem outras atividades. É necessário brincar, ler, visitar amigos”, reitera Siebel. “Quando somos pequenos, passamos por vários períodos importantes e é uma perda de infância ficar viciado nesses objetos”, reforça. Conforme o pediatra, o filho não terá problemas se os pais souberem identificar o exagero, regrar os horários e colocar senhas de bloqueio para a internet.

Pais devem acompanhar de perto

PSICÓLOGA Romilda Pereira ressalta a importânia dos pais filtrarem os conteúdos a que os filhos terão acesso na internet

Para a psicóloga Romilda Pereira, o ideal é que, até um ano e meio, as crianças não sejam expostas à tecnologia, pois é a fase onde devem ser mais estimuladas e ativas fisicamente. “Precisamos também reconhecer que hoje fica muito difícil não expor os pequenos a esses aparelhos, mas é interessante esperar que demonstrem curiosidade”, orienta.

Conforme Romilda, se os pais optarem por deixar seu filho brincar com os eletrônicos, é importante que monitorem o tempo. Para crianças com dois anos, são suficientes 15 ou 20 minutos, enquanto que maiores podem ficar no máximo duas horas em frente à tela. “Também cabe aos pais acompanhar o que o filho está fazendo na internet e filtrar os sites visitados”, salienta.

Uso regrado dos aparelhos evita problemas
Tablet é brinquedo? Pode ser, dependendo do uso. Quando Mariana Silveira comprou o equipamento, no fim do ano passado, e o entregou para seu filho de três anos, ela achou que estava realizando um sonho. Embora pequeno e ainda com dificuldades na pronúncia de palavras com mais de três sílabas, o garoto queria muito ter a sua própria “televisão”. A mãe, cautelosa, procurou por um modelo mais barato porque sabia que, nessa idade, as quedas são comuns e, se fosse danificado, o prejuízo seria menor.

“Meu filho via na TV crianças brincando com tablet e alguns amiguinhos dele também já tinham. Às vezes, ele voltava da escolinha falando dos joguinhos que eles brincavam e reclamava de não poder fazer o mesmo”, relata Mariana. Os apelos foram aumentando com a proximidade do Natal, no final de 2016. “Ele fez uma cartinha para o Papai Noel pedindo um tablet. Conversei com meu marido e decidimos dar”, recorda.

Antes de entregar o “brinquedo”, que custou em torno de R$ 300,00, Mariana e o pai do garoto falaram com a “profe”, que passou algumas orientações à família. Primeiro, que ele não tivesse acesso à internet e, segundo, que o uso fosse regrado, para que não abandonasse o contato com outras crianças. “A gente realmente fez o que ela pediu. Ele só usa o tablet para brincar com os joguinhos e não mais do que uma hora por dia”, detalha Mariana.

Curioso é que a “gana” pelo tablet durou apenas alguns dias. No início, o menino chorava na hora de largar o brinquedo eletrônico. “Agora, tem dias que ele nem pega”, comenta a mãe. Ela não se arrepende da compra e acredita que outros pais não precisam ter medo, desde que sigam as instruções que ela recebeu. “O maior problema está na internet, porque a gente não consegue controlar o que eles acessam. E não pode transformar o tablet na coisa mais importante do dia deles. Meu filho gasta muito mais tempo brincando com os amiguinhos do que jogando. Se a gente ensinar isso desde cedo, acho que não teremos problemas lá na frente”, aposta.

RISCOS PARA A SAÚDE
TEMPO DEMAIS
Um levantamento do site britânico Netmums.com mostrou que os pais raramente têm ideia de quanto tempo seus filhos passam navegando na internet. Os dados coletados mostram que 75% dos pais acreditam que suas crianças passam menos de uma hora por dia online, enquanto as próprias admitem ficar conectadas por aproximadamente duas horas diárias. Além disso, quase 66% das crianças mencionaram ter vivido uma experiência negativa na web, mas apenas 22% dos pais mostram ter percebido.

ATROFIA CEREBRAL
O uso excessivo da internet pode causar atrofia da matéria cinzenta do cérebro – e isso fica pior com o tempo. É o que indica uma pesquisa realizada por neurocientistas e radiologistas da China. Os resultados foram publicados na revista online PLos ONE e revelam que as consequências dessa perda de massa cinzenta podem ser bastante ruins. Ela é capaz de afetar a concentração e a memória na adolescência, assim como a habilidade para tomar decisões e definir objetivos. Não bastasse isso, muitas vezes leva a comportamentos inapropriados.

VIOLÊNCIA
Também é preciso levar em conta os perigos dos conteúdos inapropriados. Além disso, os jogos disponíveis têm se tornado cada vez mais violentos. Para que isso não aconteça, a dica é ajudar a escolher as opções de acesso de acordo com a faixa etária.

COMO LIMITAR O USO
FALE COM ELAS
É importante que elas tenham um bom entendimento sobre os riscos na internet. As crianças que entendem são menos propensas a tentar quebrar as regras. Além disso, discuta potenciais perigos de adultos com más intenções online.

ALTERNATIVAS
Incentive seus filhos a realizar outras atividades e desenvolver interesses fora dos jogos de videogame e mídias sociais.

PRIVILÉGIO
Ficar no computador deve ser um privilégio e não um direito. Depois de definir um limite de tempo que é permitido, não deixe que as crianças ganhem tempo extra como recompensa.

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