Dia especial. Mostramos que ser pai vai muito além de genética e que alguns homens se superam nessa missão
Segundo o dicionário Aurélio, pai é gerador, genitor, criador, autor, protetor e benfeitor. Na vida, vai além, pode ser a mãe, que solteira criou os filhos sozinha, padrasto ou avós. A definição é elástica e abraça todos que não se encaixam na questão biológica.
Ser pai é estar presente quando cai o primeiro dente de leite ou confortar a primeira decepção amorosa. É pegar boletins escolares, chamar a atenção para as notas baixas e enaltecer as melhores. Velar o sono impaciente da criança adoecida. Fazer pegadas de coelho na Páscoa, levar ao dentista e ensinar a escovar os dentes. Levar para se vacinar, mesmo que surjam lágrimas. E torcer para que tudo dê firmemente certo na vida de alguém.
E com duas histórias homenageamos a todos os pais. Nesse Dia dos Pais falamos sobre um vínculo que ultrapassa o biológico e alcança os sentimentos e, também, sobre aqueles que têm de assumir o papel de mãe na falta da figura feminina na vida do filho.
Pelo direito de adotar e ser o pai também perante a lei
No ano passado, a reportagem do Ibiá acompanhou a história da família de Miriam Carolina Zilles Rodrigues Branco. Seu marido William Lopes Branco, buscava registrar, com sobrenome passado no papel, o filho Zyon Zilles Branco, hoje com 10 anos.
Zyon foi criado desde os dois anos por William. Não tê-lo visto nascer e não carregar a mesma carga genética pouco (ou nada) importa perto dos laços afetivos que criaram.
Com a certeza da paternidade, em julho do ano passado o processo de adoção foi aberto. E em fevereiro, com tudo finalizado, Zyon finalmente recebeu o sobrenome Branco.
“Foi muito importante ter conseguido. Mais pelo motivo de reconhecimento da sociedade do que motivo emocional, porque pra mim ele sempre foi meu filho; nunca pensei ao contrário e nem admitia que falassem diferente” conta William.
À espera do segundo filho (Miriam descobriu a gravidez em março), o jovem destaca que a formalização é um passo importante. “Assim posso fazer coisas normais que um pai biológico tem direito. Coisas simples como buscar o meu filho na escola sem precisar da autorização da mãe. Sendo apenas padrasto, se ela não autoriza, não é possível sair com a criança”, explica.
William destaca que, de sentimento, sempre teve certeza da paternidade. “No meu coração eu sempre fui o pai, e agora sou no papel também. Fico muito feliz em saber que ele me enxerga assim. Ele é engraçado, sai com cada história e tem imaginação de sobra. Enxergo nele, nas coisas que ele faz, as artes que eu fazia também. Temos uma boa conexão”, salienta.
“Gosto muito da comida que ele faz”
Zyon também é só elogios quando se trata do pai. O pequeno relembra com carinho todos os cuidados que recebeu desde pequeno de William. “Ele é divertido comigo, gosta de mim e eu dele. Somos muito parecidos. Por exemplo, sempre que ele pega um brinquedo na mão, acaba quebrando. E faço a mesma coisa”, diverte-se.
E essa é apenas uma das semelhanças entre os dois, conforme destaca o pequeno. “Eu também adoro a comida que ele faz”, termina.
Em entrevista no ano passado, Miriam, emocionada, relatou que a juíza não teve dúvidas sobre conceder à guarda do filho, sob o consentimento da criança, também a William.
“No dia em que chegaram os papéis, fizemos a surpresa para o William. Brincamos que eu ia anunciar que estava grávida. Todo mundo achava que a surpresa seria essa, mas no fim não era nada do que esperavam”,conta.
Um mês depois, em março, Miriam descobriu que a família realmente aumentaria. “Descobri a gravidez. E naquela data realmente podia ter sido essa surpresa, porém ainda não sabia. Agora estamos esperando nosso segundo amor, que se chama Ygor e chega no fim de outubro. Vamos completar a família”, diz.
A história do pai se repete através do filho
A história da família de seu Alcides Gonçalves, de 70 anos, poderia inspirar um roteiro de cinema. O bombeiro aposentado ficou viúvo quando o filho tinha oito anos de idade, e precisou se virar sozinho para criar o menino. Até aí, tudo certo. Situações como essa são comuns, mas esta é só parte do enredo. Alcides viu sua história ter reprise quando o filho Vagner Rafael Agne, 34 , teve sua filha, Bruna Eduarda da Silva Agne, hoje com oito anos. A menina tinha cerca de seis meses quando Vagner se separou e teve de assumir a responsabilidade pela criança. “Por anos fui pai e mãe, agora sou pai, mãe e avô”, brinca o aposentado.
Alcides é pai de três filhos, Vagner, Deise e Felipe. O “pai e mãe” de família optou em morar com Vagner, mesmo com Deise residindo no mesmo terreno. Ambos e a pequena Bruna dividem o mesmo teto e as obrigações da casa onde moram no bairro Olaria, em Montenegro. O avô deixa claro que as lições aprendidas na vida militar ainda são usadas no convívio familiar. “Gosto de organização. A Bruna é muito interessada nas tarefas de casa, ajuda a lavar a louça e até faz bolo”, conta Alcides orgulhoso pelos valores que passou para a neta. “Sempre tentei passar pra eles que devemos ser corretos, batalhar por nós mesmos e não nos envolvermos em más companhias”, complementa.
Para Vagner, o pai é exemplo de inspiração na criação da filha. “Eu sempre quis ser pai. Quando fiquei sozinho com a Bruna, tive medo que mais tarde ela não entendesse porque não morava com a mãe, mas ela nem pergunta”, comenta Vagner. “Carinho e atenção sempre teve nessa casa. A gente faz de tudo para que a Bruna não sinta falta de uma presença feminina”, afirma o avô.
Bruna costuma visitar a mãe, moradora do município de Pareci Novo, mas não abre mão de retornar para o convívio com o pai e o avô. “Eles são legais. Gosto muito de passear com eles”, diz a menina. Tímida, ela não é de muita conversa, mas garante que já preparou uma surpresa para alegrar o Dia dos Pais dos dois homens da casa.