Partidos questionam postura do vereador após gravação e divulgação de reunião com o prefeito, sem autorização
A Câmara de Vereadores de Montenegro recebeu, no fim da manhã dessa quinta-feira, 25, um pedido de representação contra o vereador Paulo Azeredo (PDT) no Conselho de Ética. A denúncia é de autoria dos presidentes dos partidos PTB e MDB. Vlademir Gonzaga, presidente do PTB e secretário Geral do Governo Zanatta; e Waldir Kleber, presidente do MDB e secretário de Indústria, Comércio e Turismo pedem que seja apurada a conduta do parlamentar que divulgou, em plenário, gravação feita de reunião com o prefeito Gustavo Zanatta (também do PTB). O vídeo foi feito em maio, pela assessora de Azeredo, sem que Zanatta soubesse que estava sendo gravado.
“Os partidos entendem que foi ferida a ética parlamentar. No momento em que tu grava uma autoridade e divulga sem autorização, no entender dos partidos, é um crime”, comenta Gonzaga. “Nós entendemos que é direito dos partidos resguardar a integridade moral do prefeito. Ele foi atacado por uma inverdade e uma divulgação ilícita de gravação feita no gabinete.”
A denúncia chega, primeiro, ao presidente do Legislativo, vereador Juarez Vieira da Silva, do mesmo PTB. “Nós ainda vamos discutir com o jurídico, ver a legalidade da representação para, então, passar para o Conselho de Ética. Vai levar alguns dias para que essa análise aconteça”, explicou o parlamentar. Nesta fase, a representação poderá ser ou não aceita.
Na formatação atual, o Conselho de Ética é comandando por dois representantes dos partidos denunciantes: Felipe Kinn, do MDB, é presidente; e Ana Paula Machado, do PTB, a relatora. A comissão ainda conta com os vereadores Valdeci Castro (Republicanos), Sérgio Souza (PSB), Ari Müller (PP) e o próprio Paulo Azeredo que, sendo o denunciado, não participará do processo; se ele seguir para análise do grupo.
De acordo com o regimento, quando aceita a representação, é o relator que faz a apuração inicial dos fatos em até 45 dias. O acusado tem direito de acompanhar tudo e pode chamar advogado para sua defesa. É feito, então, um parecer para votação do conselho e, com o documento aprovado, ele vai à votação de todos os vereadores, em plenário. É onde é decidida a pena ou absolvição do investigado. Dependendo dos casos, as medidas disciplinares prevêem censura, perda temporária de mandato por até trinta dias e perda total de mandato.
O diálogo
Zanatta – “Tem gente que chega aqui pra mim e diz bem assim: O Paulo tá fazendo rodeio todos os domingos na chácara dele e tomando trago com os caras. Se tu quiser saber se é verdade ou não, tua vai lá e bota a fiscalização e a vigilância.”
Azeredo – “Pode ir lá que é mentira.”
Zanatta – “Falaram isso pra mim ontem. Disseram: tu quer, tu vai lá todos os domingos na chácara dele e vai ver que o Paulo tá fazendo rodeio e ele tá lá junto bebendo com os caras.”
Azeredo – “Quem te disse, mentiu.”
Zanatta – “Pois é, Paulo. É isso o que eu te digo.”
Azeredo – “É um baita mentiroso, um safado, um crápula quem te disse isso.”
Zanatta – “E eu não acredito nisso, porque o que mais existe no meio é fofoca.”
A descrição do áudio, obtido pelo Ibiá junto a assessoria do vereador Paulo Azeredo, mostra o que originou a situação. A conversa aconteceu em maio, no gabinete do prefeito, quando o vereador foi chamado para falar sobre uma situação que vinha acompanhando; a de máquinas da Prefeitura que estavam numa oficina em Pareci Novo para o orçamento de reparos. Com sua assessora, o parlamentar também apresentou sugestão de projeto de lei de cooperação técnica entre Montenegro e municípios do entorno. Ele e o prefeito acabaram, então, chegando ao assunto dos rodeios.
O parlamentar entende que a fala de Zanatta foi uma tentativa de intimidá-lo. É que semanas depois, o local em questão foi visitado pela Inspetoria Veterinária, um órgão estadual, e multada em R$ 63 mil. Estava realizando um evento clandestinamente e a multa saiu no nome de Paulo Azeredo.
Meses se passaram e, em 9 de novembro, o vereador estava envolvido em outra situação com o prefeito. Em inquérito sobre irregularidades em sua gestão à frente da Prefeitura, Azeredo tinha proposto um TAC ao Ministério Público para revitalizar o Baixio. Mas Zanatta, tendo avisado o MP, sem ter havido comunicação ao vereador, conduziu mutirão de revitalização do balneário. Inutilizou as tratativas do parlamentar e foi cobrado disso. Ambos discutiram na Câmara de Vereadores; e Paulo Azeredo trouxe à tona que teria sido hostilizado em relação aos rodeios. Zanatta negou.
“Ele disse uma coisa e me chamou de mentiroso, que era mentira minha. Eu apenas relatei a verdade”, disse o vereador ao Ibiá sobre a discussão ocorrida nesse mês. Ele conta que, até a ocasião, não sabia que sua assessora tinha a gravação da reunião de maio. Quando soube, decidiu trazer o conteúdo à público para mostrar a sua verdade. Foi o que fez na sessão ordinária do último dia 11.
Para Vlademir Gonzaga, um dos autores da representação ao Conselho de Ética, o fato de Zanatta ter dito, na reunião, que entendia que as denúncias eram “fofoca” mostraria que não houve nenhuma intimidação. “O prefeito fala que falam aquilo dele, mas que não acredita. Está bem nítido para qualquer pessoa ouvir”, analisa. “Eles invertem a narrativa e tentam colocar uma palavra que não foi dita.”
Contatado, o vereador Paulo Azeredo disse que ainda não quer comentar a representação até ter conhecimento de todo o teor da denúncia. A reportagem não conseguiu contato com a assessora do parlamentar, que gravou a reunião de maio. Sobre a cancha de rodeios, Azeredo explicou que a área pertence a um familiar seu e que o espaço está locado ao realizador do evento campeiro. O contrato de aluguel está em seu nome, por isso a referência na multa; que já foi transferida ao responsável. Não se sabe de que forma a denúncia sobre a atividade sem autorização chegou à Inspetoria Veterinária