No Faxinal, proprietários de cavalo exigiram re-teste para comprovar a saúde do animal
Uma propriedade no Faxinal, interior de Montenegro, passou os últimos seis meses interditada em função do teste de um cavalo ter dado positivo para mormo, doença infectocontagiosa que acomete equídeos. A interdição saiu em 12 de janeiro. Sem verificar sintomas no animal, os proprietários duvidaram do diagnóstico e não permitiram que o cavalo fosse abatido, exigindo um re-teste. Enquanto aguardavam os trâmites burocráticos, contrataram, eles mesmos, um exame particular. O resultado deu negativo para mormo ainda em março.
A desinterdição, porém, ainda demandava um teste oficial. Esse, eles só conseguiram que fosse liberado no início de junho, após recorrerem à intervenção do vereador Paulo Azeredo (PDT). O resultado saiu no dia 12 desse mês; também negativo para mormo. A propriedade foi, então, desinterditada na quarta-feira passada, 20, sem nunca ter tido nenhum caso da doença. Feliz por pouparem a vida do cavalo sadio, o casal de donos, agora, busca entender o que ocorreu para a propriedade ter ficado interditada, injustamente, por mais de meio ano.
“Os outros cavalos não podiam sair daqui da propriedade (eles têm três), nem podia chegar um outro amigo meu com o seu cavalo aqui. Nos impediu de irmos em rodeios, torneios, eventos e fomos instruídos, inclusive, a não manejar o cavalo que estaria doente”, conta Regiano da Silveira, o proprietário. “Não podia abraçar, tinha que isolar, só tratar e dar água.”
A esposa, Magali Jordana Koch, aponta outros prejuízos. “O nosso potranco era um cavalo que, na época, estava praticamente vendido. Nós estávamos negociando porque a ideia, desde quando a gente comprou ele e ele foi domado, era vender posteriormente. Mas, justamente quando a gente negociou, veio a interdição e não pudemos mais tirar ele”, relata. “Com a nossa égua foi a mesma coisa. A gente comprou ela no intuito de, com o tempo, botar ela em cobertura para que ela gerasse um novo potro; só que nós não podíamos trazer outro cavalo para cobertura, nem levar ela até outro cavalo. Isso sem contar que se nós tivéssemos aceitado matar o cavalo que deu positivo, ele é um cavalo de em torno de R$ 9 mil que seria enterrado no pátio de casa, injustamente.”
Proprietários foram vítimas da burocracia
O casal conta que o primeiro teste para o mormo, particular, tratava-se do exame de rotina que encaminham a cada seis meses para a emissão do GTA, documento necessário para a circulação com os cavalos. Ele foi feito por uma veterinária que já prestava o serviço há mais tempo. Os proprietários relatam que a coleta ocorreu em uma data em que eles não estavam na propriedade, já que a profissional já tinha conhecimento com o animal.
Quando receberam a notícia do teste positivo, em janeiro, os dois se recusaram de agendar o sacrifício do cavalo e solicitaram a contra-prova à Inspetoria Veterinária. Essa, foi feita em cima da mesma amostra protocolada pela veterinária, que já tinha dado positiva. “Era certo que eles iam chegar na mesma conclusão, sendo o mesmo material”, avalia Magali. Com a contra-prova também positiva para mormo, eles foram instruídos – como ainda contestavam o resultado – a procurar o Ministério da Agricultura, no âmbito federal, mediante o protocolo de uma carta que justificasse a solicitação do re-teste. “Nós colocamos que não tínhamos acompanhado a coleta do sangue do animal, que não havia sintoma nenhum; e que era um animal que a cada seis meses é testado e nunca apresentou nada. Ele não tinha secreção, não tinha ferida, nem perda de apetite. Estava normal”, conta a proprietária.
O tempo passou, sem retorno, e através de contato com a Inspetoria Veterinária, Magali obteve o contato de um setor, em Porto Alegre, que intermediava o encaminhamento com os responsáveis, em Brasília. Já era o fim de abril. “A pessoa que me atendeu me disse que a carta só precisava uma pessoa assinar para autorizar o re-teste. Eu perguntei quem era, mas ele disse que não podia me passar, mas que devia demorar poucos dias”, conta ela. Sem resultado, Magali buscou o gabinete do vereador Paulo Azeredo para pedir auxílio já em maio. Com a intervenção do parlamentar, conseguiu o nome de quem faltava assinar a autorização. Daqui, conseguiram contato com o deputado federal Heitor Schuch (PSB), que contatou o setor e, 48 horas depois, estava autorizado que a inspetoria local fizesse o re-teste. Ainda demorou bem mais do que o tempo usual dos testes particulares até que, em 12 de julho, viesse o resultado negativo.
“Foi um processo muito extenso. Não precisava demorar 40, 50 dias para conseguir a assinatura de um papel” lamenta Magali. “Teve muita burocracia e, ainda, só se agilizou porque a gente teve políticos intercedendo, que mexeram, falaram com as pessoas que precisava e fizeram ser assinado”, complementa. Hoje, mesmo com o exame oficial e o contratado particularmente em meio ao processo, atestando a saúde do animal, o casal relata que precisa contratar novo exame semestral para que possa ser emitida a GTA de circulação com o cavalo. “Nos passaram que esses exames têm valor apenas para o processo de interdição; e que para emitir uma nova GTA tem que emitir um novo exame, mesmo com o Ministério sabendo que ele não está doente”, denuncia Magali. O exame custa cerca de R$ 200,00.
Nova análise vai apurar se houve troca do exame
Em nota enviada à imprensa, a direção do Programa Estadual de Sanidade Equina da secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Estado garantiu que há total confiabilidade nos exames indicados para o diagnóstico de mormo em todo o território nacional e em outros países. O órgão apontou que as amostras – a do primeiro teste e a do re-teste, feitas diretamente pelos profissionais da Inspetoria Veterinária – foram encaminhadas para um exame de perfil genético que busca confirmar se ambas se tratam do mesmo animal. A investigação vai apontar se houve troca da amostra que acabou testando positivo para mormo. Magali e Regiano aguardam o resultado da investigação e pretendem buscar a responsabilização dos causadores do transtorno. “Mas antes de entrar com qualquer ação, nós precisamos saber quem foi o responsável. Porque lá no laboratório, eles também podem ter analisado a amostra, ter dado negativo, mas na hora de emitir, alguém ter clicado em positivo”, avalia Magali.