Defesa pessoal. Seminário da Nitro Team ensina a como agir para se livrar de um agressor
Feminicídios em número crescente no Brasil. Agressões. Assaltos. Estupros. A violência no País assusta a todos, mas, nas mulheres, é capaz de causar pânico. Sem a força masculina, por vezes é necessário apenas torcer para não precisar de defesa ou que o pior não ocorra. É possível, porém, livrar-se de um agressor mesmo que este seja maior ou tenha mais força. É o que garante o lutador e professor de artes marciais Gustavo Kuhn, da academia Nitro Team, que ofereceu no último final de semana um seminário de defesa pessoal para mulheres.
Com 30 anos de experiência e sendo faixa preta em três modalidades – Jiu jitsu, Taekwondo e Muay thai – além de treinar muitas outras, ao assistir seminários de defesa pessoal feminina, Gustavo observou que eram passadas técnicas muito complexas para serem absorvidas pelas alunas em apenas duas horas. “Então eu resolvi montar o meu seminário e é um sucesso. Em duas horas, nenhuma mulher vai sair daqui lutando, esse não é o objetivo. São mulheres, de todas as idades, que nunca lutaram. Tem que ser simples e objetivo”, detalha Gustavo.
Ele então selecionou técnicas básicas do Jiu jitsu, da arte marcial coreana Hapkido, da israelita Krav magá e um pouco de Muay thai. Em turmas que ficam com aproximadamente 15 pessoas, no máximo, ele consegue passar segurança para cada aluna. “Não adianta tu ter 30 alunas e elas não receberem a atenção que precisam. É realmente com vaga limitada. Muita gente fica bonito na foto, mas o aproveitamento das alunas fica baixo”.
A também lutadora e esposa de Gustavo Kuhn, Kellen Mattos, participou do seminário e destacou que é uma aula importante pela violência atual. “Se a gente não tiver uma forma de se resguardar fica muito complicado. Claro que a gente não pensa em entrar em um combate com homem, a gente não tem força pra isso. Mas se soubermos alguns golpes para nos desvencilharmos, podemos correr, fugir. Isso te dá a possibilidade de se salvar”, relata.
“Durante o seminário meninas expõem ao professor que procuraram a atividade porque passaram por uma situação de violência e não sabiam como agir”, completa.
No início da aula, porém, Gustavo destaca que as técnicas mostradas não se referem a ataques com armas de fogo. “É possível, com treinamento, você desarmar o agressor, mas isso não é para duas horas de aula. Então, em caso de se deparar com uma arma, não tentem reagir”, orientou Gustavo, lembrando também que em geral os assaltantes não usam arma contra uma mulher porque, de forma covarde, crêem que podem dominá-la sem isso. “Mas você pode surpreender ele. Porque o cara que agride uma mulher não espera que ela saiba se desvencilhar ou revidar com um golpe”, destacou.
Sentindo na pele
Para realizar esta reportagem, fiz parte da aula. Como qualquer mulher que já passou por uma situação de assalto ou outra em que se sentiu acuada e, por medo, suportou calada, a sensação de aprender a se desvencilhar de um homem inconveniente ou golpear um agressor é maravilhosa. É ter autonomia. É sentir-se independente. É não depender de um “super-heroi” para fazer-se respeitada. É ser a própria heroína.
Sabe aquele aperto no braço que parece impossível de soltar. Solta, com a técnica certa. Puxada de cabelo? Também. E o pavor que qualquer mulher sente só de se imaginar prensada contra a parede por um homem com as mãos no seu pescoço? O que tentar isso com uma das alunas do seminário não sairá em boas condições.
A aula corre em tom divertido e surgem dúvidas que perpassam a mente de qualquer mulher. “E se eu tentar isso, consigo me soltar?”, “E se ele me puxar desse jeito, o que faço?”. Perguntas vão surgindo e sendo respondidas de forma leve e com demonstrações. Obviamente, ninguém saiu dali uma lutadora. Mas, sem dúvida, todas saíram mais fortes para enfrentar os riscos que, infelizmente, estão pelas nossas ruas.