Ideia é dar chance a mulheres da região de recomeçar a vida após agressões
O Dia Internacional da Mulher virou uma data de celebração do sexo feminino, mas sua origem é de lutas e quebra de preconceitos. Retomando essa ideia, a Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), em parceria com o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Condim) e o Retiro Comunitário de Reabilitação Ocupacional (Recreo), apresentou ontem para membros da Administração Municipal, Conselho Tutelar, Polícia Civil, Brigada Militar e da sociedade civil o projeto de uma casa abrigo regional para mulheres vítimas de violência doméstica.
Segundo a titular da Deam, delegada Cleusa Tânia de Oliveira Spinato, a ideia de criar uma casa de passagem surgiu de uma necessidade. “É meio frustrante. Tu faz a tua parte, mas e aí? Tu estás vendo que a pessoa vai desistir porque ela não tem como levar aquilo adiante”, lamenta. Ela observa que Montenegro possui uma boa rede de proteção, mas isso às vezes não é suficiente. “Temos que lutar para criar da melhor forma possível um espaço para a mulher ter a possibilidade de escolha que hoje não tem”, salientou.
Cleusa reforça que a casa de passagem não é apenas um lugar para se colocar a mulher e seus filhos, quando for o caso, vítimas de violência doméstica. “A gente pensa numa coisa maior, numa estrutura que permita que ela tenha atendimento psicológico, que ela tenha assessoramento da assistência social para encaminhamento de documentos e para a reinserção, ou inserção, no mercado de trabalho”, destacou a delegada.
Organizadora do projeto, a titular da Deam revela que o possível endereço da casa de passagem – que receberia o nome de Casa Abrigo Filhas de Maria – já foi escolhido. O espaço tem acomodações, leitos, sanitários, refeitório, lavanderia, escritório, veículo, sala de lazer, sala de jantar, sala de atendimento para equipe técnica, quadra de futebol e uma área para cultivo de hortaliças numa propriedade de 30.629 m². A ideia é que a casa seja gerenciada pelo Recreo e conte com uma coordenadora, três cuidadoras, uma cozinheira, uma assistente social e um profissional da área da Psicologia. A localização da residência não será revelada para garantir a segurança das mulheres lá abrigadas.
Conforme Cleusa, o projeto, que está em fase de conclusão, é inspirado numa casa de passagem existente em Lajeado e que, com a parceria de prefeituras, atende as mulheres da região. O próximo passo do projeto encabeçado pela Deam, Recreo e Condim é apresentar a ideia – com valores – aos 19 municípios atendidos pela Delegacia de Polícia Especializada e captar parceiros.
A presidente do Condim, Carliane Pinheiro, a Kaká, reforçou as palavras da delegada e destacou que uma casa de passagem é urgente. “Precisamos dessa casa de passagem. Não só nós, a região inteira”, defendeu. Ela, que trabalha com o coletivo Maria Maria, relatou que muitas vezes as mulheres vítimas de violência não possuem coragem de fazer o registro. Inclusive, Kaká relatou já ter acompanhado mulheres nessa hora para dar apoio.
“Estamos cansadas. Quando se tem uma rede fortalecida, é mais fácil”, afirmou.