Desde o início do ano letivo de 2023, a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) São Paulo, em Montenegro, vem desenvolvendo o projeto intitulado “Os Cantos da Mata”. A iniciativa tem como objetivo conectar os alunos à natureza e ao aprendizado por meio da identificação dos pássaros por seus cantos. O local escolhido para as atividades práticas é a trilha ecológica adjacente à escola, ambiente propício para observações e explorações.
O projeto adota uma abordagem temática que envolve a mata e seus habitantes. A cada ano, um tópico específico é escolhido para ser explorado nas atividades com as turmas do educandário. Em 2022, o foco envolveu questões gerais relacionadas à mata e à Área de Preservação Permanente (APP). Já neste ano, os alunos concentram-se na identificação dos pássaros e na compreensão de seus comportamentos.
A supervisora escolar Márcia Farias destaca que muitos projetos científicos já foram desenvolvidos com base nas pesquisas realizadas pelos alunos e professoras sobre os pássaros. Um dos projetos, com a temática Ninhos, integrou a Feira Municipal de Iniciação Científica (FEMIC) de 2023, abordando a construção e características dos ninhos de diferentes espécies de aves.
De forma prática, o projeto “Os Cantos da Mata” promove a observação dos pássaros, ouvindo seus cantos ao adentrar a trilha. A ação não apenas proporciona uma conexão mais profunda com a natureza, como também integra tecnologia ao processo educacional. Em sala de aula, as turmas assistem vídeos e documentários para aprimorar seu entendimento sobre a natureza. O uso de Smart TVs auxilia na pesquisa e identificação de pássaros e plantas.
Com a Primavera se aproximando, os alunos aguardam ansiosos para explorarem ainda mais a trilha ecológica, usando-a como fonte viva de pesquisa, para enriquecer suas experiências educacionais. “O objetivo desse projeto é promover a percepção de que, mesmo no meio urbano, podemos ter a presença dos pássaros, e temos que aprender a respeitar o espaço deles. Aqui em Montenegro temos esse presente”, diz a educadora.
O desafio de manter silêncio para ouvir os sons
O maior desafio das turmas não é descobrir a espécie dos pássaros por meio dos sons produzidos por eles, nem identificar os tipos de vegetação presentes no local de estudos. A grande dificuldade é entrar na trilha sem fazer barulho. Entusiasmados com a saída de campo, muitas vezes os estudantes espantam as aves que voam para longe ao notar a energia que ecoa através das vozes da garotada. “É difícil observar os pássaros. É preciso que haja silêncio, discrição”, diz Márcia Farias.
Mas como bons brasileiros que são, os pequenos não desistem facilmente de seus propósitos, e em geral alcançam resultados satisfatórios. “Eles identificaram o Sabiá Laranjeira, os sons de grilos e da cigarra e descobriram que mesmo sendo pequenos, estes produzem um som muito alto”, relata a professora Cinara Moreno. “Também observamos as minhocas e os biomas que existem no local”, acrescenta.
Outra questão abordada é a do lixo. Ao observar os pássaros, as crianças perceberam que havia muito material descartado no local. Conforme as educadoras, os estudantes resolveram gravar e publicar vídeos nas redes sociais para conscientizar a comunidade sobre as consequências do descarte inadequado.
A descoberta de outros cantos
A turma da professora Clarice Chiesa da Rosa observou que o canto da cigarra se destacava em meio aos demais sons na APP. A docente fomentou as pesquisas sobre o inseto e, para sua surpresa, descobriu que um dos alunos guardava carapaças do inseto, coletadas na propriedade rural de seus avós.
Segundo a educadora, a curiosidade dos estudantes em relação ao Meio Ambiente vem crescendo e faz com que passem a gostar cada vez mais dos estudos. Ela destaca que a abordagem investigativa desperta o desejo de conhecimento, e muitos alunos revelam que Ciências é a sua matéria preferida, pois eles têm a oportunidade de vivenciar as experiências práticas, o que atrai ainda mais sua atenção.
Alunos satisfeitos com o aprendizado
A importância do trabalho de educação ambiental desenvolvido pelas escolas tem se destacado como ferramenta na conscientização das novas gerações sobre a preservação do meio ambiente. Com abordagens diversificadas e práticas que conectam os estudantes com a natureza, tais iniciativas têm gerado resultados positivos e despertado um olhar mais atento para o ecossistema.
Segundo Leonardo Konrath, aluno do 4º ano, essa abordagem proporcionou uma nova perspectiva. “Aprendi vários sons de animais, do vento, das árvores balançando. Antes de estudar sobre este tema nunca tinha prestado a atenção nesses sons. Achei muito legal vir para a mata escutar esses sons e aprender tudo isso”, compartilha o estudante.
Valentina de Souza, também do 4º ano, ficou surpresa ao descobrir detalhes sobre o comportamento dos pássaros. “Fiquei surpresa ao saber que o Bem-te-vi gosta de viver em áreas urbanas. Ele mede 25 cm e pesa cerca de 32 gramas”, comenta a menina, evidenciando como a educação ambiental pode revelar aspectos surpreendentes da biodiversidade.
Para Rafaela Mello de Matos, de 10 anos, as ações promovidas pela escola têm impacto positivo na forma como os estudantes encaram a natureza. “Achei muito legal, passamos a gostar mais da natureza”, resume Rafaela, refletindo o sentimento coletivo de sua turma em relação ao projeto.