Semana municipal foi organizada pela Prefeitura em parceria com o músico Mc Pedrão
Uma tarde música e apresentações fechou, nesse domingo, 21 de novembro, a Semana do Hip-hop de Montenegro. Depois de, na sexta-feira, terem conduzido shows na Praça Rui Barbosa e, no sábado, na praça do bairro Senai; no domingo foi a vez de a Estação da Cultura receber os artistas locais ligados ao gênero. Eles se apresentaram, ao ar livre, durante toda a tarde. Levaram, assim, uma das mais fortes manifestações culturais da periferia aos principais espaços de lazer montenegrinos. É uma iniciativa que, segundo os organizadores, visa quebrar barreiras.
“Aqui (na Estação) as pessoas estão conhecendo, estão vendo qual que é a nossa temática”, avalia o músico MC Pedrão. “O rap e o hip-hop são luta contra um sistema que não funciona, que excluí e que dá invisibilidade. Nós lutamos contra o preconceito, o racismo, a homofobia. Sempre onde tiver o opressor e o oprimido, o rap e o hip-hop vão estar vivos. Essa é a nossa luta diária e é com eles que a gente consegue transformar.”
Evidenciar esse poder transformador, justamente, foi o grande objetivo da semana. Na programação, houve bate-papo com autoridades sobre como a arte transforma vidas. Também foram feitas ações nas escolas Cinco de Maio, José Pedro Steigleder, Ana Beatriz Lemos e Aurélio Porto. Quase 300 crianças e adolescentes participaram de rodas de conversa que, muito além de apresentar a história e o gênero musical, também falou de temas como amadurecimento, sonhos e escolhas; dos quais várias letras do hip-hop trata,. Houve destaque, ainda, para outras manifestações, como a dança e o grafite.
“Para nós, essa semana veio pra quebrar vários paradigmas. É um momento histórico para o nosso movimento”, comemora MC Pedrão. Natural de São Leopoldo, mas em Montenegro há mais de vinte anos, o artista liderou uma luta por visibilidade que, até então, era pouco efetiva. Exemplo disso é que, no calendário oficial do Município desde 2011, a Semana do Hip-hop de Montenegro só recebeu verbas municipais para realização, pela primeira vez, nessa edição. O investimento foi de R$ 10 mil. “Até aqui, nós não tínhamos tido a oportunidade de mostrar tudo aquilo que a gente sonha de fazer de bom pra nossa comunidade”, adiciona.
A voz da periferia
“A gente que é da periferia, que é pobre, que é preto, quando nasce, já tem em si um pouco do rap e do hip-hop”, comenta o montenegrino Julio Cesar Souza Pereira, o JC. Dos Trilhos, no bairro Centenário, ele percebeu, desde cedo, o papel transformador do qual tanto se falou durante a Semana do Hip-hop. “Na periferia, a gente sofre preconceito, a gente vê desigualdade. A gente convive com tudo aquilo e começa a pensar em como pode contribuir para não ver outras molecadas passando as mesmas coisas. É no rap, que a gente encontra essa vertente de poder dizer o que a gente sente, de poder expressar os nossos sentimentos e falar da nossa realidade. É falar sobre não ir pro crime, não ir pras drogas, que existem outros caminhos.”
A motivação forte fez JC se juntar a um vizinho, o Eder Chaves Appel, hoje conhecido como Dwedy, para se dedicar à arte. Isso já faz onze anos. Foi quando eles criaram o “Guerreiros da Perifa”, hoje uma referência no hip-hop montenegrino para as gerações mais jovens que estão chegando. “Nós temos dois CD’s gravados e estamos trabalhando no nosso terceiro” , destaca Julio Cesar. Com essa mais de uma década de estrada, ele costuma fazer shows na Região Metropolitana de Porto Alegre, onde acaba encontrando mais visibilidade do que em Montenegro. “Daqui, a gurizada que acompanha conhece o corre, mas o resto da cidade acaba não conhecendo porque não tinha acesso. Agora, trazendo para a praça, para a Estação, isso está acontecendo”, analisa. Com a participação de artistas locais, JC e Dwedy vão lançar um clipe no próximo fim de semana.