LIÇÃO de amizade foi a mais marcante para as ex-alunas da Escola Dona Clara Camarão
O prédio ainda era em madeira. Eram apenas duas salas de aula. Na falta de uma professora, a outra se “dividia” para atender ambas as turmas. Os cadernos eram carregados em sacos de açúcar. Na vida particular, as coisas não eram fáceis, mas na escola, elas encontravam alegria e esperança em dias melhores. Essas são algumas das várias lembranças das ex-alunas da professora aposentada Celisa Alf Martins, de 67 anos. A turma estudou na Escola Municipal de Ensino Fundamental Dona Clara Camarão, na localidade de Alfama, em Montenegro, há mais de quatro décadas.
O tempo passou, mas as boas lembranças daquela época se mantiveram vivas na memória de Lenira Weschenfelder, 55, e de Maria Rosa Lopes, 56. A amizade que teve início entre elas na escola dura até hoje, e rever as pessoas que marcaram aquela fase sempre foi desejo comum. Quando elas menos esperavam, em janeiro deste ano, surgiu a oportunidade com a qual tanto sonharam.
Apesar de toda a tecnologia e as redes sociais, que facilitam encontrar pessoas, foi através de um programa de Rádio que Lenira conseguiu contato com Celisa. “Quando falaram o nome dela e do marido, na hora soube que era nossa professora. Liguei para a emissora e pedi o número dela, o pessoal pediu autorização e me passou”, conta Lenira.
O fato ocorreu no começo de janeiro. A partir Dalí, falar com a ex-professora por telefone deixou de ser suficiente. Lenira e Maria Rosa organizaram um encontro para rever e matar a saudade da educadora e de outras ex-colegas. O grupo formado para recepcionar a professora, no Café da Casa do Produtor Rural, na última quarta-feira, dia 21, foi formado por quatro ex-alunas. “Muitas não moram mais na cidade, outras estão viajando, de férias”, justifica Maria Rosa. O número de participantes pode ter sido pequeno, mas a emoção em reencontrar Celisa foi grade.
“Estou muito feliz e emocionada”, afirma Maria Rosa com o olhar marejado. “Não tem explicação. Adoro essa professora, nunca a esqueci”, acrescenta Lenira.
“Só tenho boas lembranças”
“Minha vida foi muito difícil. Tinha nove anos quando perdi meu pai, minha irmã tinha quatro anos e meu irmão seis meses. O vô nos pegou para criar e fomos morar na Alfama. Mas em relação à Escola, só tenho boas lembranças”, diz Maria Rosa Lopes .
Lenita Brochier Kraemer, 56, guarda na memória o retorno para casa, após as aulas. “Íamos juntas para casa, conversando e brincando”, recorda-se. “Mas, o que mais me marcou foi nossa participação em um desfile de Sete de Setembro. Fomos a escola do interior mais aplaudida. Depois disso, fomos comer cachorro quente na casa da professora”, detalha.
O quarteto de ex-alunas e a professora também recordam quando Celisa levava a filha, ainda bebê, para a escola e a colocava sobre a mesa enquanto dava suas aulas. “Pena que nunca tirei fotos, teríamos muitas lembranças registradas”, lamenta Celisa.
A união entre colegas e professores ia além das relações interpessoais. O cuidado com a escola também era dever a ser executado pelo coletivo. Muitas vezes, as “obrigações” da escola eram colocadas como prioridades. “Lembro que um ano, em março, decidimos pintar a escola por dentro. Eu saí de lá, tomei banho correndo, e fui de cabelo molhado para o casamento do meu irmão. Só coloquei o vestido e fui. Adorava trabalhar lá”, confessa a professora.
“Sargentona”, não!
Celisa lecionou por 27 anos. Foi na Escola Dona Clara Camarão que encerrou a carreira na rede municipal de ensino, o que torna o local ainda mais importante para ela.
A disciplina foi característica marcante em sua atividade profissional, mas o carinho e a atenção aos alunos também estiveram presentes. “A minha família brinca ao dizer que eu era uma ‘sargentona’, mas eu não era”, faz questão de esclarecer a educadora. “Conversando com minha irmã sobre o encontro, ela disse que isso é sinal de que meus alunos gostavam muito de mim. É um reconhecimento pelo meu trabalho. Fiquei tão contente! Saí contando para todos da família”, compartilha Celisa.
Exemplo que marcou
Assim como Celisa, a quarta integrante do encontro de ex-alunas, Glades Helena Lauermann, 54, seguiu carreira na área da Educação. Glades é professora e dá aulas no município de Brochier, cidade onde reside. “No começo, trabalhei em outras áreas. Mas, ser professora era meu sonho. Hoje estou realizada .”
Glades conta que em comum com Celisa também tem a forma como trata os alunos. “Dou aula para educação infantil, recebo muito retorno positivo dos pais. Gosto de acolher aqueles alunos que precisam de um colo, de um carinho”, diz. Mesmo assim, ela ouve seus familiares a chamarem de “sargentona”, mas garante que não é.