Cidade contabiliza 10 casos. Destes, seis já estão recuperados
Maratá confirmou seu primeiro caso de paciente com o novo coronavírus em 22 de abril. Mais três casos se somavam ao primeiro ao serem confirmados em 27 e 30 de abril e 1º de maio. Foi só mais de 30 dias depois, em 4 de junho, que o Município registrou seu quinto caso. O sexto caso foi confirmado no dia 11 deste mês. Em 19 de junho foi confirmado outro caso. Nos dias 24, 25 e 26 também houve a confirmação de casos, com o Município totalizando, agora, 10 pessoas com Covid-19. Seis dos pacientes são dados como recuperados.
Para buscar conter o avanço do vírus, como em outros Municípios da região, diversas ações foram tomadas para frear a transmissão do vírus propagador da Covid-19. Ainda em março, o prefeito Fernando Schrammel assinou o primeiro decreto de calamidade pública, que suspendia as aulas da rede municipal de ensino e eventos.
Com o avançar da pandemia, e o melhor entendimento da realidade local, novos decretos foram feitos. Especificamente na área da saúde, em 2 de abril, foi criada no Centro de Saúde uma ala especial para atendimento e triagem de pessoas com sintomas gripais.
É neste espaço que o médico guatemalteco Walter Herrera Rivera, que chegou a Maratá em abril por meio do programa Mais Médicos, trabalha alguns dias da semana num revezamento feito com outros médicos e demais profissionais da área da Saúde do Município. O médico revela que foi surpreendido positivamente pela organização que encontrou. “Me impressionou muito como haviam feito todo um trabalho de prevenção e de conscientização”, afirma.
Walter vê como fundamental no combate à Covid-19 em Maratá o fato de que pacientes que apresentam sintomas respiratórios, ainda que leves, são submetidos a testes para detectar a doença.
“É uma coisa que o protocolo inicialmente determinava ser para casos graves. Nesse sentido, acho que foi algo importante para saber a magnitude da doença em Maratá”, aponta. Além disso, o médico observa que a comunidade marataense assimilou os cuidados necessários para conter a propagação do novo coronavírus.
“O trabalho que fez toda a equipe da Vigilância em Saúde e todos os profissionais, em geral, teve seu impacto na população”, destaca Walter. Parte disso foi a distribuição de máscaras de proteção aos marataenses iniciada em 24 de abril.
Integrante do grupo de trabalho criado para definir ações de combate ao novo coronavírus em Maratá, a enfermeira Ilária Cristiane Dipp diz que, infelizmente, ainda há algumas pessoas que não seguem as orientações. No entanto, ela ressalta que nesses casos o Centro de Saúde vem sendo informado pela própria população. “A comunidade é vigilância (em Saúde)”, resume.
O médico Walter salienta a importância do trabalho educativo e a conscientização da população nesse processo, inclusive dos pacientes confirmados ou com suspeitas. São hábitos simples – como o uso de máscaras, evitar sair de casa sem propósito e limpar as mãos com álcool gel ou sabão e água quando sair ou chegar em algum lugar – que acabaram incorporados pela comunidade marataense.
Ilária Cristiane Dipp ilustra isso ao contar que, quando se agachou ao lado de uma paciente que havia lhe chamado, uma criança a alertou sobre a necessidade de distanciamento. Ela apontou para uma folha em branco colocada num banco de espera que sinalizava para que ninguém se sentasse, deixando um espaço vazio entre um e outro.
Seguindo sua realidade, equipe criou protocolo próprio
Para enfrentar a pandemia, o ministério da Saúde e a secretaria estadual da Saúde emitiram diversos protocolos sobre como as equipes da área deveriam atuar no enfrentamento ao coronavírus. Para melhor atender a comunidade, a equipe da secretaria municipal de Saúde de Maratá acabou criando seu próprio protocolo. Segundo Ilária, o grupo criado para discutir o vírus e ações relacionadas à pandemia se reúne semanalmente, às vezes, até mais de uma vez por semana.
“São situações novas e é como se a gente engatinhasse ainda, então, às vezes, tem uma situação que não é comum no nosso dia a dia e discutimos com o grupo na hora”, conta a enfermeira. A experiência caso a caso foi moldando a forma com a qual a equipe trabalha hoje.
Um exemplo prático disso foi a forma de monitoria dos pacientes confirmados, com suspeita de Covid-19 ou com síndrome gripal. Num primeiro momento, esse acompanhamento era feito pela enfermeira Ilária. Agora, é a auxiliar de saúde bucal Mônica Francine Vargas de Souza quem assumiu a função. “A gente foi aprendendo com nós mesmos a fazer o monitoramento. O Estado diz uma coisa e a União diz outra, então a gente vai adaptando à nossa realidade”, explica Ilária.
Se no início o monitoramento tratava-se mais de uma combinação com o paciente para ele ligar para o posto de saúde ou diretamente para a enfermeira caso tivesse piora, agora a situação se inverteu com Mônica realizando ligações a pacientes com síndrome gripal que não foram testados, a pacientes aguardando resultado e pacientes confirmados.
“Mesmo vindo o resultado (do teste) negativo, se (o paciente) continuar com algum sintoma a gente continua mais alguns dias com o monitoramento”, destaca. Mônica explica que as ligações são feitas uma vez por dia, mas se não houver melhora no quadro ou novos sintomas aparecerem o contato é mais frequente.
População se adapta às regras
Para prevenir e conter o contágio do novo coronavírus, a adaptação da população às orientações dos órgãos de saúde é fundamental. Em Maratá, o recado foi ouvido por grande parte da comunidade. “As orientações do posto de saúde são fundamentais”, aponta Márcio André Grings, 38 anos, morador do Centro. Com um problema crônico nas pernas, ele busca o Centro de Saúde com frequência para fazer curativos. Os cuidados tomados pelos profissionais de saúde do Município no atendimento também dão tranquilidade ao aposentado por invalidez em buscar os serviços por eles prestados.
Morador de São Pedro do Maratá, Mindo Von Mühlen, 86 anos, sabe que tem que respeitar as regras de distanciamento social, usar a máscara e manter outros hábitos recomendados pelos órgãos de saúde e diz não ter tido problemas em se adaptar por morar no interior. “Moro na ‘colônia’, quase no meio do mato”, brinca. Dizendo nunca ter vivido situação semelhante, o aposentado diz que quando recebe visita dos filhos eles usam máscara e tomam todas as precauções necessárias para evitar uma possível exposição ao vírus.
Profissionais da saúde no combate a um novo vírus
Apesar de já terem contemplado a possibilidade de um dia estarem na linha de frente de uma grave crise sanitária, Ilária e Mônica dizem nunca terem imaginado que o combate seria contra um novo vírus. A enfermeira diz que já havia pensado que enfrentar uma pandemia era algo possível no seu ramo, mas imaginava que a luta seria contra doenças conhecidas como, por exemplo, o ebola. “Acho que todo mundo tem essa ideia do caos dentro de si, mas não imaginei que seria assim”, comenta Ilária.
Iniciando sua vida profissional na área da saúde, a auxiliar de saúde bucal também imaginou que encarar uma pandemia era uma possibilidade. No entanto, assim como Ilária, não esperava estar na linha de frente na luta contra uma doença inédita. Na ideia de Mônica, o combate dela se daria contra doenças que podem retornar com força, como o sarampo.