Prejuízo: “Essa safra já foi perdida e a próxima está bem comprometida”

Agricultores enfrentam desafios e incertezas após enchentes

As enchentes de maio em Montenegro deixaram um rastro de destruição no setor Rural, afetando profundamente a economia local e a vida de muitas famílias. De acordo com o Laudo Circunstanciado com Estimativas de Perdas produzido pela Emater-RS, os prejuízos totais em Montenegro, somando agricultura e pecuária, alcançaram R$ 96.501.260,00. A agricultura foi a mais afetada, com perdas estimadas em R$ 92.813.760,00.

A cultura da bergamota Montenegrina sofreu o maior impacto, com prejuízo financeiro estimado em R$ 60,3 milhões, afetando uma área de 2.150 hectares. A enchente causou a queda de folhas e frutos das bergamoteiras, comprometendo não apenas a safra atual, mas também a próxima, uma vez que as plantas precisarão de um esforço significativo para se recuperar.

Comunidades como Porto dos Pereira, Campo do Meio e Santos Reis foram as mais atingidas, com muitos pomares de citros ficando submersos.

Everaldo Vinício da Silva, chefe do escritório da Emater em Montenegro, explica que os pomares totalmente submersos enfrentam um futuro incerto. “Essa safra já foi perdida e a próxima está bem comprometida”, pontua.

No Porto dos Pereira, pomares ficaram submersos pela água do Rio Caí

No setor da pecuária, as pastagens foram as mais prejudicadas, com perdas de R$ 2,7 milhões em uma área de 3 mil hectares. O prejuízo total na pecuária foi de R$ 3.687.500,00. As comunidades próximas ao Rio Caí, como Potreiro Grande, Pesqueiro e Volta do Anacleto, viram suas áreas de criação de gado de corte e leite devastadas. Conforme Everaldo, embora a recuperação do gado de corte seja mais rápida, com a possibilidade de venda antecipada de rebanhos para mitigar perdas, o gado de leite enfrenta maiores desafios devido à necessidade de manter as matrizes.

A principal demanda dos agricultores é por políticas públicas efetivas para auxiliar na recuperação das perdas. Everaldo destaca que os produtores rurais têm buscado informações sobre financiamentos e auxílios governamentais. “Temos divulgado a questão do financiamento das linhas do Pronaf”, afirmou. Além disso, a Emater tem se mobilizado para fornecer assistência emergencial, em conjunto com entidades locais, para distribuir alimentos e produtos de limpeza às comunidades mais afetadas.

Everaldo Vinício da Silva, chefe do escritório da Emater em Montenegro

De acordo com Everaldo, a recuperação plena do setor agrícola, especialmente dos pomares de citros, pode levar anos. Em alguns casos, será necessário substituir árvores inteiras, o que pode demorar de três a quatro anos para que as novas mudas comecem a produzir novamente.

Anistia das dívidas
Conforme estimativa do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Montenegro, cerca de 150 famílias foram afetadas no interior pelas enchentes de maio. A presidente da entidade, Maria Regina da Silveira, destacou a gravidade dos danos e as demandas urgentes dos agricultores para a recuperação. Segundo ela, as regiões afetadas pelas enchentes sofreram perdas completas. “Onde pegou enchente a perda foi 100%”, afirma.

Maria Regina da Silveira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Montenegro

A visita às propriedades atingidas revelou um cenário devastador, com agricultores sem perspectiva de recuperação imediata. Maria Regina afirma que a situação foi agravada por uma sequência de três enchentes: em setembro e novembro do ano passado, e agora em maio. Os locais mais afetados foram as localidades de Porto dos Pereira, Faxinal, Campo do Meio, Lageadinho, Volta do Anacleto, Morro Montenegro, Porto Garibaldi, Pesqueiro e Potreiro Grande. Em Campo do Meio e Lageadinho, a destruição atingiu principalmente os pomares de citros, enquanto em Potreiro Grande e Pesqueiro, a perda foi significativa no gado de corte.

Os agricultores enfrentam desafios enormes para reconstruir suas vidas e propriedades. Segundo Maria Regina, a principal demanda é o apoio financeiro e emocional. “Em primeiro lugar, precisamos conversar muito com eles sobre a autoestima”, explicou, mencionando que Sebrae e Senar estão envolvidos em iniciativas de suporte. No entanto, ela destaca que as ajudas anunciadas, como o Auxílio Reconstrução de R$ 5.100, são insuficientes e não abrangem todos os agricultores.

Uma das demandas mais importantes, segundo Maria Regina, é a anistia das dívidas dos agricultores, o que ainda é incerto. “O que a gente precisaria mesmo era que o governo anistiasse as dívidas para esses agricultores”, disse Regina. As medidas atuais, como o adiamento de dívidas por 90 dias, são vistas como paliativas e insuficientes para a recuperação a longo prazo.

Segundo a presidente do Sindicato, a recuperação dos pomares de citros, uma das principais culturas afetadas, levará anos, o que impossibilita os agricultores de contrair novas dívidas sem prospectivas de honrar com os pagamentos. “O governo Federal lançou uma linha de crédito com até R$ 210 mil, mas isso não é o suficiente”, afirmou Maria Regina, ressaltando que a carência de três anos oferecida é bem vista, mas muitos agricultores não conseguirão se reerguer nesse período.

 

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