Prefeitura já sente impacto negativo de mudança operacional na JBS Aves

MENOS IMPOSTOS. Faturamento do frango fora de Montenegro reflete em queda nos repasses de ICMS ao Município

Apesar de ser um imposto estadual, o ICMS é uma das mais importantes fontes de receita para qualquer Prefeitura. A partir do que os comércios e as indústrias pagam ao governo é feito um repasse aos cofres municipais, que leva em conta uma série de indicadores. O principal deles é o Valor Agregado Fiscal: calculado pela diferença de valor entre tudo o que foi entrada nas empresas (compras) e tudo o que foi saída (vendas). E este vem caindo consideravelmente em Montenegro desde meados de 2018.

Aves do frigorífico de Montenegro estão sendo levadas para centro de distribuição em Itajaí/SC. O objetivo é dar mais rapidez na formação dos lotes para a comercialização de acordo com a demanda dos clientes

É que, há anos disputando com a John Deere pelo posto de maior empresa do Município em termos de arrecadação de ICMS, a JBS Aves promoveu uma mudança operacional no frigorífico local. Determinou que o frango de Montenegro, em boa parte, não fosse mais vendido daqui.

Ele está sendo enviado para um centro de distribuição, em Santa Catarina. Neste centro, há o recebimento da produção também de outras unidades e, com isso, uma facilidade maior em formar os lotes para venda, de acordo com a demanda dos clientes da empresa – especialmente os do mercado externo. Uma otimização logística considerável, mas que traz impacto negativo para o Município. O imposto, afinal, fica para a Prefeitura de onde, de fato, foi registrada a venda.

A Administração Municipal de Montenegro foi atrás. “Nós procuramos a empresa e colocamos a nossa preocupação, mas o que eles nos colocaram é que foi uma decisão corporativa que a filial local não teria como alterar”, conta o secretário municipal da Fazenda, Antonio Miguel Filla. “Estando nesse Centro de Distribuição, eles conseguem fazer essa tonelagem necessária e ganham bastante tempo. É questão logística, mesmo”.
A reportagem buscou contato com a JBS, mas a empresa optou por não comentar a decisão.

A nova sistemática entrou em prática em junho de 2018, mas o impacto nos repasses de ICMS começa a ser sentido neste ano. É que, para calcular a participação de cada município, o governo estadual tem como base as operações do penúltimo e do antepenúltimo exercício. Para o caso de 2020, são os anos de 2017 e 2018, pegando parte da alteração feita pela JBS.

Filla não revela valores totais de retorno para evitar que, através do cálculo inverso, acabe sendo divulgado o faturamento anual do frigorífico. Mas, impulsionada pela redução na venda de frangos só de julho a dezembro, a participação de Montenegro no ICMS estadual – quanto ao Valor Agregado Fiscal – caiu o equivalente a R$ 1,9 milhão.

Em 2021, quando os anos base serão as operações de 2018 e 2019, o reflexo no cálculo é bem maior: chegará a consideráveis R$ 6,45 milhões a menos, segundo a Fazenda. O ICMS é recurso que entra no caixa livre da Prefeitura, podendo ser aplicado no pagamento de despesas e também em investimentos em áreas como Educação, Saúde e Infraestrutura.

Alteração derrubou exportações ao pior patamar da década
Dados do Ministério da Economia indicam que a receita com exportações de Montenegro em 2019 foi de US$ 201,9 milhões. O montante é o pior da década: 62,7% menor que em 2017; e 37,6% menor que em 2018 (ano em que foi iniciada a mudança operacional na JBS Aves).

Apesar de haver interferência de uma queda na exportação de tratores produzidos na John Deere – uma questão mercadológica – o resultado negativo nas vendas ao mercado externo em 2019 está diretamente atrelado ao segmento de aves. As receitas com o produto vendido em Montenegro foram de US$ 227 milhões em 2017 para US$ 13 milhões em 2019.

O total de exportações de 2019 não atinge nem o total do frango que foi exportado em 2017, como evidencia a relação a seguir:

As exportações em Montenegro
– Total de receitas com exportação em 2017 – US$ 542.794.705
Exportação de frango em 2017 – US$ 227.089.653
– Total de receitas com exportação em 2018 – US$ 323.555.867
Exportação de frango em 2018 – US$ 75.914.217
– Total de receitas com exportação em 2019 – US$ 201.975.630
Exportação de frango em 2019 – US$ 13.081.251
*Fonte: Ministério da Economia

Empresa continua importante para o Município, frisa Administração

Secretária de Indústria e Comércio, Cristiane Gehrke, e secretário da Fazenda, Antonio Miguel Filla. Prefeitura trabalha na captação de novas empresas para compensar a perda de receitas

É consenso no Palácio Rio Branco que, apesar dos impactos da mudança operacional no faturamento dos frangos, a JBS Aves segue como uma das mais importantes empresas de Montenegro. Ela continua empregando e movimentando toda a cadeia econômica da cidade. Além disso, segue garantindo retorno de ICMS, em menor parte, com a fábrica de ração, o centro de distribuição local e a unidade de embutidos.

O impacto positivo no Setor Primário também é uma constante. “Tem a própria questão do investimento que está sendo feito com os produtores integrados que ficam no raio de 20 quilômetros do frigorífico desde o ano passado”, lembra a secretária municipal de Indústria e Comércio, Cristiane Gehrke. “Então, como empresa, todo movimento que eles fazem é de extrema importância.”

No início do mês passado, a unidade de Montenegro foi citada pelo Grupo JBS como uma das que receberão parte de um investimento de R$ 1 bilhão a ser realizado no Rio Grande do Sul até 2021. Há até tratativas, confirmadas pelo prefeito Kadu Müller, para a instalação de uma fábrica de embutidos dentro do complexo no município. Hoje, o Grupo trabalha com marcas como Friboi, Seara, Lebon e Doriana.

Outras empresas: busca é pelo equilíbrio tributário
Não há razão para pânico, segundo o Executivo. O secretário da Fazenda de Montenegro relata que, apesar de prever a redução no orçamento de 2020 com o ICMS, haverá outras fontes de recursos para o poder público.

É que o Município está considerando novas entradas positivas de ISSQN neste ano, o imposto municipal que é pago sobre a prestação de serviços. Essas, provenientes do início da operação do pedágio, da usina de asfalto da CCR, do estacionamento rotativo e também das primeiras obras de instalação de empresas no complexo do Polo da Química. A previsão é que duas indústrias comecem a se instalar por lá ainda dentro deste ano.

Sem ter muito o que fazer em termos de participação de ICMS – o período base para o cálculo de 2020 e 2021 já passou – a Administração trabalha pela vinda de novas empresas do Comércio e da Indústria para incrementar a arrecadação no futuro. “Um dos nossos maiores movimentos, nesse sentido, é mesmo o projeto do Polo da Química”, relata a secretária de Indústria e Comércio, Cristiane Gehrke. “As indústrias que vão se instalar lá precisam de todo o entorno. Precisam de prestação de serviços, de restaurantes, uniformes, EPI’s…É um movimento econômico muito forte que está acontecendo.”

As duas empresa que já adquiriram os lotes para iniciar a instalação em Montenegro não estão entre as outras sete que assinaram, no ano passado, protocolo de intenções para a vinda ao complexo. Essas, segundo Cristiane, estão na etapa de elaboração dos pré-projetos de instalação para, então, fazerem a compra dos seus espaços. “Mas na última reunião que nós tivemos, todos já sinalizaram que estão finalizando esses pré-projetos”, adianta a secretária.

Ela destaca, ainda, os avanços que estão colocando Montenegro na mira de novos investidores. Lojas recém abertas como Óticas Diniz, A Mobília, Don Juan e Pernambucanas são comércios que, apesar de trazerem volume menor de ICMS, também garantem renda, empregos e a vinda de clientes de fora. “Esse é um movimento que vai, inevitavelmente, participar dessa reversão da receita que se perdeu”, pontua Cristiane.

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