ÚLTIMA empresa a utilizar a iniciativa deixou o local em 2018. Não houve novos contemplados
Talvez muitos montenegrinos não saibam – outros tantos não lembram –, mas Montenegro tem uma Incubadora Empresarial. É um prédio, aberto com esse fim lá em 2002, no bairro Municipal, onde micro e pequenas empresas industriais tinham espaço para iniciar suas atividades e, após determinado período, saírem bem organizadas para expandir seus negócios.
Na prática, porém, quem tirar um tempo para conhecer a edificação hoje vai encontrá-la em estado de abandono. Uma das quatro salas vem sendo usada de depósito para o Cras, que fica ao lado. Junto às outras, há problemas no telhado; e, após arrombamentos, a fiação elétrica foi praticamente toda arrancada e sobraram só os suportes das lâmpadas. Desde 2018, não há nenhuma empresa incentivada pelo projeto.
A situação motivou uma reunião na Câmara de Vereadores, proposta pelo vereador Gustavo Oliveira (PP), em prol da retomada da iniciativa. “É um local nobre, estratégico e que pode ajudar muitos empreendedores do Município”, expôs o parlamentar. Ele reuniu, na última semana, representantes do governo municipal, com as secretarias de Planejamento, Obras e Indústria e Comércio; e também a ACI e o Sindilojas para debater a situação. Foi quando o estado atual do prédio acabou sendo revelado.
Para o empresário Edgar Diemer, que desde 2019 tenta habilitação para a Incubadora, a situação é lamentável. “Tu vê um lugar que poderia estar sendo utilizado para trazer benefícios para a cidade parado e, pior que parado, se deteriorando”, comentou. Ele trabalha com a fabricação de arranjos de flores para eventos e também de artefatos em madeira; hoje, junto à sua residência. A estrutura da Incubadora seria possibilidade de melhorar e ampliar os negócios.
FALTA DE CUIDADO
Para além dos problemas, o encontro promovido pelo Legislativo evidenciou algumas razões para o que ocorre com o prédio. Segundo o secretário de Indústria e Comércio (a Smic), Waldir Kleber, a última das salas que estava com um empreendedor teve a chave entregue neste ano, embora o negócio já tivesse sido desativado em meados de 2018. “Ele nos disse que não tinha mais interesse”, contou. O empresário, porém, deveria ter entregue o local nas condições de uso em que o recebeu; mas não foi o que ocorreu. Ele está sendo acionado, através da Procuradoria Geral, para reformar a sala.
Na avaliação do atual governo municipal, casos como esse, da última ocupação, explicam as condições em que se encontram a incubadora. A falta de cuidado e de manutenção ocasionaram a deterioração. “Faltou fiscalização, também”, avaliou a chefe do serviço de microcrédito da Smic, Jenifer Almeida. “Eles (os empresários contemplados) teriam a obrigação de ter um seguro contra intempéries e condições climáticas e isso também nunca aconteceu.” Ela relatou que, desde o início do ano, a pasta vem trabalhando na retomada da iniciativa.
Solução ao problema já está alinhada. Deve sair ainda em 2021
Como o Ibiá adiantou na última semana, o Governo Zanatta já alinhou a reforma do prédio da Incubadora Empresarial como contrapartida a incentivos oferecidos ao Grupo Imec; pela construção da nova unidade do Desco no bairro Timbaúva. Em troca da isenção de IPTU por dez anos e de um repasse financeiro de R$ 127 mil pelos serviços de terraplanagem e transporte de terras na obra, a empresa, além da geração de impostos e empregos, vai assumir a revitalização da Incubadora. A obra foi avaliada em R$ 82,9 mil. As tratativas estão sendo analisadas pela Câmara de Vereadores; e devem ser votadas já nesta quinta-feira, dia 16.
De acordo com o secretário de Obras da Prefeitura, Edson Eggers Machado, as equipes da pasta fizeram uma vistoria no prédio ainda em abril; para iniciar as negociações com o Imec. A própria empresa, então, elaborou um orçamento para a reforma; que é validado pelo Município dentro do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil. A meta da organização é executar a obra ainda dentro deste ano, aproveitando a mão de obra das equipes que já trabalham na construção da nova loja; que fica praticamente ao lado da Incubadora. Reforma feita, poderão sair os novos chamamentos aos empreendedores interessados.
Como deveria funcionar a Incubadora
A Incubadora Empresarial de Montenegro se enquadra num programa estadual de incubadoras empresariais. Seu regimento interno, feito no Governo Ivan Zimmer, determina o uso das quatro salas, de 54 metros quadrados cada, por micro e pequenas empresas com atividade de Indústria. A escolha é feita mediante edital de chamamento público; com os interessados sendo julgados por uma comissão do Município.
Num prazo de até quatro anos, os custos de água, luz e telefone ficam sob a responsabilidade da empresa. E há o pagamento mensal de um aluguel; que varia anualmente de acordo com a Unidade de Referência Municipal (URM). No primeiro ano, são 41 URM’s por mês (hoje, R$ 154,40). No segundo, 82 URM’s (R$ 308,81). No terceiro, 123 URM’s (R$ 463,23); e, no quarto, 164 URM’s (R$ 617,62).
O Governo Kadu Müller, no ano passado, chegou a enviar projeto pra Câmara para alterar as regras. Quis ampliar o rol de organizações contempláveis, para além das indústrias, também a MEI’s, associações, startups e empresas simples de crédito. O aluguel também seria reajustado; e a proposta da secretaria de Indústria e Comércio previa a oferta de oficinas e palestras para qualificar os novos empreendedores. No Legislativo, porém, o texto trancou especialmente por não trazer, bem definido, que tipo de associações estariam contempladas. Acabou terminando o mandato de Kadu Müller e ele foi arquivado em definitivo sem passar por votação.