Ao longo da história, o Rio Caí tem sido fundamental para o desenvolvimento das regiões que banha. Especialmente quando o transporte fluvial ainda era alternativa. Na verdade, durante muito tempo foi praticamente a única, como entre 1870 e 1872, quando no atual Cais das Laranjeiras, em Montenegro, recebeu os colonizadores italianos. Seu leito tinha ainda pequenos portos para escoamento de riquezas e passageiros, inclusive na Localidade Porto dos Pereira.
E com a religiosidade muito forte entre aquela gente, não demorou para ali ser formada a Comunidade Católica de Nossa Senhora dos Navegantes. Com mais de 100 anos, ela traz em seu cerne a tradição da Procissão de Navegantes, celebração que em 2020 ocorreu exatamente 2 de fevereiro, Dia de Navegantes.
Mais de 600 pessoas participaram da festa, considerando a procissão de translado da Imagem até a Catedral São João Batista, no Centro, sábado; e as procissões a pé e rodovia retornando à comunidade, com Missa, almoço e a reunião dançante, no domingo. Do Cais até Porto dos Pereira ao menos duas pessoas caminharam junto ao cortejo motorizado, mantendo viva uma tradição de outros anos.
Porém, ainda mais tradicional era o retorno da Padroeira para casa deslizando nas águas do Caí. Esse transporte não é mais usado, todavia deixou recordações queridas e saudade nos fiéis, como em Jueci Maria de Vargas, 65 anos; e em sua filha Carla Rosane Martins de Vargas, 42. “Era bem melhor quando era de barco”, comentou a filha, salientando a lógica de conduzir a protetora dos navegantes pela água.
Já para sua mãe, que ao lado da filha todos os anos segue a procissão, não importa o meio. O importante é reverenciar a Santa; ainda que ela também tenha sua lembrança mais querida guardada no coração. “Quando passava pela ponte (da ERS-240), jogavam um monte de pétalas de rosas nos bascos”, descreve a idosa, que há quatro é honrada pela companhia da neta.
Maria Sophia Martins de Vargas Mello tem 4 anos, e seguiu a procissão pela primeira vez quando tinha 10 meses, vestida de anjo. Neste ano ela repetiu o modelo com asas e esplendor brancos, muito bem combinados com um vestido azul, ainda que este chamou atenção pela cor e os brilhos. “O vestido é da Cinderela, mas que foi emprestado para o anjinho”, respondeu a esperta menina, que confessou seu habito de “algumas vezes sim, algumas vezes não” rezar à Navegantes pedindo saúde.
Agora a tarde acontece reunião dançante animados pela dupla João Leone & Everaldo e pelo grupo Os Seresteiros, com entrada franca.
E às 19h deste domingo será realizada outra celebração, desta vez organizada pela Paróquia Sagrado Coração de Jesus, do bairro Timbaúva. Será uma procissão luminosa, com a imagem vinda pelo Rio, e a caminhada iniciando em frente a Câmara de Vereadores, seguindo para missa na Igreja Tanac (em frente à Tanac).