Atletismo. Detentor de 2.000 medalhas, o corredor de 82 anos segue no Vale do Caí e não pensa em parar de correr
Mesmo não tendo nascido e nem estar morando atualmente em Montenegro, o professor de técnicas comerciais e corredor Alceu Moojen Chaves é um ícone na cidade. Aos 82 anos, o catarinense de Rio do Sul vive uma fase complicada da vida após perder seu único filho, baleado no ano passado. Sozinho, ele busca motivação no atletismo, esporte pelo qual se apaixonou há 67 anos. Desde então, empilha troféus e medalhas em suas prateleiras.
Atualmente, Alceu guarda suas premiações em São Sebastião do Caí, município do Vale do Caí em que reside há 14 anos. Entretanto, apesar de ter se tornado um multicampeão no atletismo, o corredor vive um momento difícil, tanto no esporte, quanto na vida pessoal. Depois da perda do seu filho em 2016, Alceu competiu poucas vezes, sendo que neste ano ainda não participou de nenhuma prova, principalmente pela dificuldade financeira.
Com o convívio frequente somente de sua neta e de uma vizinha nos últimos meses, o atleta de 82 anos não esconde a tristeza com o atual momento, mas ressalta que não pode e nem quer ficar parado. “Mataram meu filho com 10 tiros, roubaram e desmancharam o carro dele. Ele não bebia e não fumava, apenas jogava futebol. A tristeza é muito grande. A solidão é o maior problema. Sou sozinho, tenho que fazer alguma atividade, se não fico barrigudo. Também nunca fumei e nem bebi. Tomo os remédios necessários”, frisa.
Nascido no estado vizinho, Alceu Chaves veio morar no Rio Grande do Sul logo nos primeiros anos de vida, mudando-se de Rio do Sul para Lagoa Vermelha, nos Campos de cima da Serra. Depois, foi para Porto Alegre, morou um tempo em Viamão e voltou a residir na capital gaúcha por mais alguns anos. Depois de deixar Porto Alegre pela segunda vez, o atleta veio morar em Montenegro, onde ficou por duas décadas. Há 14 anos, Alceu deixou a Cidade das Artes por receber uma boa proposta para vender sua residência, então mudou-se para São Sebastião do Caí.
No município, o professor não tem muito convívio com a vizinhança, o que faz Alceu se sentir ainda mais sozinho. “O lugar que moro no Caí é meio isolado. A solidão mata. Tenho uma neta e uma vizinha que me dão apoio, que conversamos, mas é só. Procuro falar com as pessoas na rua também”, salienta.
Trajetória vitoriosa dentro e fora das pistas de corrida
Desde 1950 no atletismo, Alceu já correu em todos os estados do Brasil, conheceu boa parte das grandes cidades do país e também já competiu na Argentina, no Uruguai, no Paraguai e na Bolívia. Conhecimento não lhe falta. Em Montenegro, estimulou a criançada a ingressar no esporte, criando e organizando dezenas de corridas de rua por conta própria.
As prateleiras da casa do corredor em São Sebastião do Caí já estão pequenas para abrigar as mais de 2.000 medalhas conquistadas nas centenas de provas que o atleta já participou, além dos troféus obtidos nesses 67 anos. Além do talento mostrado nas pistas de corrida, Alceu considera-se extremamente competitivo. “Não existe segundo lugar para mim. Corro pensando na vitória. Segundo lugar é último. Essa é minha motivação”, enfatiza.
Fora do atletismo, desempenhou diversas funções em áreas distintas antes de se aposentar. Além de dar aula em escolas de ensino médio de Montenegro e Porto Alegre, o professor trabalhou no tribunal de contas, na fiscalização financeira, na secretaria da fazenda, na sub-secretaria de educação, no serviço de orçamento da educação e foi peça-chave na fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT) em Montenegro, na década de 80.
Sem data para parar, Alceu cita suas conquistas recentes
Há pouco mais de dois anos, Alceu Chaves foi diagnosticado com labirintite, caiu e bateu a cabeça no chão durante uma prova, e precisou ficar dois anos sem correr, para se recuperar da cirurgia. No segundo semestre de 2016, voltou a fazer o que mais gosta e em grande estilo. Conquistou o título do Troféu Brasil de Atletismo e o Mercosul, ambos em Porto Alegre, e também venceu o Campeonato Brasileiro de Atletismo Máster, em Brasília.
Entretanto, a maior conquista veio no último dia do ano. Em São Paulo, Alceu venceu a Corrida da São Silvestre pela quarta vez na categoria máster.
“Sou o único atleta homem da categoria máster a ser tetracampeão da São Silvestre. No atletismo, ganha o melhor, quem está melhor. No futebol não é sempre o melhor que vence. É um esporte de jogo, recreação e negócio. Por isso gosto tanto do atletismo, não tem idade, não depende de condição social”, enaltece o corredor.
Em 2017, Alceu ainda não disputou nenhuma prova e ainda não sabe se vai competir, por dificuldades financeiras. Apesar disso, o atleta não cogita parar. “Tenho a ideia de participar de corridas neste ano, em setembro, mas falta dinheiro. Além disso, não tenho data parar parar. Vou correr enquanto estiver vivo”, finaliza Alceu.