Há dois anos Lorena Rodrigues deixou as calçadas para começar nova vida
Em 2016, a aposentada Lorena Rodrigues, de 78 anos, tornou-se conhecida em Montenegro pelo fato de insistir em morar na rua. Sua situação teve repercussão na cidade e uma ordem judicial determinou ao Município tomar providências para retirá-la das vias públicas. Na época, foi descoberto que Lorena havia acumulado R$15 mil, fruto de sua aposentadoria, dinheiro esse que ela escondia na própria roupa. Após passar por avaliação médica, a idosa foi encaminhada para a Casa de Amparo Mão de Deus, local onde vive até hoje.
Lorena chegou ao novo lar no dia 15 de julho de 2016. Prestes a completar dois anos dessa data, revela como foi a adaptação ao ambiente e aos companheiros de residência. Ela, que tinha como teto as estrelas e como melhores amigos um gato e dois cães, ainda se esforça para se adaptar a uma vida regrada, cercada pelos muros da instituição. “No começo, eu não me acostumava a ficar aqui, mas morar na rua não era bom pra mim. Passei muito trabalho”, comenta.
Lorena divide o quarto com outras duas colegas. Ela afirma que já fez vários amigos, inclusive entre os funcionários da instituição. “Me dou bem com as gurias que trabalham aqui, elas são queridas. A gente é bem tratada”, aponta a ex-moradora de rua.
A idosa possui um filho, morador da cidade de Brochier. Contudo, há quase dois anos na Mão de Deus, este visitou a mãe apenas uma vez, logo que ela foi levada para a Casa.
Lorena é mantida na Casa de Amparo pela Prefeitura local, que paga sua vaga. O dinheiro de sua aposentadoria está depositado em juízo, aguardando a decisão do Judiciário sobre o que será feito dele.
O que mudou na vida de Lorena no Mão de Deus
Traços marcantes da personalidade da aposentada tiveram de ser alterados para melhor convivência em grupo. A adaptação de Lorena ocorreu de forma gradativa, explica a gerente operacional da Casa de Amparo Mão de Deus, Ana Cristina Stein. Por algum tempo, ela insistiu em manter hábitos trazidos da rua, como, por exemplo, o costume de acumular objetos. Com frequência, a moradora recolhia sabonetes e papel higiênico, para uso geral da instituição, e os guardava em seu quarto. Para Ana, esse comportamento é reflexo da necessidade de armazenar algo para que, no futuro, não falte, resultado das necessidades que a idosa passou durante muito tempo.
Outra característica que sofreu mudança diz respeito à forma como se veste. Ela que costumava usar peças sobrepostas, saia sobre a calça, vestido sobre a blusa e outras misturas de roupas, agora consegue se vestir de forma convencional.
Adaptada, a senhora de sorriso fácil afirma que morar na rua já não faz mais parte de seus planos e que sente-se acolhida por todos da Casa.
Relembre o caso
Não há informações precisas de quanto tempo Lorena permaneceu nas ruas. Em 2016, ela chegou a ser tratada como caso de saúde pública. Isso porque usava a frente do Hospital Montenegro como se fosse o banheiro de sua casa. A senhora tomava banho em uma torneira do jardim, tendo como box toalhas e lençóis.
Na época, o então vereador do PP Gustavo Zanatta promoveu uma reunião para tratar sobre o problema.No desfecho, servidores da Prefeitura Municipal orientaram Lorena a deixar o local. Até mesmo um abrigo de ônibus que havia em frente ao HM, o qual ela usava como “casa”, foi retirado para evitar que continuasse dormindo lá.
Lorena chegou a alugar um kitnet, mas não conseguiu se adaptar à nova morada e logo retornou à rua. A senhora afirmava sentir-se mais livre e protegida morando próximo ao hospital do que na casa alugada. O fato chamou a atenção na comunidade.
De volta à “liberdade”, o local escolhido para ficar foi a marquise de um prédio antigo na esquina das ruas Osvaldo Aranha e Assis Brasil, onde permaneceu até ser conduzida para a Casa de Amparo Mão de Deus.
Antes disso, ela chegou a ser contemplada pelo programa habitacional que distribuiu casas no loteamento Bela Vista II. Porém, não quis morar no local, pois tinha medo de ficar sozinha, distante do hospital, e cercada por vizinhos nos quais ela não confiava.
Residir com o filho também não foi possível. De acordo com ela, as brigas familiares eram frequentes e era melhor morar na rua do que com a família.