Após o desabamento de parte do Cais do Porto das Laranjeiras, montenegrinos temem perder essa área da cidade
Há 12 dias, um trecho do Cais do Porto das Laranjeiras, um dos principais pontos turísticos de Montenegro, desabou levando parte da história e cultura do município. Após o ocorrido, quem passa pelo local compartilha um sentimento de tristeza misturada à indignação diante do descaso do poder público com o patrimônio histórico da cidade.
O montenegrino e gestor de processos, Carlos de Avila, 36, aproveitou a manhã de sol do último sábado, 8, para andar de bicicleta pela primeira vez na beira do Rio Caí com a filha Sophia de Avila, 11. Se não fosse a lona preta cobrindo o desabamento ocorrido na tarde do dia 31 de agosto, talvez, as lembranças desse momento teriam sido diferentes. “É muito triste chegar aqui e se deparar com esse cenário”, disse Avila, olhando o que sobrou do talude.
“Isso aconteceu devido uma sucessão de erros, mas a sensação é de decepção de algo que poderia ter sido evitado com políticas públicas de prevenção”, desabafa o gestor de processos. “Eu chamei a minha filha para passear aqui e não imaginava que iria encontrar o Cais nessas condições lamentáveis.”
Andando por toda extensão da orla, é possível perceber que o problema não se limita apenas a parte que desmoronou, mas em diversos pontos que apresentam rachaduras e fazem temer por um novo desmoronamento. Com medo de andar próximo das margens do rio, o aposentado Renato Büttenbender, 67, prefere caminhar pelas calçadas, mas se preocupa com o que pode acontecer com o local.
“As fendas estão aumentando cada vez mais e, assim como ocorreu naquela parte, pode acontecer em outros pontos do Porto das Laranjeiras”, alerta o aposentado. “É importante destacar que esse não é um problema recente, ou seja, é consequência da falta de investimento de vários governos que não se preocuparam com medidas preventivas para evitar esse transtorno.”
Na companhia da esposa Gabriele Morin, 38, e do pequeno filho, o autônomo Juliano Borges, ambos 38, lamenta conhecer a cidade com um pouco de sua história enterrada pelo desabamento. Natural de Caxias do Sul, ele estava a passeio e não queria perder a oportunidade de visitar o cartão postal da conhecida Cidade das Artes. “Na verdade fiquei com um pouco de medo de andar por aqui [se referindo ao Cais], pois parece que a qualquer momento vai cair e a insegurança toma conta”, disse o caxiense.
“É triste ver nossa história assim”, disse Sophia
Na busca de suas primeiras pedaladas no Cais do Porto das Laranjeiras, a pequena Sophia de Avila, 11, teve que se deparar com as sinalizações de perigo em um lugar que já foi parte de Montenegro. “É triste ver nossa história assim”, comenta. Quando questionada sobre o futuro que deseja, ela dispara que seja “um mundo onde as pessoas ajudem os políticos a cuidar da cidade”, completa.
Para o estudante de direito Jonas Azevedo, 20, grande parte dos problemas que o município enfrenta atualmente poderiam ser evitados se a comunidade se empenhasse. “A população tem que ficar mais em cima do poder público, fiscalizando e cobrando, não só reclamando”, salienta o estudante.
A paisagem do Cais como terapia
Sentado em um dos bancos no fim do Cais, o aposentado Juarez da Silva Santos, 61, observa a passagem lenta do Rio Caí. Entre um pássaro e outro que corta o céu e faz sombra sobre as águas, ele fala sobre o carinho que tem pelo lugar. “Venho aqui sempre que posso, é como se fosse uma terapia, me traz calma e paz”, disse o aposentado, enquanto fumava um cigarro e olhava para o horizonte.
Para o admirador do Porto das Laranjeiras, o desmoronamento levou grande parte das lembras que ali viviam. “Por mais que seja feito um projeto de revitalização, se não for com todo o cuidado de preservar os aspectos originais, uma história será perdida”, completa o aposentado.