Mudanças de hábito são fundamentais para reverter a situação que, anualmente, leva toneladas de comida ao lixo
Em um país com mais de 13 milhões de desempregados e cerca de 50 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza – dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desperdício de alimentos tem se tornado uma realidade contrastante em boa parte dos lares brasileiros. De acordo com um levantamento do Instituto Akatu, com base nas informações do IBGE, a cada R$ 600,00 que uma família gasta por mês nos supermercados, R$ 180,00 00 vão parar no lixo, ou seja, 27,7%.
O que poucas pessoas percebem, é que esse comportamento tem impacto negativo tanto no aspecto social, quanto no econômico, o que reflete diretamente no orçamento doméstico. Se esse mesmo valor fosse aplicado, por exemplo, em um investimento com retorno de 6% ao ano, esse grupo familiar conseguiria, no tempo de 60 meses, criar uma poupança de R$ 12.612,40. Em 30 anos, seria possível alcançar R$ 181.716,77, o que daria para comprar um imóvel, dependendo da área em Montenegro. Além disso, estaria contribuindo para um consumo mais consciente e ambientalmente saudável.
Para quem lida com restaurante, a questão do desperdício é um desafio diário. É o que afirma Reni Weber, proprietário de um estabelecimento desse segmento. “Eu tenho notado que as pessoas estão parando com esse hábito e felizmente deixando cada vez menos no prato”, destaca Weber. “A questão do consumo consciente é primordial nesse processo, tanto para quem consome, quanto para quem trabalha nesse setor”.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO), a maior parte desse desperdício de comida no Brasil ocorre no comércio, onde pelo menos 50% acaba sendo descartada. Já nos domicílios, essa quantidade chega a 10% .
A estudante de Artes Visuais Susana Toledo, 27, conta que, quando se trata de frutas, a situação é ainda pior, já que elas estragam mais rápido se comparadas a outros alimentos. “Eu gosto de comprar as coisas mais frescas, porém, não tenho tempo para ir ao mercado todos os dias e acabo comprando em grande quantidade. Assim, acontece de esses alimentos estragarem e pararem no lixo”, relata a estudante, que tem feito de tudo para reduzir esse impacto.
A principal causa é a falta de planejamento
De acordo com o estudo, a principal causa desse desperdício tem relação com a cultura dos brasileiros, que possuem gosto pela comida em abundância, resultando nas sobras desses alimentos. Outra questão é a falta de planejamento das famílias, que compram em excesso ou por impulso.
Para evitar essa situação, a autônoma Marlene Kussler, 50, tem o costume de fazer compras semanais, assim, ela faz um levantamento de tudo aquilo que precisa e compra em pequenas quantidades. “Desperdiçar comida é desperdiçar dinheiro, por isso, tenho cuidado em não deixar estragar nada”, ressalta.
Como evitar o desperdício no dia-a-dia
Na compra. O melhor a ser feito é um planejamento do cardápio da semana, listando todos os ingredientes necessários para esses pratos na quantidade certa. Antes de sair de casa, é importante verificar o que já tem na despensa.
Alimentos perecíveis. Esses tipos de mercadorias merecem atenção redobrada, já que estragam com mais facilidade, assim, é indicado comprar em quantidades menores e mais vezes por semana, se possível.
Frutas da época. Além de se tratar de um consumo ambientalmente saudável, frutas da época duram mais tempo, já que, em sua produção, não exige, a utilização de tantos agroquímicos e insumos.
Armazenamento. Ao estocar produtos no armário ou geladeira, é recomendado colocar sempre na frente ou em cima os mais antigos e atrás ou embaixo os mais recentes.
Preparo e consumo. É importante utilizar o que for possível dos alimentos, como talos, folhas e reaproveitar as sobras na cozinha com novas receitas.