Acompanhando o movimento estadual, instituição estava em greve com 100% de aderência desde o mês de setembro
Na sexta-feira, o Colégio Estadual Dr. Paulo Ribeiro Campos (Polivalente) retomou parcialmente suas atividades. Sendo a única escola de Montenegro com 100% de aderência à greve dos professores estaduais, seu corpo docente decidiu, em reunião na terça-feira passada, que alguns dos professores iriam retornar ao trabalho. Outros, no entanto, seguem paralisados, aguardando diretrizes do sindicato da categoria, o Cpers, que está em negociação com o governo estadual. De acordo com o vice-diretor da instituição, Luis Carlos Hummes, 15 dos cerca de 30 educadores estão de volta.
“A minha decisão de voltar se deu porque eu não vejo um esforço do governo em fechar um acordo com os professores”, opina a professora de biologia, Lidiane Kerber. Ela foi uma das que retornou à escola. “Para mim, o governo está só nos usa como moeda de troca para atacar e conseguir os objetivos próprios dele. Eles estão buscando, por exemplo, a renegociação da dívida e a venda do Banrisul. Dá medo, porque eles querem culpar o funcionalismo para fazer isso, então não vão negociar, de verdade, com a gente.” Diante das atitudes do governo, a educadora, que sempre teve como objetivo de carreira a atuação na rede pública estadual, teme que, em um futuro próximo, já não existam escolas do Estado.
Aluno do primeiro ano do Ensino Médio, Florêncio Castilho da Silva Filho compreende o drama exposto. “Trabalhar sem remuneração deve ser muito desanimador”, considera. Parado do lado de fora de sua sala, o estudante de 16 anos aguardava com os colegas, na sexta, pela definição da matéria que teria no período seguinte. O horário foi trabalhado pela direção para aproveitar todos os professores que voltaram, sem deixar os alunos por muito tempo parados. Não está sendo feito período reduzido, nem estão sendo colocadas duas turmas com um único professor. Quando, de fato, não houver ninguém para assumir o grupo, este será liberado. A partir desta semana, começam também os sábados letivos na escola.
O primeiro dia de retorno no Polivalente, divulgado pelas redes sociais, foi marcado pelo baixo comparecimento dos estudantes. O vice-diretor da instituição avalia que o principal fator para isso foi a volta em uma sexta-feira seguinte a um feriado. “Optamos pela data por causa da necessidade e para já aproveitar o dia”, aponta.
Ele acredita que, já a partir de hoje, o retorno seja maior. Ainda não há definição oficial de um calendário para recuperação dos quase dois meses de aula perdidos.
Alunos retornam com incertezas
Sem saber quando que o ano letivo vai terminar, a estudante do terceiro ano Jéssica Morgana Costa de Souza fica na incerteza sobre sua formatura. Prestes a encarar o primeiro dia de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que ocorreu ontem, na sexta-feira ela expressava preocupação quanto ao preparo que teve para realizar o teste. “Eu dei uma estudada. Vi umas aulas preparatórias no YouTube, mas não me sinto preparada”, contou. As provas de vestibular também são preocupação latente em seu dia a dia.
Com este sentimento, Jéssica acompanhava de perto, junto dos colegas, todas as movimentações do corpo docente sobre um possível retorno. “Estávamos muito ansiosos para voltar. Haviam boatos, até, de que a escola não voltaria da greve neste ano”, apontou. Apesar da insatisfação, ela compreende o ato dos educadores. “Eles estavam na luta pelos direitos deles. Ninguém se forma e gasta um dinheirão na faculdade para trabalhar de graça. Isso além do que eles passam no dia a dia, fazendo hora extra e tudo mais. É uma falta de respeito.”
Não há previsão para o fim da greve
Em Montenegro, a aderência à greve foi proporcionalmente baixa. Apesar de um grande apoio da sociedade, sensibilizada com a situação dos profissionais que chegaram a passar dificuldades por não receberem seus salários em dia, a maioria das instituições teve aderência parcial de poucos professores. Em âmbito estadual, no entanto, o engajamento foi maior, com 60% dos profissionais em greve, de acordo com o Cpers. Desde fevereiro de 2016, os servidores vinham recebendo seus pagamentos de forma parcelada.
Para o vice-diretor do Paulo Ribeiro Campos, Luis Carlos Hummes, a parada total da escola foi uma importante forma de pressionar o governo a buscar soluções. “A maioria dos professores aqui é vinculado ao sindicato. Então eles viram que havia uma necessidade de conscientização e de pressão”, relata. Ele reitera, ainda, que a instituição compreende a decisão dos que optaram por seguir em greve.
No início da última semana, o Governo Sartori sinalizou que, em dezembro, os salários dos professores estaduais poderiam começar a ser pagos em dia. Isso estaria dependendo, como alertou a professora Lidiane, da adesão do Estado ao Plano de Recuperação Fiscal e à venda de parte das ações do Banrisul. Alegando serem necessárias maiores discussões, em assembleias regionais, sobre as promessas feitas, o Cpers afirmou que oficialmente a greve do magistério deve seguir, por, no mínimo, mais duas semanas.