Na última semana, a secretaria de Obras e Serviços Públicos de Triunfo realizou a poda das árvores localizadas nas proximidades da Prefeitura. A ação revoltou a população, já que os Plátanos centenários tiveram a copa completamente cortada, na chamada poda drástica.
“Foi um ato de destruição!”, afirmam as artesãs Mônica Patrícia Ferreira, Kalú Flores Miró, Elair Niederauer, Rosângela de Fátima Ferreira de Souza e Iolanda Schenk Freitas. Elas, que são organizadoras do evento Arte na Rua, afirmam que a ação da prefeitura gerou dúvidas sobre a possibilidade de o evento acontecer no local de costume. “Desde a primeira edição do Arte na Rua, incentivamos os artesãos da cidade a fazerem peças com imagens da folha de plátano como um símbolo da rua onde realizamos as feiras, como marca do evento e também para homenagear um dos mais belos cartões postais da Triunfo”, afirma o grupo.
Os Plátanos estão na rua há mais de 100 anos, e são um dos principais cartões postais da cidade. “É nesta rua que fica localizada a antiga residência de Sabino Antônio da Cunha Pacheco, abastado líder comunitário, do século IX”, contam as artesãs. O casarão, construído em 1821, chegou a hospedar o Imperador Dom Pedro II e a Princesa Isabel, hoje abriga a Prefeitura Municipal.
Elas esperam que alguém seja responsabilizado pela ação e que os Plátanos voltem a brotar logo, para deixar a via bela novamente. “Alguns moradores fizeram denúncia no Ministério Público do Estado e uma das organizadoras do evento, que é jornalista, enviou um e-mail com todas as informações e fotos para a Fepam perguntando quais as providências podem ser tomadas, além da denúncia no MP”.
Devido à polêmica causada na cidade, o vereador Glauco dos Reis da Silva encaminhou um documento solicitando esclarecimentos do biólogo Pablo Gusmão Rodrigues, responsável pelo licenciamento das podas no município. “Como não conheço sobre a questão das podas e acompanhei várias opiniões diferentes sobre o assunto em questão, resolvi procurar diretamente o biólogo que concedeu a autorização. Ele me atendeu super bem. Inclusive manifestou alívio em poder responder meus questionamentos”, afirma o vereador.
Entre os questionamentos, o vereador perguntou se houve acompanhamento do trabalho, se foram cortados somente os galhos que representavam risco de queda e se o trabalho foi realizado corretamente. Para todas as perguntas, a resposta foi negativa. Agora, Glauco informa que pretende registrar uma denúncia junto às autoridades ambientais.
Biólogo especifica problemas com a poda
O biólogo concursado da prefeitura, Pablo Gusmão Rodrigues, doutor em Ciências pela UFRGS, informou que a execução da poda contrariou a licença ambiental que havia sido emitida pela secretaria municipal de Meio Ambiente. “Praticamente, todas as condições da licença foram descumpridas”.
Segundo ele, a autorização era de cortar dos galhos em risco iminente de queda e os que, por ventura, estivessem atingindo a rede elétrica. A licença, segundo ele, especificava ainda que não deveria ser retirada completamente a copa das árvores. Estas deveriam ser mantidas com, no mínimo, 1,5 m de raio e 1,5 m de altura. “Isso garantiria que, mesmo reduzidas em tamanho, as árvores mantivessem sua função paisagística e de sombreamento”, explica.
O acompanhamento de um biólogo, que também não aconteceu, era importante para que, caso surgissem dúvidas durante o procedimento, fosse feita uma avaliação conjunta entre o que é teoricamente ideal, e que se mostra como operacionalmente possível. “Além disso, uma vez que já havia sido constatado, em levantamento previamente realizado por biólogas do Município, que havia figueiras nativas que se desenvolveram sobre plátanos (em 18 dos 33 existentes), e sendo as figueiras nativas definidas pelo Código Florestal Estadual (Lei n° 9.519/1992) como espécies imunes ao corte, foi disposto na licença que, caso a poda fosse atingir uma figueira, esta deveria ser transplantada para outro local, antes da poda do plátano”, pontua o biólogo.
Segundo Pablo, apesar de ser comum a poda drástica dos Plátanos, o procedimento não é o ideal e pode resultar em prejuízo à árvore. “A poda é sempre um procedimento agressivo, que expõe a árvore a maior risco de contaminações, e não deveria ser realizado sem necessidade”.
Ele explica, no entanto, que é difícil prever o resultado das podas. “Em uma escala temporal curta, de poucos anos, provavelmente não se note doenças nas árvores. Assim como a dendrocirurgia com cimento demorou 10 anos até que passassem a ocorrer problemas”.
A boa notícia é que dentro de alguns meses os Plátanos devem começar a rebrotar. “O fato é que praticamente todas as funções de uma árvore deixam de existir com uma poda drástica, pelo tempo que demorar para estar configurada uma árvore novamente. E aqui me refiro tanto a funções ecológicas, quanto paisagísticas, de sombreamento, melhora do ar, conforto térmico, etc”, explica o biólogo.
Sem resposta
A reportagem do jornal Ibiá tentou ligar para a Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos por várias vezes, mas ninguém atendeu ao telefone. Também encaminhamos um email com diversas questões, através da assessoria de imprensa da Prefeitura de Triunfo, e não houve retorno até o fechamento desta matéria.