Com vendas em queda há alguns anos, famosa revista masculina vai seguir só com conteúdos online
Agora é oficial. A tradicional revista Playboy deixará de circular nas bancas brasileiras. Desde 2016, ela já vinha sendo distribuída trimestralmente e, agora, foi anunciado o fim definitivo. A última edição periódica da revista foi publicada em 29 de dezembro de 2017.
A Playboy foi produzida no país pela Editora Abril de 1975 até o final de 2015. Nasceu durante a ditadura militar e, nos primeiros três anos, era impressa com o nome Revista do Homem. Ficou nacionalmente conhecida por trazer mulheres famosas em ensaios sensuais nus. Personalidades como Adriane Galisteu, Marisa Orth, Juliana Paes e Xuxa estamparam as páginas do periódico, representando recordes de circulação.
Com o avanço da internet, no entanto, a Playboy foi perdendo espaço. Quem comprava pelas imagens das mulheres nuas passou a ter, online, uma forma de ver o mesmo conteúdo – e até mais – sem sair de casa. Em 2015, a Editora Abril deixou de publicar a revista, alegando que o custo-benefício já não era compensador. Alto era o valor que a editora precisava pagar em royalties pelo uso da marca à Playboy Enterprises, responsável pela versão americana e dona dos direitos de uso. As vendas já não iam tão bem. De 2014 para 2015, tinham caído 31,6%.
Parecia o fim, mas a PBB Editora resolveu retomar a publicação e assim o fez desde 2016. Ela trouxe algumas reformulações. A Playboy passou a ser trimestral, com seu lançamento coincidindo com as estações Verão, Primavera, Inverno e Outono. Reinventada, excluiu a nudez e procurou trazer mais espaço para a mulher e sua valorização.
Na – hoje oficialmente – última edição publicada da revista, um ensaio fala das coelhinhas da Playboy e a reportagem especial homenageia Hugh Hefner, o idealizador da marca, que faleceu em setembro. A PBB Editora explicou, em nota, que irá priorizar, agora, conteúdos digitais da Playboy. Haverá, anualmente, uma edição física para colecionares, com uma seleção do melhor que saiu na internet e que só será impressa sob demanda.
Anos 90, a época de ouro
Dono de um comércio de jornais e revistas na cidade há 21 anos, Luis Claudio Wolff Filho lembra da época em que a Playboy era sucesso de vendas. “Não existia internet, WhatsApp, nada. Aí vendia enlouquecidamente”, conta. Ele recorda que a época de ouro da publicação foi nos anos 90, período em que o famoso apresentador Luciano Huck ainda trabalhava na rede Bandeirantes e, em seu programa, tinha como atrações a Feiticeira e a Tiazinha.
Sucesso na atração televisionada, as personagens das mulheres que não mostravam o rosto e dançavam misteriosas e sensuais foram parar nas páginas da Playboy no ano de 1999. Até hoje, são as edições mais vendidas da história, com 1,4 milhões de exemplares comercializados da Feiticeira e 1,2 milhões da Tiazinha. Ambas posaram uma segunda vez na revista, desta vez sem as máscaras das personagens, mas as vendas foram menores.
Luis Claudio conta que as demais edições vendiam conforme a personalidade da capa. “A capa é o que fazia a venda. É o que chamava atenção”, avalia. Ele relata que os consumidores montenegrinos sempre foram muito “tranquilos” ao adquirir o produto, sem grandes constrangimentos pela compra de um material erótico. “Raramente alguém pedia para esconder enquanto estava comprando”, afirma. A venda da Playboy sempre foi proibida para menores de 18 anos, mas, de acordo com o empresário, alguns pais costumavam trazer os filhos para presenteá-los com a revista.
“Eu leio pelas entrevistas”
Alguém dizer que comprava a Playboy por causa das reportagens e não dos ensaios sensuais pode causar espanto e até ser visto como mentira. Mas é fato que a publicação sempre trouxe diversas matérias sobre moda e comportamento e foi reconhecida pela qualidade de suas entrevistas. Muitas delas foram reunidas e chegaram a virar livro. O “Playboy – As Melhores Entrevistas” foi lançado em 2009 e traz um compilado de 28 das que mais chamaram atenção.
Dentre os entrevistados selecionados, estão Ayrton Senna, Lula, Patrícia Pillar, Paulo Coelho, Fernando Henrique Cardoso, Pelé, Chico Buarque e até Fernando Collor. Gravadas em diferentes épocas, as conversas giram em torno de tudo um pouco. Tratam de histórias de infância, pensamento ideológico, fatos inusitados e sexo.
As edições mais vendidas
1 – Feiticeira (1999) – 1,4 milhões
2 – Tiazinha (1999) – 1,2 milhões
3 – Adriane Galisteu (1995) – 960 mil
4 – Scheila Carvalho (1998) – 845 mil
5 – Scheila Carvalho e Sheila Mello (1999) – 838 mil
6 – Marisa Orth (1997) – 835 mil
7 – Tiazinha (segundo ensaio / sem máscara / 2000) – 828 mil
8 – Feiticeira (segundo ensaio / sem véu / 2000) – 804 mil
9 – Carla Perez (primeiro ensaio / 1996) – 778 mil
10 – Sheila Mello (primeiro ensaio / 1998) – 725 mil
Fonte: Extra
Crise no mercado
Nos últimos anos, muitas revistas – sejam as com teor erótico ou não – têm desistido de suas versões impressas e migrado para a internet. Sobre o fim da Playboy no Brasil, o presidente da marca nacional, Marcos de Abreu, afirmou que o mercado de revistas impressas atravessa uma crise sem precedentes ao redor do mundo e necessita de uma readequação ao mundo digital junto aos leitores e anunciantes.
Localmente, o vendedor Luis Claudio Wolff Filho também sente essa realidade. “O mercado passa por uma dificuldade. As editoras e, por consequência, nós vendedores, estamos sofrendo com isso”, coloca. O empresário explica que tem buscado diversificar os produtos oferecidos em sua loja, trabalhando com um bom atendimento, para garantir a clientela.