Adotadas desde dezembro, elas atrapalham a leitura e não determinam o município de origem do carro
Adotadas no Rio Grande do Sul desde o dia 17 de dezembro do ano passado, as novas placas de carro com padrão Mercosul estão longe de ser uma unanimidade. Há inclusive, nas redes sociais, páginas contrárias à medida. Contudo, para além do gosto pessoal, existe uma questão mais importante: os novos equipamentos podem atrapalhar o trabalho da Polícia Civil por diferentes aspectos.
O primeiro deles, talvez o mais gritante, diz respeito ao fato de não existir mais a definição sobre em qual município o carro foi registrado. Isso não é uma boa alternativa por diferentes aspectos. Em municípios pequenos, como os dos arredores de Montenegro, um veículo de fora é sinal de alerta, por exemplo. Além disso, a ausência da cidade impede a testemunha de um crime saber indicar de onde o automóvel era.
Outro problema é a dificuldade de visualização dos algarismos. Com a novidade, números e letras podem aparecer “misturados”. “O material refletivo é de difícil identificação. Já notei na rua conforme incidência solar prejudica para identificar as letras da placa. Seria mais fácil se fosse a preta como é hoje. Outra questão é o posicionamento das letras. Normalmente, só vamos precisar consultar uma placa em momentos de estresse e adrenalina.
Então, para conseguir decorar é mais difícil. Se tivessem as quatro primeiras letras e os três números, por exemplo, seria mais fácil. Então, se decora primeiro as letras depois os números, na correria, na hora que mescla complica um pouco”, explica o chefe da Seção de Investigação da 1ª Delegacia de Polícia (DP) de Montenegro, comissário Alisson Castilhos.
Com 18 anos de Polícia, sendo deles 17 no setor de investigação, Castilhos também não gostou da supressão do município do veículo. “Em vários assaltos que ocorreram na cidade, alguns carros estavam até clonados, mas eram todos veículos com placas de fora. Dificilmente eram clonadas de veículos da cidade”, comenta. “Em um assalto a uma [agência do] Banrisul em 2006, eles estavam em um Palio Weekend 05, com a placa de um Opala de fora da cidade”, exemplifica.
Para o policial civil, vai ser cada vez mais comum as denúncias chegarem com informações incompletas, como com apenas uma sequência de letras ou com numeração errada. “A tendência é esta. Mas precisamos nos adaptar ao sistema”, conforma-se.
Em uma transmissão no seu Facebook, o presidente Jair Bolsonaro afirma estudar uma forma de deixar de implantar a medida. “Vamos ver se a gente consegue anular essa placa do Mercosul. Não traz benefício para o Brasil essa placa. É um constrangimento. Uma despesa a mais para a população”, afirmou. Contudo, ele não deu mais detalhes sobre o assunto e nem disse como pretende fazer isso.
O procedimento
Veículos novos, que fizerem transferência de município ou de propriedade, em mudança de categoria; e outros casos que exigem substituição (furtos, avarias) já terão a nova placa padrão Mercosul no Estado. A troca da placa não é necessária para os demais veículos, que não tem data limite para adotar o novo modelo.
A compra da placa é feita cadastradas no Detran/RS. A lista das estampadoras aptas a trabalhar no Rio Grande do Sul pode ser conferida em www.detran.rs.gov.br. O preço da placa não é determinado pelo DetranRS, mas regulado pelo mercado.
O procedimento para emplacamento sempre começa e termina no CRVA. Com a autorização para confecção da placa em mãos, o proprietário do veículo ou o seu representante legal deve procurar uma das empresas estampadoras e solicitar a placa. Depois, com a placa em mãos, o proprietário do veículo volta ao CRVA para fazer a colocação da placa no veículo e a autorização para expedição do documento.
Exigência do Denatran
A mudança para as placas padrão Mercosul é uma exigência do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). No RS, a mudança foi efetivada em 17 dezembro, desde então, não há mais a produção de placa cinza no Estado. Os processos de veículos que exigem a confecção da nova placa são: primeiro emplacamento (veículos novos), transferência de município, transferência de propriedade, mudança de categoria (de passeio para aluguel, por exemplo), e casos que exigem substituição, como perda, furto ou avaria. A troca da placa não é necessária para os demais veículos, que não têm data-limite para adotar o novo modelo.
A produção e comercialização das novas placas são realizadas por empresas privadas. No RS, os preços das placas são definidos pelo próprio mercado, sem ingerência do DetranRS, tal como já ocorria anteriormente com as placas cinza.