Redução. Com dificuldades, criadores de Montenegro têm menos peixes e menores.
O efeito da estiagem está sendo sentido em todos os setores da produção primária, dentre os quais a criação de peixes é aquela que mais sofre, com açudes secos e peixes morrendo devido à baixa oxigenação. Se não bastasse, a pandemia Covid-19 adiou as feiras da Semana Santa que seriam uma oportunidade para vender um percentual da produção. Seriam peixes menores e, possivelmente, em menor quantidade.
Inclusive órgãos da agricultura e piscicultores garantiam que haveria oferta para as tradicionais feiras de rua. Em Montenegro, até o momento, a mortandade de peixes e a redução de açudes – com transferência de criação – é limitada a casos isolados. A informação foi reiterada pela médica veterinária da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SMDR), Júlia Führ Kranz.
Segundo ela, nas reuniões mensais os piscicultores se queixam apenas de prejuízo devido ao baixo desenvolvimento dos peixes, e não relataram mortalidade significativa. Todavia, uma avaliação exata dos prejuízos será possível apenas quando puder ser realizada a despesca para a venda.
O técnico em Agropecuária no escritório da Emater em Montenegro trouxe uma informação que coaduna com a Secretaria local. Há alguns dias, Valmir Michels teve reunião com membros da Associação Montenegrina de Piscicultores (Amopi), e não houve relatos de morte de peixe. “O que se constata é a diminuição no crescimento do pescado, que pode vir a ser um fator de diminuição da produção”, informou.
O extensionista rural destaca que alguns piscicultores já adquiriram equipamentos de aeração (oxigenação artificial da água), o que qualifica o ambiente nos viveiros. “A população não precisa ficar preocupada. Por hora, a produção e a comercialização de pescado (para a Semana Santa) estão garantidas”, definiu Michels, caso haja forma de comercializar os peixes. Embora as tradicionais feiras do peixe vivo tenham sido canceladas em virtude da pandemia de Covid-19, a prefeitura de Montenegro estuda formas de viabilizar a comercialização, para que os produtores não tenham ainda mais prejuízos.
Mortandade é considera pequena
Autoridade em piscicultura, o assistente técnico em Sistema de Produção Animal da Emater, João Sampaio, tem recebido informações de prejuízos na área da Regional Lajeado provocados pela ausência de chuva. Todavia, afirma que ainda não é possível qualificar essas perdas, sendo que os registros de mortandade nas regiões Caí e Taquari tem sido ‘insignificantes’.
A orientação aos agricultores é realização da oxigenação artificial e suspensão da alimentação (para reduzir a concentração de nutrientes na água). Sampaio afirma que é possível repor a água nos açudes usando fontes como rios e vertentes. Caso não seja e o nível atinja o crítico, o melhor é retirar os peixes maiores, deixando os pequenos e médios em desenvolvimento. “Haverá peixe, com pequena oscilação para menos em quantidade e tamanho”, confirmou.
O coordenador estadual do Setor de Piscicultura da Emater, extensionista Henrique Bartels, avalia que os prejuízos provocados pela seca na piscicultura são muito variados. “Além de depender da região, depende também muito do local e da qualidade da construção do viveiro”, avalia. O técnico aponta variáveis como, tipo de solo, compactação dos taludes, perdas de água por infiltração, área de captação de água e até a forma de condução realizada pelo produtor.
Pequenos registram prejuízos
Demenciano Padilha está entre os agricultores em Montenegro que tiveram morte de peixes. Na segunda semana de março ele foi obrigado a esvaziar o terceiro dos seus 10 açudes na propriedade do Assentamento, na Estrada Morro Montenegro. As Carpas foram transferidas para dois reservatórios que ainda têm bom nível d’água, sendo que nestes está a única produção com tamanho adequado para despesca imediata.
Ainda assim, seriam poucos peixes e com tamanho inferior aos oferecidos em outros anos. “A feira não vai ser aquilo que a gente esperava”, lamentou (antes do cancelamento). Padilha explica que o problema é acentuado em pequenas e médias propriedades como a dele, sendo que piscicultores com açudes maiores e melhor estrutura não têm perdas em mesmo percentual.
E o novo cenário criado com o cancelamento da Feira da Sexta-feira Santa deixou Padilha pessimista, pois agora são dois fatores para enfrentar. A previsão é de um Outono seco, se estendendo pelo mês de abril, e agora os açudes mais cheios também já começam a mostrar redução do nível. “Por este ano, acho que não vai dar pra gente mexer com peixe”, avalia, ao ressaltar a importância de respeitar o resguardo diante do Covid-19. Ele projeta despesca e feiras a partir de novembro ou apenas em 2021.
Mas nesta semana a situação se agravou na propriedade do Assentamento. Demenciano espera uma chuva substancial para esta quinta-feira, dia 2 de abril; caso contrario na sexta-feira, dia 03, terá que esvaziar mais um açude onde, na manha de terça-feira, apareceram mais peixes boiando na superfície.
Ministra dá sinal de socorro aos gaúchos na estiagem
Na tarde da última segunda-feira, dia 30, o presidente da Fetag-RS, Carlos Joel da Silva, recebeu ligação da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, revelando as intensões de ajudar os gaúchos. Ela questionou quais eram os pontos mais urgentes dentre todas as pautas que foram entregues pelas demais entidades do setor.
Silva informou que tudo o que foi passado é absolutamente indispensável e que é preciso agilidade para socorrer o produtor rural.
Ele deu especial destaque ao programa bolsa estiagem, o financiamento para capital de giro de R$30 mil e a renegociação dos financiamentos bancários. “A ministra se comprometeu a anunciar medidas nos próximos dias, pois está construindo acordos com o Ministério da Economia”, apontou o presidente.
Entenda a triangulação seca x calor x criação
– Um período de seca, geralmente, é acompanhado por dias muito quentes;
– Isso aumenta a temperatura da água, o que influi no consumo de alimentos e no crescimento dos peixes;
– Aumenta ainda a evaporação e diminui o nível da água se não houver uma boa fonte de abastecimento;
– Viveiros com nível mais baixo aumentam a concentração de nutrientes, que aumenta o crescimento das algas que provocam a falta de oxigênio.
Poderá ser necessário caminhão-pipa
A escassez de água também é sentida no setor de criação de gado, seja leiteiro ou de corte, assim como na de frangos. Segundo a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Montenegro, Maria Regina da Silveira, caso a estiagem se prolongue pelo mês de abril, será preciso que a Prefeitura empregue caminhão-pipa para abastecer reservatórios e açudes. “Tem muitas propriedades já sem água para o gado”, afirma, explicando que o nível é tão baixo que impede a captação.
Ao menos não há registro de morte de animais, como ocorre na piscicultura. A Emater também acompanha o problema, e o coordenador do Escritório, Everaldo Vinicius da Silva, comentou a respeito de uma agroindústria que já não consegue puxar água do poço particular. Mas de fato, a crise será mesmo nos pomares. “Já tem produtores que, possivelmente, terão perdas na produção de citros em virtude da estiagem”, confirmou. A Bergamota Caí deveria iniciar a colheita em abril, mas ainda apresenta frutas pequenas e em árvores secas.
Após receber inúmeras queixas de agricultores a respeito de falta de água e comida para o gado, ontem a vereadora Josi Paz entregou ofício ao prefeito Carlos Eduardo Müller, solicitando que as consequências da seca sejam incluídas no Comitê de Crise. “Sei que algumas ações estão sendo feitas para o meio rural, mas não é suficiente. Precisamos mais”, declara. Ela cobrou também a conclusão dos poços artesianos nas comunidades de Muda Boi, Bom Jardim e Faxinal, parados desde março de 2019. Em nota, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural respondeu que, “se continuar sem chuva existe a possibilidade de termos esta necessidade”.