Pesquisa aponta recorde de famílias endividadas

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) de 2022, divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), revelou que o ano passado terminou com 77,9% das famílias brasileiras endividadas. A marca é a mais alta da série histórica, iniciada em 2011, e representou um aumento de 7% em relação a 2021. O índice mais baixo registrado foi em 2018, quando 60,3% das famílias estavam com dívidas.
Já no Rio Grande do Sul, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores Gaúchos (Peic-RS) registrou 92,2% de famílias endividadas. Ao observar o percentual de contas em atraso, o indicador passou de 32,3% em dezembro de 2021 para 42,5% em dezembro do ano passado.

A Peic nacional anual indicou que, do total de endividados, 17,6% se consideraram muito endividados, a maior proporção da série histórica. A cada 10 famílias com renda mais baixa, duas comprometeram mais da metade da renda mensal para o pagamento das dívidas. Já entre aqueles com maiores salários, o índice cai pela metade, o que sugere que o superendividamento está concentrado entre os mais pobres. No Rio Grande do Sul, são 21,2% que se consideram muito endividados.

De acordo com a CNC, em média, durante 2022, o brasileiro gastou R$ 302,00 em dívidas a cada R$ 1 mil. No total, 70% das famílias comprometeram pelo menos 10% da renda com essa finalidade. Mais de 1/5 dos endividados tiveram de gastar, no mínimo, metade do salário para pagar dívidas. No cenário gaúcho, a Peic-RS apontou 83,4% das famílias comprometendo 10% ou mais da sua renda mensal com dívidas.

No cenário nacional, a principal forma de endividamento no ano passado foi o cartão de crédito – e também foi a mais alta em 10 anos. Se em 2012, 75,2% das dívidas eram no cartão, o ano passado terminou com 86,6%. No Rio Grande do Sul, 93,8% estão endividados por causa do cartão de crédito.
A economista responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, aponta um dado preocupante: o cenário econômico geral apertou o orçamento das famílias e despesas essenciais se transformaram em dívidas. “As pessoas com renda mais baixa estão usando o cartão de crédito para comprar alimentos e medicamentos, além de pagar contas de luz e telefone, por exemplo, para postergar o gasto para o mês seguinte ou mesmo parcelar esses valores”, afirma.

Como encarar o endividamento
Com o alto número de família com dívidas, é preciso ficar atento no que fazer para evitar o endividamento ou, ainda, saber como se organizar financeiramente para quitar as dívidas. Para isso, a coluna Seu Bolso conversou com a especialista de investimento da Unicred Região dos Vales, Luciana Loureiro Araujo.

Luciana Loureiro Araujo. FOTO: Arquivo pessoal

Como me organizar para quitar as dívidas?
Conforme Luciana, uma vez endividada, primeiro é necessário que a família faça um levantamento de todas as despesas para entender a origem da situação e, assim, estabelecer um plano orçamentário para quitar as dívidas. “Ou seja, fazer um planejamento familiar”, afirma.

Tendo o panorama real da situação financeira, o segundo passo é classificar as dívidas por ordem de prioridade de pagamento. Luciana também diz que uma boa opção é procurar instituições financeiras a fim de trocar juros altos por juro mais baixos. Segundo a especialista de investimento da Unicred Região dos Vales, sair do endividamento também exige conhecimento e acesso a conteúdos de educação financeira.

“Outra atitude que contribui é cortar gastos desnecessários, atentar para o consumo consciente e procurar economizar com as despesas fixas, evitando o desperdício”, reforça Luciana. Caso somente cortar gastos não seja suficiente, uma dica é buscar outras fontes de renda.
Por fim, a especialista de investimento enfatiza a importância da inclusão da família no assunto em busca de suporte e comprometimento dos familiares para que a situação possa ser regularizada.

Como evitar o endividamento?
Para aqueles que ainda conseguem fugir do endividamento, Luciana também traz dicas de como se manter assim. “O primeiro passo é fazer um planejamento financeiro familiar condizente com as receitas”, alerta. Segundo ela, a tecnologia pode ser uma aliada por meio do uso de aplicativos. A especialista de investimento da Unicred Região dos Vales enfatiza que a falta de planejamento financeiro é o grande responsável pelo alto endividamento das pessoas.
Para evitar afogado em dívidas é preciso fazer uma adequação financeira racional, estando atento ao consumo consciente, fugindo de armadilhas de consumo impulsivo e usando o cartão de crédito de forma consciente. Luciana enfatiza que o ideal é estabelecer percentuais para cada tipo de despesa e avaliar periodicamente as finanças pessoas. “É preciso, foco, mudança de costumes e pensamento no longo prazo”, diz.

Uma última e importante dica é a de criar o hábito de se poupar. Construir uma reserva estratégica para se precaver em situações inesperadas e pensar em construir patrimônio para se ter segurança e tranquilidade financeira no futuro são ótimas formas de evitar o endividamento.

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