Pescadores e banhistas desafiam proibições no Rio

Os usuários lamentam a diminuição de peixes e o descaso da população, que continua jogando seu lixo no local

Após análises laboratoriais, as águas do Rio Caí, na altura do Balneário Municipal Afonso Kunrath – o Baixio – foram declaradas impróprias para banho. A proibição de uso do espaço partiu do Ministério Público, no mês passado, após testes de balneabilidade realizados no local. Na última semana, a Vigilância em Saúde do município chegou a emitir um alerta para quem não respeitar os avisos. Os usuários correm o risco de contaminação e de desenvolver doenças como desinteria, hepatite A e febre tifóide.

SINALIZAÇÃO quanto à situação do Baixio foi instalada na última semana

Apesar dos alertas, muita gente se expõe ao perigo todos os dias. Esta semana, enquanto a reportagem estava no local, três jovens chegaram ao Cais para tomar banho. Eles pediram para não ser identificados por nome, mas um deles aceitou que fosse feito o registro fotográfico da prática. Em tempos de férias e de calor excessivo, o Rio Caí se mostra uma ótima alternativa de lazer e diversão. Os riscos para a saúde, no entanto, não compensam.

Para os pescadores Paulo Sérgio de Brito e Valdeci Gonçalves, o problema assusta. Ano após ano, eles vêem o número de peixes diminuir e a população demonstrar cada vez mais descaso com o Rio. Ambos pescam apenas para consumo e pelo prazer do esporte. Afirmam que, em Montenegro, a pesca como prática econômica não vai para frente justamente por causa da poluição. “Se o cara conseguir pegar para comer, ele já vai pra casa feliz”, afirma Valdeci.

Apesar dos riscos, os dois não têm medo de comer o peixe. “Matar, não mata. No máximo, dá um revertério”, avalia Paulo. “Se o peixe está vivo, ali, ele está saudável”, acrescenta. Em um dia de pesca, desde a madrugada até a tarde, ele pegou apenas dois pintados, número muito menor do que pescava no passado. “Esse é um rio doente. Se fosse sadio, estava cheio de gente aqui pescando. Investiram em parapeito ali para os pescadores, mas pouca gente usa. Não tem quase o que pescar”, lamenta Paulo.

APESAR do alerta sobre o uso do Rio, jovem aproveitou a tarde para se banhar

Os amigos afirmam que a situação se degradou muito por causa do lixo jogado na água. “O que desce de sacola e de litrão rio abaixo é demais”, comenta Valdeci. Ele conta que, há poucos dias, um conhecido “pescou” uma bicicleta jogada no rio. Sofás, fogões e geladeiras também já foram encontrados. “A gente joga a linha, tranca nessas coisas e arrebenta”. Os pescadores acreditam que sejam necessárias mais políticas públicas para freiar as agressões ao Rio e devolver-lhe a vida.

Para secretaria de Meio Ambiente, problema é o esgoto
De acordo com o secretário municipal de Meio Ambiente, Rafael de Almeida, uma das principais razões para a situação de poluição e contaminação do Rio Caí é a falta de tratamento adequado do esgoto. “O Rio Caí nasce na serra gaúcha e passa por diversos municípios que não possuem tratamento de esgoto. Por isso, fica vulnerável à contaminação”, explica.

Assim como 12% das cidades brasileiras, Montenegro utiliza o esgoto sanitário de solução individual, com fossa séptica. Esse método, apesar de não ser o ideal, é considerado aceitável pela Agência Nacional de Águas. A secretaria recomenda, no entanto, que a população verifique se a sua fossa possui um filtro anaeróbico – item que diminui os materiais poluidores lançados no Rio. Essa adequação é obrigatória por aqui para obras novas desde 2014.

Não adianta, porém, trabalhar somente no cuidado local, se a poluição dos outros municípios continuar seguindo o curso do rio e chegando até Montenegro. É por isso que a secretaria de Meio Ambiente participa ativamente dos comitês de gerenciamento das bacias dos rios Caí e Jacuí, onde são estudadas e discutidas alternativas e metas de enquadramentos para melhorar as questões que são foco de preocupação no geral. Nestes encontros, o tratamento do esgoto é pauta permanente.

Óleo dos barcos também preocupa
Paulo Sérgio conta que, certa ocasião em que saiu para pescar, flagrou o vazamento de óleo dos barcos de areia que operam no Rio. “Dava pra ver uma película de óleo em cima da água e os peixes fugindo lá para o outro lado”, revela. Ele lembra que já foi feito um abaixo-assinado para a remoção destas embarcações do local, mas nada aconteceu. Com isso, mais um problema para o ecossistema surgiu. “Os netos da gente não vão ter mais nem lambari pra pescar”, profetiza Paulo.

ETE deve sair do papel este ano
Vêm desde 2012 as promessas e tratativas para a instalação de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Corsan em Montenegro. Ao final do ano passado, uma boa notícia chegou para os montenegrinos, com o anúncio de que, com o investimento de R$ 65 milhões, o início das obras ocorrerá em julho. A ETE deve ser instalada em uma área de 33.885,44 metros quadrados na Rua Acácia Negra – bairro Tanac.

Em estudo divulgado recentemente, a Agência Nacional de Águas apontou que o tratamento de esgoto com essas estações é o procedimento ideal para diminuir e controlar a poluição das águas. Isso porque, com elas, cerca de 60% da parcela orgânica do esgoto poderia ser removida antes do lançamento do resíduo no rio.

De acordo com o secretário municipal de Meio Ambiente, Rafael de Almeida, a medida não acabará com o problema, mas o resolverá em grande parte.

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