Fortalecido. Plantio tem virada na produção e agora é hora dos viveiristas agirem
No início do ano, o setor de Acacicultura (Acácia Negra) se movimenta na produção das mudas. Os viveiros iniciam agora a colocação das sementes que serão replantadas nas propriedades entre o primeiro e o segundo semestres. E, novamente, a empresa Tanac é a grande fomentadora desta cultura que faz parte do lastro econômico de Montenegro e do Vale do Caí. Atualmente, ela conta com cerca de 40 viveiristas parceiros do Projeto Qualificar – Viveiros Florestais, que recebem gratuitamente sementes e assistência técnica. Eles têm ainda a probabilidade da venda das mudas à empresa montenegrina. Em 2019, os números foram de crescimento na Acacicultura, cenário que deverá, ao menos, se manter em 2020.
O forte do verão não é o ideal para fazer mudas, pois a planta não gosta de calorão. Todavia, a “janela” de cultivo restante fica curta, então os viveiristas não podem esperar. Apesar da fragilidade, o período tem a vantagem dela levar até 90 dias para estar apta ao plantio; enquanto, no inverno, este tempo dobra. As mudas deste primeiro trimestre vão para as propriedades a partir de junho (algumas já entre abril e maio), mas com o melhor período entre agosto e setembro.
O apoio sem custo ao viveirista é possível devido ao fato de a Tanac ser a principal, se não única, detentora das sementes de Acácia Negra no Estado. Ela conta com grande estoque proveniente da coleta feita em suas áreas próprias de florestas, que fornece apenas aos seus parceiros. A semente de Acácia, normalmente, não é encontrada disponível no comércio agrícola.
Na comunidade de Porto dos Pereira, a propriedade de Laércio Somacal sintetiza a importância alcançada por esta modalidade de agrofloresta. Em 2019, ele produziu 4 milhões de mudas, com média anual de 150 quilos de semente retirados na empresa. Sua projeção para 2020 é aumentar esta quantia para 300 quilos, com produção não menor que 6 milhões de mudas. Um trabalho realizado sob a tranquilidade da compra garantida pela Tanac ou seus fornecedores. “Antes (da parceria) tu produzia sem certeza se iria vender”, recorda.
Perdas iniciais não eliminam vantagens
O cultivo das mudas é um trabalho mais minucioso do que o plantio. Somacal observa que, neste processo, há uma perda natural de até 50%, iniciando na etapa de ‘quebra de dormência’. Como a semente está estocada na Tanac em estado natural, que não propícia germinação, ao chegar, precisa passar por uma fervura, quando até 10% delas podem não vingar.
Outras perdas ocorrem na germinação e no desenvolvimento da mudinha. O clima é outro fator de perda, o que explica o investimento em estufas e irrigação. “A Acácia não gosta do calor muito forte”, aponta o produtor Laércio Somacal. Todavia, o prejuízo climático é diluído ao longo do ano, pois em períodos mais amenos, como no Outono, a planta se solidifica.
Mas estas são características que não reduzem a vantagem da cultura. “Para mim, é um setor em que vale a pena investir”, defende Somacal. É uma certeza firmada após o Projeto Qualificar – atrelado ao Programa de Fomento Florestal – que lhe permitiu lhe dobrar seu negócio neste período. “Não tem nem comparação com antes (da parceria)”, decreta. Hoje o Viveiro Somacal emprega oito funcionários com Carteira assinada durante o ano todo.
Em março a Tanac realiza a edição 2020 do Seminário Qualificar aos parceiros. É um momento dos viveiristas aprenderem, mas também, como diz Somacal, compartilharem experiências.
Flores e frutas dão lugar à Acácia
Somacal aponta também a Assistência Técnica e o fomento das sementes como fatores que justificam o abandono das outras culturas para focar apenas na florestal (também produz Eucalipto em baixa escala). O produtor tem uma história de 51 anos na citricultura, iniciada na propriedade da família no município de Alto Feliz. Mas, quando mudou para Montenegro, optou pelas mudas de flores, agregando a produção florestal, com Acácia Negra, em 1990.
A parceria com a Tanac começou apenas em 1996, após um funcionário que passava pela ERS-124 perceber que seu viveiro era um dos poucos na região que não sucumbiu à geada daquele rigoroso inverno. Seu começo com semeadura de Acácia Negra não passava então de 30% de suas 500.000 mudas de árvores, que incluía pinheiros e citros. Hoje, faz 10 anos que abandou a floricultura e cinco que se despediu das mudas de frutas.
Somacal está no programa da Tanac para viveiristas desde a primeira edição, em 2003, sendo que, das 16, foi premiado em 15 por melhor qualidade. Uma liderança que se repete ano após ano. Num período de escassez de sementes, a Tanac costumava vendê-las, mas por um preço de custo. A doação iniciou há cerca de seis anos.
Fomento reverteu a história
O Programa de Fomento Florestal, ligado ao Projeto Qualificar-Viveiros, ambos da Tanac, encerrou 2019 com os louros de ter dado uma virada no cenário de plantio da Acacicultura. Segundo o gerente de Compra de Matéria-Prima da Tanac, Decionir Oliveira da Luz, foram totalizados 17,3 mil hectares (ha) com novas plantações (cultivo) no Estado. Isso representa cerca de 47 milhões de mudas colocadas na terra; um incremento de 80% em relação a 2018, superando a projeção, que era de 50%.
“Nos últimos 10 anos, o plantio oscilou na faixa de 9 a 10 mil ha novos ao ano”, revelou. E, assim, em 2019, o projeto de apoio aos agricultores superou a expectativa. “Este ano, consideramos que o plantio foi um pouco maior do que o consumo”, comenta Decionir, ao informar que algo como 15 mil ha são colhidos ao ano. O Vale do Caí, seus arredores e a Serra contribuíram com cerca de 2 mil novos ha, sendo 1.100 através do Fomento Florestal.
Das novas plantações no RS, perto de 4 mil ha foram viabilizadas pelo Programa; quase 6 mil são de florestas próprias ou de parceiros da Tanac; e o restante são de produtores que não participam do Fomento. O início do ano é o período de tratativas para adesões ao Programa que, em 2019, registrou mais acacicultores retornando do que novos ingressando. Elas podem ocorrer ao longo do ano, mas dependem da disponibilidade de mudas.
Para 2020, uma novidade é a parceria com o Banco Sicredi para financiamento de plantios na região. Por meio de contrato de garantia de compra da produção, a Tanac avaliza o financiamento do correntista. Os juros nesta modalidade deverão ser abaixo do mercado.