Estiagem. Produção de leite, gado de corte e piscicultura carregarão seqüelas
O governo de Montenegro deve decretar nesta sexta-feira, 10, emergência devido aos efeitos da estiagem na agropecuária. Uma situação que também acende o alerta à população urbana no que tange o consumo de água. Assim que o prefeito Gustavo Zanatta assinar, será enviado para avaliação do Estado. A decisão foi tomada terça-feira, dia 7, em reunião do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural (Comder). A Defesa Civil subsidiou o Decreto, alicerçado em relatório do Escritório da Emater-RS.
Conforme o extensionista rural Valmir Michels, a conclusão é de uma restrição hídrica acentuada, com apenas 66 milímetros (mm) de chuva entre 22 de novembro e 20 de janeiro (medido no escritório no Centro). As precipitações pluviométricas não foram parelhas, assim localidades como Fortaleza, Pesqueiro, Vendinha e Calafate têm situação mais severa em relação a outras regiões.
O relatório aponta que a maior perda foi na cultura de grãos e forragem, com quebra de 55% no milho grão e 45% na silagem para inverno. “O que implica também na produção de leite e de bovinos para corte”, destaca. Na pecuária a avaliação é mais longa, apresentando assim 15% de perda na criação de bovino de corte e 20% na produção de leite, no período de um ano.
O segundo setor mais fortemente afetado pela seca é da criação de peixes. Michels revela a constatação de queda na ordem de 30% no tamanho dos peixes, que com o baixo nível dos açudes tiveram menos oxigênio e alimentação. Ainda mais preocupante na piscicultura é o próximo ciclo de criação, pois os produtores não puderam realizar o ciclo de povoação com alevinos.
Cidadão Urbano é privilegiado
Um dos quesitos para Decreto é haver, ao menos, uma família do campo precisando receber água para consumo humano. Segundo a diretora de Desenvolvimento Rural, Pâmela Menezes Flores, hoje são 10 famílias nesta situação. O auxílio com caminhão-pipa para dessedentação animal ocorre há mais tempo. Também no Morro do Barreto, parte alta do Faxinal, os lençóis freáticos não são mais alcançados pelas bombas domésticas e as casas são abastecidas pela Prefeitura.
Em relação à Zona Urbana, a Corsan confirma que ainda não há risco claro de desabastecimento. “Para Montenegro, o nível do Rio Caí se mantém”, ressaltou o engenheiro Ângelo Marcelo Faro. Ele explica o critério geográfico que beneficia o município, onde o curso d’água está nivelado com as Bacias Jacuí e Guaíba, além da Lagoa dos Patos.
Em períodos em que o movimento das marés represa o fluxo, o nível no trecho sobe. Mas pode haver situações climáticas adversas, como em 24 de dezembro, quando o Caí desceu 50 centímetros. “Neste dia tivemos alguma dificuldade”, disse.
Açudes estão baixos desde o Inverno
Ao menos na Citricultura, base da agricultura no Município, os efeitos serão menos impactantes. O relatório da Emater aponta perda de até 20% nas variedades precoces, como Japonesa, Caí, Pareci e Ponka. Mas, segundo o extensionista, no cômputo geral da cultura esse índice terá pouco impacto, pois a maior representatividade é da variedade Montenegrina, que é tardia.
A olericultura (verduras e legumes) teve perdas, mas cenário não é tão devastador. Como tem ciclos produtivos mais curtos, a recuperação será rápida quando retornar o período de chuvas. De acordo com Michels, muitos agricultores trabalham com ambiente protegido, com controle de umidade e sombra. “No entanto, salientamos que teve uma redução drástica na reserva de água”.
Essa colocação encaminha à definição da Emater Montenegro, de que a maior problemática é o agravamento das estiagens dos anos anteriores. Também o Inverno 2022 foi de chuvas abaixo da média, impedindo que os açudes enchessem, especialmente os cavados no segundo semestre.